Suspender Orbán é uma cobardia do PPE

Se dúvidas houvesse sobre a inutilidade da coisa, basta dizer que Viktor Orbán concordou com a decisão e, no fim, disse que “a unidade do Partido Popular Europeu foi preservada”.

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A Europa é uma espécie de casa assombrada da qual não se pode sair, porque não se pode ir para mais lugar nenhum – os últimos alucinados acontecimentos à volta do “Brexit” mostram como a decisão de saída tomada em 2016 se transformou numa trapalhada monumental.

Se há um lado “castigador” nas decisões tomadas pelos políticos europeus – sim, desde sempre, e com particular ênfase na crise financeira, os dirigentes da eurolândia autocongratulam-se com discursos castigadores –, os políticos ingleses mostram uma incapacidade total de lidar com a decisão do povo, num quadro em que tanto trabalhistas como conservadores vivem vidas duplas e imprevisíveis.

May – que na realidade queria ficar na União Europeia, como mais ou menos toda a gente sabe – disse ontem no seu statement da noite uma verdade pura: o povo britânico “está farto”. Mas como sair de uma casa assombrada quando não se tem para onde ir, mesmo que a pátria de Churchill, o homem que nos anos 50 inventou o conceito “Estados Unidos da Europa”, sempre tenha tido um pé fora de casa? A balbúrdia vai continuar.

O problema é que a casa de onde não se pode sair enfrenta muito mais fantasmas já nas europeias de Maio: o disparar dos partidos que por conveniência se convencionou chamar “populistas”, mas que, alguns, são antidemocráticos e simplesmente incompatíveis com os tratados europeus. O Fidesz de Viktor Orbán é um deles e não é o único – os socialistas também têm o seu quinhão de monstros, como na Roménia.

Ora, a decisão tomada ontem de suspender o partido que governa a Hungria foi um acto de cobardia do PPE. Expulsar o Fidesz era uma decisão justa e promovia uma demarcação clara de Orbán. A solução encontrada, que permite aos deputados do Fidesz continuarem sentadinhos nas bancadas do PPE, funciona apenas para que os partidos que o integram – em Portugal, o PSD e o CDS – se possam distanciar um bocadinho em plenas eleições europeias.

Se dúvidas houvesse sobre a inutilidade da coisa, basta dizer que Viktor Orbán concordou com a decisão e, no fim, disse que “a unidade do Partido Popular Europeu foi preservada”. Manfred Weber, o candidato do PPE à presidência da próxima comissão, esfrega as mãos a contar com os votos do “campeão da democracia iliberal”. Os fantasmas ocupam cada vez mais quartos na casa de onde não se consegue sair.

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