Incêndios de Março foram influenciados por anticiclones

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera fez um balanço da influência meteorológica na propagação dos incêndios rurais do último mês.

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Rui Gaudêncio

O aumento da área ardida e do número de incêndios em Portugal durante o mês de Março foi influenciado por um fenómeno anticiclónico que atingiu a Europa Ocidental e da costa atlântica, revela um balanço do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgado esta terça-feira.

Na avaliação feita ao número de incêndios rurais no país, o instituto explica que a predominância anticiclónica – que se traduz na descida do ar, que se torna quente e estável, impedindo a formação de nuvens e precipitação – criou um défice hídrico. O fenómeno provocou a ausência de precipitação e baixou os níveis de humidade. Por sua vez, a conjugação destes factores favoreceu, “por si só, uma propagação rápida dos incêndios rurais”, avaliam os especialistas.

“No mês de Março, com excepção do período entre 5 a 7, não se registaram quantidades significativas de precipitação”, assinala o instituto. Ao mesmo tempo, “registaram-se valores muito baixos de humidade relativa, em especial a partir do dia 15”, sublinha o documento. 

A situação agravou-se nos últimos dias do mês, com níveis de humidade muito inferiores à média registada no mês de Março de anos anteriores, não ultrapassando “os 15%, em quase todo o território, incluindo as regiões do litoral Norte e Centro”. À falta de humidade, aliou-se ainda a intensificação do vento de leste.

Além de facilitar a propagação das chamas, as condições climáticas criaram “uma secura rápida dos combustíveis finos que se encontram na camada superficial do solo”, situações detectadas “nos valores dos índices de humidade dos combustíveis finos e do índice de propagação inicial do fogo”. As regiões mais afectadas foram a Norte do país, no Minho e no distrito de Bragança.

O índice meteorológico de perigo de incêndio florestal esteve especialmente intenso na terceira semana de Março, entre os dias 25 e 29.

Por essa data, o país esteve em situação de alerta, depois de a 26 de Março terem sido registadas 41 ocorrências de incêndio rural. Um dos fogos, em Oliveira de Azeméis, implicou a mobilização de mais de 400 bombeiros, detalhou a Autoridade Nacional de Protecção Civil.

“A excepcionalidade dos valores para esta altura do ano é evidenciada pelo valor para o dia 27 de Março, onde os valores mais elevados se encontram nas regiões do Minho, Douro Litoral, Litoral Centro (onde foram registadas o maior número de ocorrências de incêndios nos últimos dias de Março) e no Algarve”, refere o balanço do IPMA.

No total, desde o início do ano até ao final de Março foram registados pelo menos 3764 hectares de área ardida em Portugal. Durante o mesmo período, foram contabilizados 2173 incêndios rurais. Contas feitas, de acordo com os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, houve mais 408 incêndios do que em período homólogo do último ano. Mas, apesar do aumento da área ardida e do número de fogos, o fenómeno não foi atípico e é até inferior à média anual dos últimos dez anos.

Os invernos de 2012 e 2005 foram os dois anos mais secos desde 1931 e, no mês de Março. O ano de 2012 foi também, juntamente com 2009, um dos anos em que se registaram os valores mais baixos de precipitação deste século. Este foi o 4.º inverno mais seco dos últimos 18 anos. No entanto, os próximos dias desenham um cenário diferente: as previsões apontam para o regresso das baixas temperaturas e chuva para todo o território continental.

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