Auditora EY confirma “perdas avultadas” em créditos concedidos pela CGD entre 2005 e 2008

PSD diz que 2/3 das operações ruinosas tiveram origem nos anos de 2005 a 2008. Auditora considera "haver matéria de sensibilidade especial" que pode levá-la a pedir sigilo.

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Florbela Lima diz que não foi encontrado um padrão de irregularidades na CGD nos principais créditos LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A responsável pela auditoria da Ernst&Young (EY), que revelou os principais créditos que resultaram em negócios ruinosos para o banco público, confirma que foram identificadas “perdas avultadas” em operações que tiveram origem nos anos de 2005 a 2008, mas não confirma que haja um “padrão” nessa actividade, nem tão pouco que tenham sido esses os anos em que foram originadas maiores perdas para a CGD. Em causa está o facto de o PSD concluir que 2/3 das “operações com mais perdas foram concedidas com irregularidades sérias”, nesses anos, de governo de José Sócrates. 

As audições no âmbito da comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos arrancaram esta tarde com a responsável pela auditoria da EY a prestar declarações. Na audição, a deputada Inês Domingues questionou Florbela Lima repetidamente sobre se as operações com maiores perdas para a CGD dizerem respeito a operações em que não foram cumpridas as regras internas do banco público, conclusão não ratificada pela auditora, que explicou que não foi feito um trabalho “estatístico” por ano, mas por operação.

“Não conseguimos identificar um padrão [de irregularidades]” ou seja, no top 25 dos créditos mais ruinosos para a CGD identificados na auditoria há várias situações, explicou Florbela Lima, desde créditos que cumpriram todos os normativos, mas também créditos com diferentes tipos de irregularidades, em que não foram cumpridas as regras de referência para a EY.

Isto porque a EY o que fez, disse Florbela Lima, foi avaliar “operação a operação” de crédito e se a aprovação dessas operações estavam ou não em consonância com os normativos em vigor. “O facto de termos uma perda não tem uma relação directa com o incumprimento dos normativos aplicados, há outros factores que contribuem para as perdas”, disse, nomeadamente factores externos. 

Mais tarde explicou que as situações foram identificadas “ao longo de vários anos, não apenas nos anos referidos” por Inês Domingues.

Florbela Lima insistiu que o que foi identificado foi um “padrão” de não justificação das acções e não um “padrão” no tipo de incumprimento e recusa fazer “juízos de valor” sobre as decisões tomadas. Isto é, há vários tipos de incumprimentos das regras internas, a única coisa que a maior parte tem em comum é o facto de não haver uma justificação por parte do conselho de crédito e do conselho alargado de crédito para as suas tomadas de decisões.

Aliás, referiu a auditora, estes dois conselhos têm “autonomia” para tomar decisões contra os pareceres do conselho técnico de risco, mas o que a EY considera é que quando os pareceres foram desfavoráveis ou condicionados, os dois conselhos tinham de fundamentar a decisão e essa fundamentação não existe. 

“Não sei se fizeram tábua rasa ou não. Dizem-nos que foram discutidas. Não encontrámos evidência do porquê de não terem sido acomodados [os pareceres técnico de risco]. O facto de [as decisões] não estarem justificadas torna muito mais difícil uma análise de risco, mas não era esse o âmbito do trabalho”, insistiu a responsável pela auditoria.

Antes, a responsável pela EY tinha feito uma intervenção inicial onde explicou que alguns temas são “matérias com sensibilidade especial” que podem requerer algum tipo de sigilo por dizerem respeito “à esfera pessoal de pessoas singulares” ou por segredo comercial do banco. 

No início da audição, o presidente da comissão de inquérito admitiu que pode haver uma terceira ronda de perguntas à porta fechada.

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