A estrada Beira-Maputo reabre este domingo e a ajuda vai começar a chegar mais depressa

Quando a circulação for retomada, na madrugada de domingo – mais ao amanhecer se houver atrasos –, a vida na Beira mudará. Do outro lado da cratera em João, há filas de camiões carregados de produtos de primeira necessidade.

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Daniel Rocha
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A estrada N6, única ligação terrestre entre a Cidade da Beira e o resto de Moçambique, é reaberta este domingo. A via estava intransitável desde a chegada do ciclone Idai, no dia 14 de Março, quando as águas a cortaram em vários pontos.

Quase todos os “buracos" na via estavam já neste sábado fechados, mas faltava o mais difícil - a cratera de 250 metros que se abriu em João Segredo, na localidade de Muda, a mais de 80 km da Beira.

Onde antes havia um troço de estrada de recente construção chinesa, existe hoje um enorme vazio debaixo de água. A força da corrente de um braço do rio Muda arrancou tudo, desfez toda a terra, e a estrada que nela assentava, bem como as casas rudimentares de madeira e palha nas proximidades.

Foi inesperado. Se é certo que nestas paragens é habitual a subida do nível dos rios suba na época das chuvas, não costumam atingir a área que ficou destruída.

Ao lado da cratera, têm estado as equipas chinesas a construir, em contra-relógio, 24 horas seguidas, um desvio alternativo de pedra e terra compactada que será rematado com gravilha. O desvio permitirá contornar o vazio criado quando o rio transbordou.

De ambos os lados, duas retroescavadoras avançam com rapidez em direcção uma à outra. Em meia hora, o trabalho avançou o suficiente para se perceber que a empreitada deve ficar pronta a tempo.

Às quatro da manhã deste domingo, o mais tardar ao amanhecer, a circulação poderá ser retomada – e tudo mudará na vida da cidade da Beira, que ficou 90% destruída com a passagem do ciclone. Porque mudará a capacidade de trazer auxílio para a capital da província de Sofala, que tem chegado quase todo por via aérea (operação mais demorada e com carregamentos menores de cada vez).

Para avançar o processo com a rapidez exigida, a China State Corporation (CSCEC, a sigla que um dos engenheiros chineses que supervisionava a obra insistiu em escrever no papel) foi obrigada a destruir um parque de estacionamento recentemente construído em Tica para conseguir o entulho necessário para o desvio. As pedreiras ficaram todas do outro lado da cratera da N6, não era possível trazer material de lá precisamente por não haver estrada, por isso foi necessário usar o engenho e o engenho são os pedaços de betão armado arrancados do parque de estacionamento - e os ferros retorcidos estendem-se perigosamente nas laterais dos camiões basculantes que vão chegando a toda a velocidade.

Desse outro lado da cratera, do lado de Maputo, dizem, está uma fila de veículos carregados de produtos, sobretudo de primeira necessidade, à espera de completar o caminho até à Beira.

Como explicou ao PÚBLICO Pedro Matos, o coordenador do Programa Alimentar Mundial (PAM) e co-coordenador da ajuda humanitária na Beira, a reabertura da N6 “é muito importante porque mantém as redes de abastecimento de comida e de bens não alimentares”. “Cada helicóptero leva um décimo de um camião. Esta operação [humanitária] não vai ser possível se tivermos que enviar tudo por ar para todas as zonas necessitadas.”

A estrada tinha sido entregue recentemente pelos empreiteiros chineses à Administração Nacional de Estradas de Moçambique, tão recentemente que as portagens ainda não estavam activas. E podem não ficar tão cedo. Os pórticos também sofreram danos com o Idai. Os tectos falsos foram quase todos arrancados pela força do vento, e jazem agora amontoados no chão, ocupando várias faixas.

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