Neemias Queta está perto de ser o primeiro português da NBA. Falta saber quando

Há três portugueses que estão envolvidos no apuramento do campeão de basquetebol universitário dos EUA, mas há um deles que está a ser apontado como uma futura “estrela” da melhor liga do mundo.

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Queta é um "monstro" nas tabelas Reuters
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Segundo dados da National Collegiate Athletics Association (NCAA), cerca de 18 mil basquetebolistas disputam todos os anos o campeonato universitário norte-americano. Destes 18 mil, estima ainda o organismo que gere o desporto universitário dos EUA, apenas 1,2 por cento chegam ao topo, o que é o mesmo que dizer, chegam a jogar na Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA). Em 2019 há um português que pode fazer parte desses 1,2 por cento. Chama-se Neemias Queta, tem 19 anos, 2,11m de altura, e está a exibir-se em grande nível no seu primeiro ano do basquetebol universitário, ao ponto de muitos observadores o darem como uma escolha de primeira ronda do próximo “draft”, a principal porta de entrada (não é a única) na NBA.

Neemias é um dos três portugueses que estão na fase de apuramento do campeão de basquetebol universitário, o “March Madness” (loucura de Março), em que as 68 melhores equipas vão em “battle royale” até uma chegar ao título – Neemias e Diogo Brito nos Utah State Aggies, Francisco Amiel nos Colgate Raiders. Dos três, é Neemias que está no radar da NBA, e a sua cotação não pára de subir. Na sua mais recente lista de candidatos ao “draft”, Jeremy Woo, jornalista da “Sports Illustrated”, coloca Neemias no 29.º lugar (na primeira ronda) e classifica-o como alguém “que já mostrou mais do que o suficiente para justificar uma selecção” e que pode “subir ainda mais na Primavera”.

Se Neemias vai ser um “one and done” (salta para a NBA depois de um ano na universidade), ou se vai continuar em Utah State, ainda não sabemos. Se vai, como se diz nos EUA, “testar as águas” do “draft” já em 2019 é uma pergunta que, provavelmente, irá ficar sem resposta enquanto os Aggies estiverem em competição no “March Madness” – defrontam nesta sexta-feira Washington State, e cruzam na ronda seguinte, se passarem, com North Carolina, um dos favoritos. “Depende de muita coisa, ainda não estou preocupado com isso. Tenho muito tempo para chegar lá. É continuar a trabalhar e sei que vou lá chegar um dia destes. Se continuar a trabalhar, sei que chego lá”, contava Neemias numa entrevista recente ao site “Borracha Laranja”.

Neemias é um poste de 2,11m de altura, com grande capacidade defensiva e enorme margem de progressão, para além de ter as ferramentas físicas para se poder adaptar rapidamente ao basquetebol profissional – tem grande envergadura, 2,24m de mão a mão, e um alcance vertical de 2,90m. E outra das suas características é a de aprender depressa. “É um miúdo muito humilde e muito trabalhador. No primeiro dia que eu o vi lá a treinar connosco percebi que havia ali um diamante em bruto”, recorda ao PÚBLICO Carlos Andrade, uma das referências do basquetebol português das últimas décadas que foi colega de equipa de Neemias, durante a época passada, no Benfica – Neemias chamava ao seu veterano colega o “Cota” Andrade.

De pouco utilizado na principal equipa dos “encarnados”, Neemias entrou directamente para o “cinco” inicial dos Aggies. Em 34 jogos, o jovem português que usa o número 23 leva médias de 11,9 pontos, 8,9 ressaltos e 2,4 desarmes de lançamento, e é reconhecido como um dos melhores defensores da NCAA. Não só ganhou o prémio de defensor do ano na conferência Mountain West, como foi eleito o melhor “freshman” (novato) e para a segunda equipa, e tem sido apontado como um dos responsáveis pelo regresso à relevância da equipa de Utah State, que já não marcava presença no “March Madness” desde 2011, ano que foram também campeões da sua conferência pela última vez.

O que pode dar Neemias Queta a uma equipa? Palavra a Craig Smith, treinador dos Aggies. “Corrige muitos dos nossos erros, sem qualquer dúvida. É o centro da nossa defesa, uma espécie de borracha ao pé do cesto. E não é só pelos lançamentos que ele bloqueia, mas também por aqueles que ele consegue alterar. E mais, ele também termina a posse de bola do adversário. Somos uma das melhores equipas do país em termos de ressaltos e de percentagem de lançamentos de dois pontos [permitidos ao adversário]. É assim que nós jogamos e ele é uma grande parte dessa estratégia”, admite o treinador, também ele a cumprir a primeira época nos Aggies.

O sonho americano

Ticha Penicheiro é a grande referência do basquetebol português em termos de projecção internacional, com uma carreira longa na WNBA (foi campeã pelas Sacramento Monarchs) em que construiu o estatuto de uma das melhores bases de sempre, e Mery Andrade também passou várias épocas na mesma liga. Houve vários que tentaram o sonho americano na NBA, jogadores como Carlos Lisboa, Betinho Gomes e Carlos Andrade cruzaram-se em alturas diferentes da carreira com essa possibilidade, mas nunca passou disso mesmo. Neemias Queta já parece estar num patamar de notoriedade mais elevado.

Para Neemias, tudo começou no Barreiro, aos dez anos, quando começou a dar os primeiros toques no Barreirense. O que começou quase como uma brincadeira rapidamente passou a ser uma potencial forma de vida, e a evolução como jogador levou-o às selecções jovens de Portugal e, durante uma época, ao Benfica (jogou sobretudo na equipa secundária). O Europeu de sub-20 B, realizado na Bulgária, colocou-o no radar dos olheiros norte-americanos e acabaria por ser recrutado para a universidade de Utah State, onde já estava outro português, Diogo Brito (que também tem tido um papel importante na carreira dos Aggies).

Já não parece tanto uma questão de “se” vai chegar à NBA, será mais “quando”, mas, claro, sem certezas absolutas. Carlos Andrade, que passou quatro anos numa universidade americana e que chegou a fazer testes em equipas como os Atlanta Hawks ou os Boston Celtics, diz que esta é uma oportunidade de ouro para Neemias Queta: “Se não for este ano, será para o ano. Mas já se percebeu que ele pode evoluir rápido em qualquer meio, e pode ser na universidade ou na NBA. Ele tem de agarrar a oportunidade.”

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