Chuva não trava grevistas junto à refinaria de Matosinhos

Sem fim à vista, a greve dos motoristas de matérias perigosas continua. Os serviços mínimos decretados pelo Governo são olhados com desdém pelos grevistas.

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À porta da refinaria da Petrogal em Matosinhos, motoristas de matérias perigosas prosseguem a greve convocada pelo seu sindicato, que se iniciou às 00h desta segunda-feira. Acompanhados pela PSP e GNR para controlar a situação, e vestidos com coletes amarelos, os trabalhadores reunidos debaixo de capuzes e guarda-chuvas reivindicam os direitos que consideram “mais que justos”.

“Não andamos a conduzir um carrinho de mão. Conduzimos uma bomba atrás de nós”, diz Joaquim Xavier, um dos motoristas a participar na greve, justificando assim a exigência do reconhecimento da especificidade da carreira. O motorista de 45 anos veio marcar presença no protesto guiado por três razões – “pelas condições salariais, pelas horas de trabalho e pela dignidade”. Para Joaquim, o local onde os homens de colete se manifestam não podia ter sido melhor escolhido. “Se entrassem ali dentro viam, aquilo está tudo podre”, diz sobre as condições precárias da Petrogal, denunciando a insalubridade das instalações e a falta de intercomunicadores.

Luís Cunha, de 34 anos, está no piquete de greve desde a meia-noite de segunda-feira, com excepção para breves ausências em que visita a família. “A família ao início estava um pouco reticente porque nunca pensou que iríamos ter tanta adesão. Mas, após a adesão que temos tido, a família apoia-me a 100%”. É motorista de substâncias perigosas há seis anos e vê a decisão do Governo de garantir abastecimento de 40% do valor de referência para um dia normal como “irrisória”. “É vergonhoso tentarem-nos garantir 40% do grande Porto e da grande Lisboa”, diz.

Para controlar a situação, o Governo estabeleceu o abastecimento de serviços mínimos como aeroportos. Mas a decisão não foi recebida de braços abertos pelos motoristas, graças à indefinição do que é concretamente um serviço mínimo. Os “traidores”, como a multidão chama aos motoristas que não participam na greve, chegam e partem da refinaria em Matosinhos com o aviso de “Serviço Mínimo” na frente da viatura. São rostos conhecidos atrás do volante, recebidos com assobios e gritos de “gatuno”, “palhaço” e “lambe-botas”.

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O “elástico” “rebentou"

Luís Rodrigues foi convocado para realizar um serviço mínimo, mas um problema técnico levou-o a estacionar o camião à entrada da refinaria. Tem 49 anos, mas os 23 anos de serviço enquanto motorista de matérias perigosas são suficientes para compreender a situação dos colegas. “Nunca ninguém pensou que isto ia dar nesta situação. Com tantos anos e cada vez mais exigências foi quase como esticar o elástico e ele rebentou agora. Chegou ao ponto de dizer: basta!”.

Um dos camiões em serviço mínimo é travado pelos grevistas à saída da refinaria. A indignação da multidão atinge um nível ainda maior quando descobrem o que carrega – supostamente, uma carga para uma fábrica de açúcar. “Ele entrou sem se saber o que ele ia carregar”, exclama Manuel Mendes, delegado na região Norte do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas. “O sindicato disse que esse serviço não é mínimo. Então, não sai!”.

Mas as pressões a que estes motoristas estão sujeitos não se ficam pelos colegas de profissão que os olham com desdém. Vários motoristas de substâncias perigosas receberam telefonemas intimidatórios de patrões. Ameaças de despedimento são suficientes para alguns cederem, enquanto outros são acusados de estarem a cometer um crime.

A grande adesão dos motoristas de matérias perigosas continua na greve que iniciou esta segunda-feira e cujo fim ainda não foi anunciado.

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