Elon Musk promete “táxis-robô” em 2020, mercado encolhe os ombros

Na visão do presidente da Tesla, os automóveis autónomos poderão juntar-se a uma plataforma semelhante à Uber, que agregará carros da empresa e de particulares.

Foto
Elon Musk quer concorrer com a Uber Reuters/Aly Song

O presidente executivo da Tesla, Elon Musk, afirmou que a empresa terá “táxis-robô” prontos até ao final do próximo ano, abrindo caminho para uma plataforma semelhante à Uber, mas sem condutor, que dará aos proprietários dos automóveis da marca a possibilidade de se ligarem à aplicação e terem uma fonte adicional de rendimento quando não estiverem a usar os carros.

Vindo de uma empresa com altos e baixos e de um empresário dado a excentricidades, o cenário gerou cepticismo.

As declarações foram feitas na segunda-feira, durante uma sessão para analistas de mercado e investidores, poucos dias antes da apresentação de resultados da Tesla, que está agendada para esta quarta-feira.

“Sinto-me muito confiante a prever táxis-robô autónomos na Tesla para o próximo ano”, afirmou Musk, descrevendo o modelo de funcionamento de uma futura plataforma de mobilidade da empresa como “uma combinação dos modelos da Uber e do Airbnb”.

Os donos dos Tesla poderão juntar-se à plataforma sempre que quiserem e também poderão decidir partilhar o carro apenas com pessoas conhecidas (ou com contactos das redes sociais). Por sua vez, os utilizadores poderão usar uma aplicação para chamar o carro, que irá até eles graças à funcionalidade de condução autónoma.

Para além dos carros particulares, a Tesla – que ficará com uma percentagem da receita das viagens – também terá carros da própria empresa na plataforma.

“A mensagem fundamental que os consumidores devem levar hoje é que é uma maluquice do ponto de vista financeiro comprar algo que não um Tesla. Dentro de três anos, [ter outro carro] vai ser como ter um cavalo”, acrescentou o executivo.

Porém, as previsões de Musk foram acolhidas com desconfiança – tanto na imprensa, onde jornalistas e analistas expressaram dúvidas, como na bolsa, onde as acções da empresa desvalorizaram.

“Elon Musk, o presidente executivo da Tesla, fez várias previsões arrojadas. Nem sempre se tornaram verdade”, começava um artigo no jornal The New York Times, que citava um analista da Gartner: “A ideia de que se pode ter um veículo a tomar decisões complexas para uma condução inteiramente autónoma simplesmente não é plausível neste momento.”

Já a agência Bloomberg notou que “mesmo para Musk, 47 anos, que nunca fugiu de previsões audazes”, o cenário de uma frota autónoma de Teslas já em 2020 “é de uma ambição enorme”.

Para além das questões técnicas, a chegada às estradas de carros inteiramente sem condutor implica uma série de alterações legais (um desafio admitido por Musk), que vão ter de lidar com questões relacionadas com o comportamento dos veículos e a responsabilização em caso de acidente, um processo cuja resolução não será rápida e que está a acontecer a diferentes velocidades em vários países.

Os investidores também não reagiram bem aos anúncios de Musk, aos quais se somou a notícia recente de que, na China, um Tesla entrou em combustão quando estava estacionado (é, pelo menos, o segundo incidente do género). Na segunda-feira, as acções fecharam a sessão a cair perto de 4%.

No evento de segunda-feira, a marca comunicou também que desenvolveu o seu próprio computador para carros autónomos (a unidade de computação, escondida dos utilizadores, que analisa dados e controla as funções do carro), deixando de usar os chips da conhecida fabricante Nvidia.

Mais uma vez, Musk não foi contido ao dar a novidade: “À partida, parece improvável – como pode ser que a Tesla, que nunca antes desenhou um chip, tenha desenhado o melhor chip do mundo? Mas foi objectivamente isso o que aconteceu. Não por uma pequena margem, mas por uma grande margem. Está neste momento nos carros.”

De acordo com a Tesla, todos os carros que estão a ser fabricados já têm o equipamento necessário para uma condução inteiramente autónoma, o que inclui câmaras, sensores e radares. O software que permite usar estes equipamentos pode ser carregado e actualizado após a venda.

Os planos de futuro traçados por Musk chegam em vésperas de a empresa comunicar os resultados financeiros do primeiro trimestre. Neste mês, a Tesla adiantou ter entregue cerca de 63 mil automóveis a clientes, entre Janeiro e Março. O volume equivale a um aumento de 110% face ao mesmo trimestre de 2017, mas representa um recuo de 31% em relação aos três meses anteriores.

Sugerir correcção
Comentar