Missão japonesa explode parte de asteróide para criar uma cratera de amostras “intactas”

Com esta explosão, a sonda conseguirá recolher amostras que não tenham sido sujeitas a erosão espacial, úteis para estudar a formação do Sistema Solar e as condições que permitiram o aparecimento de vida na Terra. As amostras só chegarão no final de 2020.

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Ilustração científica do asteróide e da sonda japonesa AKIHIRO IKESHITA/JAXA

A Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) anunciou nesta sexta-feira que explodiu parte da superfície do asteróide Ryugu, que está a 300 milhões de quilómetros da Terra, com o objectivo de criar uma cratera artificial e, a partir daí, recolher amostras que possam ser úteis no estudo da origem do Sistema Solar (e também para entender melhor a formação da própria Terra).

O sistema de detonação utilizado, chamado SCI (Small Carry-on Impactor, em inglês), é um aparelho cónico com 14 quilogramas que estava anexado à sonda principal. Na noite de quinta-feira, esse mecanismo separou-se da sonda Hayabusa 2 (que partiu da Terra em 2014 e começou a orbitar o asteróide em Junho de 2018) e ficou a cerca de 500 metros de altitude da superfície do asteróide, lançando um projéctil de cobre que deverá ter criado um buraco de dez metros de diâmetro.

“A bala de metal atingiu a superfície do asteróide Ryugu e houve uma explosão de matéria”, confirmou o professor de astrofísica e um dos responsáveis pela sonda na JAXA, Yuichi Tsuda. “Foi um sucesso. É a primeira experiência do género”, disse à agência de notícias japonesa Kyodo.

Enquanto isto acontecia, a sonda movimentou-se para se esconder do outro lado do asteróide, para não ser atingida pelos detritos da explosão – uma “operação de evacuação que decorreu sem problemas”, confirma a JAXA. Se tudo tiver corrido como planeado, o momento da explosão terá sido registado por uma câmara (chamada DCAM3) que ficou a um quilómetro de distância do asteróide depois de ter sido expelida da sonda.

A agência espacial só conseguirá confirmar no final de Abril se a cratera foi criada e só depois, em Maio, é que a missão deverá regressar ao asteróide com robôs para recolher as amostras. Pensa-se que o asteróide rochoso, que tem pouco menos de um quilómetro de diâmetro e é considerado “primitivo”, contenha matéria orgânica e água com vestígios dos primórdios do Sistema Solar. Esta cratera artificial também ajudará os cientistas a perceber a forma como asteróides do mesmo tipo reagem a colisões com outros objectos. O Ryugu, descoberto em 1999, é um asteróide do tipo C – rico em carbono – e estima-se que três quartos dos asteróides existentes no Sistema Solar se integrem nesta categoria.

Esta intenção de detonar explosivos para recolher material que não tenha estado sujeito a erosão espacial já tinha sido anunciada na altura em que a missão japonesa chegou ao asteróide. Ainda que a Agência Espacial Europeia (ESA) tenha conseguido em 2014 aterrar a sonda File no cometa gelado 67P/Churiumov-Gerasimenko, a missão japonesa corresponde à primeira vez que um robô de exploração espacial aterrou na superfície de um asteróide. A formação tanto dos cometas como dos asteróides remonta ao início dos sistemas solares, mas os dois corpos diferem em termos de composição: os asteróides são rochosos e os cometas tendem a ser gasosos, formados sobretudo por gelo.

A sonda Hayabusa 2 saiu da Terra em direcção ao asteróide em Dezembro de 2014 e passou a orbitá-lo em Junho de 2018, tendo desde então enviado pequenos robôs para recolher amostras na superfície, que só deverão chegar à Terra para análise no final do próximo ano. Já a primeira sonda Hayabusa – que significa “falcão” na língua japonesa – foi lançada para o espaço em 2003 com o objectivo de recolher amostras do asteróide Itokawa, para serem posteriormente analisadas em Terra. Apesar das dificuldades ao longo dos dois mil milhões de quilómetros de missão (com problemas no sistema de propulsão, por exemplo), a sonda conseguiu regressar à Terra em 2010 com pequenas amostras do asteróide Itokawa, onde chegara em 2005.

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