Nomeações de familiares para Governo também são criticadas no PS

O tema foi abordado num jantar com ex-dirigentes nacionais da Juventude Socialista. O deputado Sérgio Sousa Pinto foi o orador do repasto onde estiveram dois ex-membros do Governo de Costa: Marcos Perestrello e João Vasconcelos.

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Sérgio Sousa Pinto numa entrevista ao PÚBLICO/Rádio Renascença, em Maio de 2018 daniel rocha

A prática de ocupação de cargos públicos por “pessoas com muitas afinidades” não é uma questão que preocupe apenas a coordenadora do BE, Catarina Martins, ou o candidato do PSD ao Parlamento Europeu, Paulo Rangel. No PS, também há socialistas que consideram que o Governo e o partido devem fazer uma reflexão sobre a existência de vários casos de ligações familiares em gabinetes de governantes de António Costa.

A polémica à volta das nomeações familiares para cargos no Governo foi um dos temas que Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS e antigo dirigente da Juventude Socialista, aflorou há dias num jantar, em Matosinhos, que reuniu quatro dezenas de antigos dirigentes do secretariado nacional da JS.

Muitos destes comensais fizeram parte da autoproclamada “geração das causas”, de quando a JS era liderada por Sérgio Sousa Pinto e se bateu por temas fracturantes: foi pioneira na defesa de direitos para gays e lésbicas em 1998/99, no âmbito das uniões de facto, e bateu-se pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Sérgio Sousa Pinto terá manifestado “preocupação” pelas nomeações de familiares no Governo e pelo “adormecimento” do PS em termos de debate político.

“As nomeações não se devem ficar apenas pelo cartão partidário, devem ser feitas em função da competência e da qualidade das pessoas”, afirmou ao PÚBLICO, Filipe Rocha, antigo dirigente nacional da JS, um dos promotores do jantar, onde marcaram presença algumas caras conhecidas: o ex-secretário de Estado da Defesa e ex-número dois de António Costa na Câmara de Lisboa, Marcos Perestrello; o ex-secretário da Indústria, João Vasconcelos que viajou para o Euro 2016 a convite da Galp; o recém-eleito presidente do turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, entre outras figuras.

Numa mensagem enviada ao PÚBLICO, Sérgio Sousa Pinto, que preside à Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros, desvaloriza a iniciativa e afirma que se tratou de “um jantar de confraternização entre gente da JS dos anos 90. Não teve nenhum significado político”. Mas esta não é, no entanto, a opinião de algumas pessoas que participaram no jantar. “Sérgio Sousa Pinto é um grande quadro do PS, tem pensamento político e há quem pense nele como uma reserva no pós-costismo”, declarou ao PÚBLICO um dos comensais.

Outro antigo dirigente nacional da JS disse que o jantar “serviu para marcar terreno”. ”No PS há duas pessoas que se estão a posicionar para suceder a António Costa na liderança do partido: Pedro Nuno Santos, ministro das Infra-estruturas e da Habitação; e Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa. Este grupo poderá lançar um nome para entrar na corrida à sucessão do actual secretário-geral do PS e Sérgio Sousa Pinto pode ser essa pessoa”, disse a mesma fonte.

 A intervenção de fundo coube ao deputado que, apesar de discordar desde o início da solução governativa encontrada por António Costa, nunca atacou directamente o primeiro-ministro. Preferiu citar Mário Soares de quem se tornou, de resto, muito próximo quando os dois eram eurodeputados. “Mário Soares era um líder forte e carismático que deixou sempre espaço para a crítica construtiva. Mário Soares era um homem de causas, de princípios e de convicções”, terá dito o parlamentar segundo os relatos ouvidos pelo PÚBLICO.

Este foi o segundo jantar num espaço de três meses – o primeiro foi em Fafe - onde Sérgio Sousa Pinto também esteve. Os organizadores da iniciativa apostam na cidade de Coimbra para o próximo jantar.

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