Do centro às aldeias mais longínquas, a partir de Abril há mais mobilidade em Viseu

O MUV é um sistema integrado de serviços de transporte adaptados a várias necessidades e ao objectivo de tirar carros das ruas do concelho

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Viseu vai reabilitar o centro coordenador de transportes DR

Autocarros novos, eléctricos até, como no caso dos mini-bus que vão fazer um circuito no centro histórico parando onde alguém levantar a mão, bicicletas e trotinetes numa rede de ciclovias a crescer; e, para aldeias onde as novas carreiras não cheguem, transporte a pedido, activável quando se juntem, pelo menos, quatro pessoas. O MUV – Mobilidade Urbana de Viseu, é a nova aposta de um município onde, por falta de oferta de transporte público, o automóvel impera, e inclui uma viatura não tripulada – o Viriato – a dar um ar de futuro a um desafio que as alterações climáticas colocam já hoje a todas as cidades.

O autarca Almeida Henriques diz que é como quem “vê nascer um filho”. E, para a festa, os viseenses vão ser convidados a experimentar gratuitamente, a partir de 2 de Abril, e até ao final de Maio, as duas linhas circulares (C1 e C2), que percorrerão a área urbana de Viseu, cidade que não tinha, até agora, um serviço de transportes urbanos e que ganha bem mais do que isso: um sistema que junta na mesma plataforma autocarros, bicicletas, trotinetes e um veículo autónomo em via dedicada e parques de estacionamento com tecnologia capaz de poupar, aos condutores, o tempo perdido, na estrada, à procura de um lugar.

O MUV tem vários níveis de utilização e integração. Quem viva no centro histórico talvez se satisfaça com a possibilidade de levantar a mão e ver o mini-bus parar, no seu circuito que começa bem cedo pela manhã e se estende até ao final da noite. E quando o tele-bus chegar, lá para o final do ano, aqueles que estão longe das paragens servidas pelas duas dezenas de linhas radiais que farão a ligação às freguesias rurais talvez se bastem com a possibilidade de poderem telefonar para combinar uma viagem que lhes garanta acesso a uma consulta na cidade, pelo preço de um bilhete e meio de autocarro.

Mas a equipa municipal que desenhou este sistema foi mais longe. Os autocarros comprados pela empresa que ganhou a concessão do serviço têm suportes para bicicletas, e uma das novas ciclovias da cidade passará em frente ao centro coordenador de transportes, cuja obra de reabilitação, no valor de 4,5 milhões de euros, está agora a concurso. A partir dali será possível chegar da periferia e continuar a viajar nas linhas circulares, ou tomar uma bicicleta ou trotinete para seguir caminho em modo mais activo. Um segundo espaço intermodal, junto ao Hospital, garantirá que este ponto de origem-destino de muitas deslocações continue a ser alimentado por transporte público.

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Ao ser desenhado de raiz, o sistema integra toda a informação produzida pelos veículos e, também no final deste ano, vai disponibilizar uma app, a partir da qual vai ser possível saber os tempos de espera para autocarros, pedir um carro ou alugar uma bicicleta ou trotinete ainda antes de chegar à cidade. E, ao nível da gestão do estacionamento, que implicará a construção de novos espaços para deixar o carro – gratuitos, na periferia, e pagos, no centro – a concessionária, neste caso a Saba, vai colocar sensores em todos os lugares para que qualquer condutor, com essa mesma app, possa saber onde há uma vaga para parar. Poupando a cidade a muito do tráfego de veículos que circula apenas em busca de estacionamento.

Acima de tudo, explicou Almeida Henriques numa sessão de apresentação do MUV, o sistema que abrange um concelho com uma área de mais de 500 quilómetros quadrados onde vivem cem mil pessoas pretende sinalizar uma mudança de paradigma, ao pretender garantir o acesso de toda a população à mobilidade. Que não sendo um fim em si mesmo, lhes garante o acesso aos serviços, ao espaço público, e a sociabilidades postas em causa pela falta de transporte.

Mas o MUV é também a resposta de Viseu aos desafios das alterações climáticas. Uma resposta que inclui a gratuitidade do serviço, até ao final do ano, para os idosos que frequentam actividades para seniores, e que, entre apoios municipais e do Programa de Apoio à Redução Tarifária, arranca com tarifários mais baratos para este segmento, para estudantes, famílias e até empresas, adiantou o autarca, acrescentando que haverá ainda uma tarifa para turistas. Que serão os destinatários principais do Viriato, o veículo sem condutor que vai substituir o funicular de ligação da cidade à Cava de Viriato e que foi desenvolvido pela empresa tecnológica portuguesa Tula.

Fruto de um investimento que no total vai chegar aos 25 milhões de euros – dividido entre privados, fundos comunitários e orçamento municipal – e do trabalho de vários anos de uma equipa interna, coordenada pelo vereador João Paulo Gouveia, o filho nasce a 2 de Abril, em tons de amarelo forte e preto, as cores da cidade, para não passar despercebido na rua. Daqui a algum tempo se verá como convivem os viseenses com a criança, e se saberá se esta os convenceu a deixar o carro em casa. 

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