Deixa cair o véu e vem conhecer o verdadeiro Irão

A leitora Ana Torres partilha a sua experiência na antiga Pérsia.

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Ana Torres
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Até onde irias para ajudar um estranho? Antes de responderes, deixa-me contar-te uma história. Aconteceu com uma amiga que, ao aterrar em solo iraniano, percebeu que se tinha esquecido de quase todo o seu dinheiro em casa. Ora, como se calhar saberás, os nossos cartões bancários não funcionam no Irão devido às sanções norte-americanas. Em pânico, e com os poucos trocos que tinha na sua posse, apanhou um táxi e expôs a sua situação ao condutor. Sem qualquer hesitação, o senhor deu-lhe todo o dinheiro que tinha, dizendo: “Aceita por favor, não quero que te sintas desconfortável no meu país.”

Agora, sê sincero: eras capaz de tratar alguém que não conheces como se fosse da tua família? Porque o povo iraniano, sim. Este exemplo é só um, de entre tantas provas de bondade que presenciei. O Irão não é um país de terroristas, ou fanáticos religiosos, e definitivamente não é o local perigoso que tanta gente pensa que é. Aliás, as três primeiras palavras que me vêm à mente para o descrever são: seguro, hospitaleiro e amigável.

Queres que seja mais específica? Ok, posso dar alguns exemplos para ilustrar o que acabei de afirmar. Eu seria incapaz de entrar no carro de alguém que não conhecesse, em Portugal. Contudo, aceitei a boleia de um senhor quando me encontrava perdida num labirinto de ruelas em Yazd. De igual modo, aceitei a amabilidade de um iraniano que conheci no aeroporto para ser guiada pela beleza nocturna de Teerão. Fiquei também eternamente grata ao estranho que conduziu durante mais de meia hora para me levar ao autocarro que eu havia perdido, a caminho da cidade de Isfahan.

Sabes aquela sensação de te sentires em casa, a quilómetros de distância do teu lar? Foi o que senti, quando uma família me convidou para comer um delicioso prato de arroz de açafrão. Ou quando, durante as celebrações da festa religiosa Ashura, me deixaram assistir ao ritual de bater no peito no lado destinado aos homens. Ou ainda quando me carregaram o saldo do telemóvel durante a noite, para que pudesse acordar contactável para o mundo.

Mas há mais! Já alguma vez deixaste os teus pertences sem vigilância? Diz-me lá, quais seriam as probabilidades de te esqueceres de uma mala no chão, com metade do salário médio nacional, e passado uma hora ela estar completamente intacta? Quase zero? Pois, posso dizer que foi exactamente o que aconteceu em Shiraz, quando fiquei tão embasbacada com o arco-íris de cores que inundou a Mesquita Cor-de-Rosa ao nascer do sol que me esqueci de tudo o resto.

Pois é, tenho perfeita noção que em qualquer outro local não teria tanta sorte, e é exactamente por esse motivo que decidi dar a conhecer minha experiência por terras persas. Para que, pouco a pouco, as notícias enviesadas sobre o Irão sejam substituídas por relatos de quem lá esteve. Para que, lentamente, o medo do desconhecido caia por terra e no seu lugar nasça a vontade de explorar e o respeito por outras culturas. Para que Irão seja sinónimo de ver o pôr do sol no cimo de uma casa de adobe, de caminhar num deserto de sal, de comprovar que existem mesmo lagos cor-de-rosa ou de querer visitar todas as mesquitas e, em cada uma delas, ficar boquiaberto perante tamanha obra de arte. Para que se torne mais fácil ajudar um estranho, como se fosse da nossa família.

Julgar o mundo com o olhar toldado por uma cortina de preconceito impede-nos de ver a sua verdadeira beleza. E tu? Atreves-te a deixar cair o véu?

Ana Torres

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