A sexualidade durante a gravidez e no pós-parto

De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período.

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Andrea Bertozzini/Unsplash

Durante a preparação para a chegada de um novo bebé à família, são vários os desafios com que os casais frequentemente têm de lidar. Tanto para a grávida como para o/a parceiro/a que com ela partilha esta nova fase, a transição para a parentalidade envolve a adaptação dos casais a um novo contexto de vida que implica mudanças físicas, psicológicas, mas também relacionais. Entre os vários desafios que os futuros pais e mães enfrentam, alguns podem relacionar-se com a sua vida sexual.

Como muda a vida sexual dos casais durante a gravidez?
A maior parte dos casais experiencia mudanças na sua sexualidade durante a gravidez, especialmente ao nível da frequência com que se envolve em atividade sexual e dos seus níveis de desejo e satisfação sexuais. Existe, contudo, alguma variabilidade na forma como estas mudanças são vivenciadas de casal para casal. Embora 10 a 20% das mulheres relatem experienciar um aumento do desejo, frequência e satisfação sexuais durante a gravidez, esta experiência está longe de ser universal. A experiência sexual da maioria dos casais que atravessam o período de gravidez pode ser bastante diferente, e bem mais desafiante. Num estudo recente com mulheres que estavam grávidas do seu primeiro filho, cerca de metade declarou ter pelo menos um medo ou preocupação sobre a sua vida sexual durante a gravidez que a levou a evitar ter atividade sexual durante a gestação (tal como sangrar, ter uma infeção, ou provocar danos ao feto), sendo estas preocupações muitas vezes desajustadas, nomeadamente no contexto de gestações de baixo-risco. Estas preocupações são frequentemente partilhadas pelos próprios parceiros/as, através de crenças sexuais (isto é, ideias gerais sobre a sexualidade que frequentemente guiam o seu comportamento) que consideram a penetração vaginal durante a gravidez como um comportamento de risco para eventos obstétricos adversos tais como indução do trabalho de parto prematuro ou provocação de aborto, especialmente quando o sexo ocorre no terceiro trimestre. De facto, esta crença é apresentada pelos casais como uma preocupação particularmente comum durante a gravidez. No entanto, a prevalência de eventos obstétricos adversos devido ao coito vaginal é baixa, sugerindo que, para a maioria dos casais, estas preocupações são infundadas. Para estes casais, a incompreensão, aliada a alguma ansiedade, acerca de quais as práticas sexuais seguras durante a gravidez poderão ser fatores importantes para a redução do seu bem-estar sexual durante este período. De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período. Os prestadores de cuidados de saúde têm a oportunidade única de clarificar o carácter normativo e transitório destas experiências, permitindo aos casais discutir formas de vivenciar a sua sexualidade de maneira mais satisfatória durante a gravidez.

E no pós-parto?
Com a chegada de um novo bebé à família, os casais têm agora de lidar com um leque de fatores adicionais, desde o aumento da fadiga, a recuperação física da mãe no pós-parto, a mudança de papéis e responsabilidades (incluindo a divisão do cuidado do bebé) e menos tempo sozinhos enquanto casal. Caso a mãe esteja a amamentar, isto poderá adicionalmente contribuir para a redução da excitação sexual da mãe e para uma maior probabilidade de ela experienciar dor durante as relações sexuais nos primeiros meses após o parto. Tudo isto poderá desempenhar um papel no bem-estar sexual dos casais, que tipicamente se mantém diminuído até um ano após o parto. No decurso deste primeiro ano, o funcionamento sexual – que inclui dimensões como desejo, excitação, orgasmo, e dor – tende a aumentar novamente, mas aos 12 meses pós-parto continua a ser, em média, mais baixo do que os níveis anteriores à gravidez. De facto, mais de 90% dos recém-pais relata ter voltado a ter relações sexuais aos três meses pós-parto, mas cerca de 50% dos pais e 35% das mães diz ainda se sentirem sexualmente insatisfeitos seis meses pós-parto.

Como vivenciar uma sexualidade mais satisfatória durante este período?
A investigação tem demonstrado que 90% das mães e pais reportam bastantes preocupações sexuais durante o período de pós-parto, muitas das quais são similares entre os membros do casal. Entre as mais frequentes estão a preocupação com a redução da frequência de atividade sexual, com o impacto que a recuperação física da mãe poderá ter, ou com possíveis diferenças no desejo sexual entre o casal.

Aquilo que é considerado como uma vida sexual “típica” ou “saudável” varia de casal para casal e, por isso, o fundamental é perceber se um ou ambos os parceiros se sentem angustiados, preocupados, ou incomodados com aquilo que perceciona como mudanças negativas na sua vida sexual. Para alguns casais, manter uma vida sexual permite-lhes sentirem-se conectados enquanto casal, separadamente do seu papel de pais. Para outros, isso pode ter menos importância devido à sua dedicação ao seu novo papel parental. E, para outros casais, ter atividade sexual pode até estar totalmente fora dos seus planos por um tempo, devido à recuperação física da mãe no pós-parto. Por isso, a melhor forma de navegar esta transição é ser flexível e conversar com o/a seu parceiro/a sobre como se ajustarem para que ambos se sintam satisfeitos.

Caso esteja no início da sua primeira gravidez e queira contribuir para a compreensão do bem-estar sexual dos casais durante a gravidez e no pós-parto, poderá participar num estudo a ser desenvolvido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em colaboração com o Centro Materno-Infantil do Norte, que proporcionará um acompanhamento aos casais no decurso da sua primeira gravidez e pós-parto. Contacte-nos através de estudocasais@fpce.up.pt ou pelo telefone 220 428 908.

Inês Tavares

Membro do Grupo de Investigação em Sexualidade Humana (SexLab)

Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP)

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