Um momento de publicação independente: Portuguese Small Press Yearbook

Fanzines, edições de autor, livros de artista — nesta rubrica queremos falar de publicação independente. Nada melhor do que começar com um anuário que nos guia pelo que anda por aí.

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Todos os anos, pelo menos desde 2013, há um livro que é uma espécie de barómetro do mercado da publicação independente em Portugal. Chama-se Portuguese Small Press Yearbook (PSPY) e obedece, geralmente, a um tema: se o primeiro funcionou como um mestre-de-cerimónias para o que aí vinha, o último, de 2018, dedica-se à banda desenhada, depois de números sobre fotografia e feminismo, por exemplo. O tema de 2019 há-de “surgir naturalmente”, adianta Isabel Baraona, artista plástica e professora na ESAD das Caldas da Rainha, que partilha a maternidade desta ideia com Catarina Figueiredo Cardoso, uma aficionada da edição de autor, uma das maiores coleccionadoras destas coisas em Portugal, “muito cuidadosa” e disponível para “apoiar a malta nova que está a começar”.

Co-editado com Marcos Farrajota, da Chili Com Carne, o PSPY de 2018 passa em revista a produção aos quadradinhos em território nacional. Farrajota faz o estado de arte da área numas quantas páginas (em português e inglês), numa edição em tons púrpura que também conta com contribuições de, entre outros, Filipe Felizardo, Xavier Almeida, Mao, Ema Gaspar, Francisco Sousa Lobo, Bruno Borges, Paulo Mendes e Rudolfo da Silva, que assina a capa. Pelo miolo do anuário elencam-se as edições, as revistas e as obras de referência de 2017/2018, bem como as livrarias, bibliotecas e feiras a ter em conta. De banda desenhada, claro.

Este número, com cerca de 200 exemplares, foi lançado em finais de 2018 e pode ser encontrado na STET, em Lisboa, e na Inc-Livros, no Porto, pelo preço de oito euros. Também pode ser adquirido directamente às manda-chuvas em feiras de publicação independente, como a Laica e a Morta, ou online, através da página Tipo.pt, o ambicioso projecto que as juntou. Trata-se de um arquivo online de livros de artista, edição de autor e fanzines, que todos os anos dá à luz um PSPY.

Tudo aconteceu porque, a meio do seu doutoramento, Isabel Baraona concluiu que se tinha enganado no tema. “Percebi que o que eu queria era estudar livros de artista”, conta a artista ao P3. “Por sorte”, ganhou uma bolsa da Universidade de Rennes, em França, e mergulhou num El Dorado chamado Cabinet du Livre d’Artiste, uma biblioteca dedicada aos livros de artista. Depois de umas quantas conversas, propuseram-se a fazer um projecto em duas frentes: o arquivo online, feudo de Isabel, e uma publicação regular, o PSPY, gerido por Catarina. “Trocamos despesas e tarefas, nada é financiado”, realça a primeira.

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O arquivo online é um lógico working in progress que recebe uma actualização grande uma vez por ano, normalmente em Agosto. Até agora foram inseridas mais de 300 publicações, o que “é francamente pouco” para aquilo que a dupla gostaria de fazer. Mas o público não deixa o arquivo morrer. “Procuram-nos, mantêm o projecto vivo, fico sempre feliz quando isso acontece. Também é uma forma de nos mantermos actualizadas e de ajudar a divulgar projectos que têm imenso valor.” Agora só falta o próximo passo, diz Isabel, piscando o olho a Serralves ou à Gulbenkian: “Estas tiragens são tão pequenas – 50, 100, ou menos – que se não houver um repositório ou uma biblioteca a apostar parece que as coisas desaparecem.”

Qualquer um pode tentar inscrever a sua publicação no Tipo.pt – basta entrar em contacto e pedir o formulário de inscrição. Há algumas regras: nada de livros ou cadernos únicos, tem sempre de haver mais um exemplar; nada de projectos ou maquetes, apenas obras publicadas; e, em geral, nada de projectos escolares. Já agora, aproveita e envia também para o P3 (ver caixa). 

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