Azinheira de Mértola ficou em 3.º lugar no concurso Árvore Europeia do Ano

É a segunda vez que uma árvore portuguesa fica no pódio deste concurso. A Árvore Europeia de 2019 é uma amendoeira da Hungria.

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A azinheira portuguesa tem cerca de 150 anos Arquivo da Câmara Municipal de Mértola

Uma azinheira de Mértola com uma sombra majestosa ficou em terceiro lugar no concurso Árvore Europeia do Ano, anunciou-se ao final da tarde deste terça-feira numa cerimónia no Parlamento Europeu (Bruxelas), depois de uma votação online que decorreu em Fevereiro. Em primeiro lugar ficou uma amendoeira da Hungria e o segundo lugar foi para um carvalho russo. Participaram na 9.ª edição deste concurso 15 árvores de diferentes países da Europa.

Ao todo, foram contabilizados 311.772 votos. Quanto ao pódio, por ordem crescente, a azinheira de Mértola – chamada “Azinheira Secular do Monte Barbeiro” – teve 32.630​ votos, o carvalho russo teve 39.538 votos e a amendoeira húngara mais de 45.132 votos.

“Neste momento, é importantíssimo receber estes prémios: são reconhecimentos de uma floresta bem tratada pelos produtores florestais”, disse ao PÚBLICO Duarte Mira, representante da Confederação dos Agricultores de Portugal em Bruxelas, da qual a UNAC – União da Floresta Mediterrânea (organizadora do concurso nacional) é afiliada, e que esteve na cerimónia no Parlamento Europeu.

Duarte Mira destaca que, numa altura em que os incêndios têm sido recorrentes, esta é uma forma encorajar os produtores. Além disso, como a azinheira tem já 150 anos frisa: “É uma prova de que a nossa floresta tem resiliência e que as árvores autóctones passam de geração em geração e têm capacidade de ter um reconhecimento europeu.”

“Para nós já foi muito importante o reconhecimento em Portugal e o facto de sermos o representante português”, diz Jorge Rosa, presidente da Câmara Municipal de Mértola – entidade responsável pela candidatura desta árvore no concurso nacional –, salientando que esta azinheira representa todo o subsistema do montado. Segundo o autarca, um dos objectivos era mesmo chegar ao pódio deste concurso. “É um terceiro lugar muito relevante até porque se fala sempre nas três primeiras [árvores]”, frisa.

A Azinheira Secular do Monte Barbeiro fica a cerca de sete quilómetros da aldeia de Alcaria Ruiva (concelho de Mértola) e permanece na ponta de um montado. “[A Azinheira Secular do Monte Barbeiro] é especial pela idade que conseguiu atingir e porque se desenvolveu de uma forma extraordinária”, dizia ao PÚBLICO Jorge Rosa, quando esta azinheira (Quercus rotundifólia) foi eleita a Árvore Portuguesa do Ano.

Uma das suas características é uma sombra majestosa que em dias de calor no Baixo Alentejo pode fazer toda a diferença. Afinal, tem uma copa de 23,28 metros de diâmetro e ocupa uma área com cerca de 487 metros quadrados.

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A sombra é uma das características principais da azinheira de Mértola Arquivo da Câmara Municipal de Mértola

Esta azinheira gigante tem uma forte ligação à comunidade. “Desde logo, há uma ligação sentimental das pessoas à volta daquela zona. Há uma série de pequenos povoados que conhecem a árvore há muito tempo”, referia Jorge Rosa. Há ainda uma ligação das novas gerações a esta árvore que visitam – por exemplo – durante o período escolar. Segundo o autarca, as visitas a esta azinheira aumentaram desde que ganhou o título de Árvore Portuguesa do Ano.

Um símbolo de renovação

Indo até Pécs, uma cidade no Sudoeste da Hungria, podemos visitar uma amendoeira (Prunus Dulcis) com 135 anos, que foi agora considerada a Árvore Europeia 2019. Conhecida como “Amendoeira de Snowy Hill”, fica mesmo em frente à Igreja de Nossa Senhora da Neve e é um símbolo de renovação. Porquê? “A amendoeira em flor tem sido símbolo de eterna renovação e educação desde que o bispo [de Pécs] Janus Pannonius escreveu o seu poema sobre uma [outra] amendoeira em 1466”, lê-se no site da competição.  

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Com mais de 41 mil votos, a amendoeira húngara foi a Árvore Europeia de 2019 Svastits Krisztián

Inspiração para pintores e poetas

Viajando até Abramtsevo (na região de Moscovo, Rússia) encontramos um carvalho que inspirou poetas e pintores: é esta a árvore que ficou em segundo lugar. Com 248 anos, este carvalho-comum (Quercus Robur L.) permanece na área reservada do Museu de História, Arte e Literatura de Abramtsevo.

“Durante a sua vida acompanhou várias personalidades russas da arte – pintores, poetas e actores. Gogol, Turgenev, Repin, Vasnetsov, Levitan, Surikov e Polenov caminharam debaixo da sua grande copa”, lê-se no site do concurso. Acrescenta-se ainda que um dos trabalhos mais conhecidos do pintor Viktor Mikhailovich Vasnetsov é mesmo sobre um carvalho. Chama-se “Carvalho Grove em Abramtsevo” (1883) e pode ser visto na Galeria Tretyakov, em Moscovo.

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Com mais de 39 mil votos, o carvalho russo ficou em segundo lugar Lubov Bessonova

Este concurso organizado pela Associação de Parceria Ambiental (EPA) valoriza a importância das árvores no património cultural e natural europeu. “O concurso não procura apenas a árvore mais bonita, mas aquela que tem uma história enraizada na vida e no trabalho das pessoas e da comunidade que a envolve”, destaca em comunicado a UNAC.

Na edição de 2018, o Sobreiro Assobiador da aldeia de Águas de Moura (concelho de Palmela) conquistou o primeiro lugar. Com cerca de 230 anos, esta árvore representa a importância do sobreiro no território português. Mas o interesse deste sobreiro vem sobretudo da sua melodia: como tem uma copa tão larga – 30 metros de diâmetro de copa –, as aves pousam nele e chilreiam muito.

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