Dêem um ano ao Reino Unido, se faz favor

Não há condições para uma saída num curto espaço de tempo. União Europeia e Reino Unido vão ter de adiar o divórcio por um bom motivo: as partilhas.

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A proposta de Donald Tusk para estender o “Brexit” por um ano é a que pode permitir “dar um tempo” que se veja para que os exaustos britânicos e os exaustos europeus consigam uma janela de oportunidade suficientemente segura para que não optem, num impulso absurdo, por se atirar dela abaixo.

A Alemanha concorda em dar ao Reino Unido um prazo extenso, enquanto Macron — como tem sido seu hábito — quer tratar os britânicos com pouca complacência.

Mas Tusk, o presidente do Conselho Europeu, tem razão: um período mais curto do que um ano arrisca-se a ser uma repetição do que se tem passado até aqui. E 365 dias também davam para fazer outro referendo, como está a ser defendido por muitos sectores da sociedade inglesa, e do Partido Trabalhista, embora ninguém garanta que o resultado fosse outro.

No draft que foi redigido para a reunião de hoje — divulgado ontem pelo site Politico —, o período da extensão ainda não está fixado, mas o espírito do papel aponta para um prazo razoavelmente longo, o que obrigaria o Reino Unido a participar nas eleições europeias.

É verdade que o Governo de May já deu ordem aos serviços públicos para porem em marcha o processo de eleição de deputados ao Parlamento Europeu. E a campanha eleitoral que já não era esperada no Reino vai inevitavelmente decorrer. Mas se muitas cenas do “Brexit” parecem retiradas de episódios da Little Britain, esta campanha para deputados que — tal como os que ainda ocupam os seus lugares em Estrasburgo — terão um “job description” quase nulo vai ser no mínimo burlesca.

Jacob Rees-Mogg, o eurocéptico apoiante de Boris Johnson, já avisou que os britânicos serão “os piores membros possíveis da União Europeia” se o “Brexit” for adiado por um tempo longo. A campanha ameaça ser o prolongamento de uma telenovela que já está a deprimir a classe política e a sociedade britânicas, mas talvez seja o mal menor.

Não há condições para uma saída num curto espaço de tempo. União Europeia e Reino Unido vão ter de adiar o divórcio por um bom motivo: as partilhas. E num tempo em que os sinais de desaceleração da economia mundial são grandes, como ontem notava o relatório do FMI, as partilhas têm um significado mais profundo do que num divórcio entre duas instituições não dependentes.

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