Em vez de alvenaria, são eco-casas. E 50 já foram entregues no Bairro da Boavista

Estão entregues as primeiras 50 casas das 800 que a câmara de Lisboa quer entregar aos seus munícipes. Primeira fase do realojamento do Bairro da Boavista está concluída, mas falta ainda mais quatro fases para que 510 casas de alvenaria do bairro dêem lugar a 500 novas habitações.

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José Machado Ramos recebeu uma das 50 casas atribuídas pela autarquia Miguel Manso

José Machado Ramos, 83 anos, saiu de Moura, no baixo Alentejo, e chegou à capital à procura de uma vida melhor. Morou na Quinta das Conchas com mais três colegas, mas os prédios onde viviam foram deitados abaixo, ditando assim que grande parte da sua vida fosse passada no Bairro da Boavista, em Lisboa. Estávamos em 1972, e o que havia era casas de alvenaria que com o tempo se deterioraram. A humidade foi aumentando, as escadas tornaram-se um obstáculo, conta José enquanto recebe as chaves da nova casa que tem no Bairro da Boavista.

A nova casa de José é uma das 50 que a autarquia entregou esta segunda-feira a moradores deste bairro de Benfica. Para já, foram realojadas 130 pessoas nesta primeira fase de realojamento, que envolveu um investimento de cerca de cinco milhões de euros, disse o presidente da câmara, Fernando Medina. No entanto, esta é apenas o primeiro passo de um processo que prevê o realojamento dos moradores de 510 casas de alvenaria do bairro, dando lugar a quase 500 novas habitações, de tipologias T1 a T4. 

As obras para o realojamento dos habitantes do bairro da Boavista foram lançadas em Setembro de 2016. Para erguer estas habitações, agora entregues, foram demolidas 70 casas de alvenaria. Seguir-se-ão mais quatro fases de demolição das antigas e construção destas eco-casas. No meio deste processo, a Escola Básica Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles (Escola Básica nº 125) será também ampliada. 

No final do processo, deverá haver quase 500 novas casas, mas não há ainda previsão para que tal aconteça. É preciso ter em conta, nota a vereadora da Habitação, Paula Marques, que o processo de realojamento é complexo e por isso demorado, porque é preciso retirar as pessoas das suas casas, realojá-las temporariamente noutro local, e depois atribuir-lhes as novas. 

Laura Campos Vaz, 71 anos, vive no bairro há quase 45 anos. Ocupou uma casa logo depois do 25 de Abril, quando a autarquia tinha acabado de construir umas quantas, deixando para trás a barraca em que vivia. Quando começou a ouvir que a iam realojar foi espreitar, entre a desconfiança e a curiosidade, as casas do Bairro Padre Cruz que estavam a ser erguidas. Agora, de chaves na mão, muda-se com o marido e a filha para esta casa nova. “Estou muito contente”, diz.

Este novo projecto de arquitectura segue precisamente o que já fora implementado no Bairro Padre Cruz e que será no novo Bairro da Cruz Vermelha, onde as obras arrancaram em Outubro. São “casas que crescem com a família”, explicou Paula Marques, porque sem serem necessárias alterações estruturais, é possível criar um novo quarto — para mais um filho ou um cuidador —, colocando uma divisória na sala. Estes fogos são também sustentáveis, uma vez que a energia solar é aproveitada, assim como as águas da chuva que podem ser utilizadas para regar os pequenos quintais que existem em cada casa. 

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Miguel Manso

Em Junho, terminará também a construção de mais 46 novas habitações no bairro — estas em prédios —, mas que terão as mesmas características das que foram agora entregues. 

“A habitação social não pode ser uma habitação de segunda qualidade, tem que ser uma habitação de primeira qualidade, com os melhores materiais, com as melhores soluções arquitectónicas, amigas do ambiente, adaptadas ao ciclo de vida, isto é, com menos obstáculos”, defendeu Fernando Medina.

200 milhões em habitação 

Fernando Medina aproveitou a ocasião para sublinhar que este ano serão entregues cerca de 800 casas municipais. “Serão quase 3000 pessoas que terão direito à habitação na cidade de Lisboa”, disse o autarca. Neste momento, frisou, o município tem em curso um investimento em política de habitação de cerca de 200 milhões de euros. Para este ano, adiantou ainda, foram atribuídas já 330 casas de renda apoiada para “as famílias com mais necessidades”. 

O próximo passo nesta nova geração de políticas de habitação que a autarquia quer implementar é a apresentação do novo regulamento de acesso à habitação municipal, que vai juntar os diversos programas em curso na Câmara de Lisboa e que deverá ser apresentado nos próximos dias. Na quinta-feira, será também adjudicado o contrato de obras do primeiro conjunto de habitações acessíveis em edifícios cedidos pela Segurança Social no centro da cidade, o da Avenida da República, 102, e será lançado o concurso para a quinta operação, na Avenida dos Estados Unidos.

No início da cerimónia de atribuição das casas foi feita uma homenagem a Helena Roseta, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa — e que já foi vereadora da habitação na Câmara de Lisboa —, com a inscrição num muro de uma frase que a sua avó, como a própria confessou, lhe dizia muitas vezes: “Quem não sonha alto, não levanta voo”. 

Helena Roseta suspendeu o seu mandato na assembleia municipal e está, neste momento, a trabalhar no Parlamento na definição de uma Lei de Bases da Habitação – “uma coisa que não existe em Portugal e nunca existiu desde o 25 de Abril”. “E se calhar é por isso que estamos tão mal em termos de habitação”, notou Roseta, reconhecendo que o que hoje estes moradores alcançaram se deve, em grande parte, às reivindicações que sempre fizeram junto da autarquia. Por isso, perante moradores do Bairro da Boavista, escolheu deixar-lhes uma mensagem: “Não deixem de lutar!”. 

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