Álcool nos estádios? Sindicato da Polícia “preocupado”

Paulo Rodrigues, dirigente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, teme que, caso seja aprovada, a proposta possa "agudizar o trabalho das autoridades". O antigo provedor do adepto da Liga e a Associação Portuguesa de Defesa do Adepto discordam.

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Sporting pretende que lei que proíbe venda e consumo de bebidas alcoólicas no estádio seja alterada Reuters/WOLFGANG RATTAY

A proposta do Sporting para que seja permitida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios preocupa a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP). O presidente Paulo Rodrigues mostra-se contra a aprovação da alteração à lei da Violência Associada ao Desporto, que proíbe a venda e consumo de bebidas alcoólicas nas bancadas — à excepção dos camarotes — nos estádios portugueses.

“Vemos esta questão com alguma preocupação. Percebemos que as pessoas queiram fazer do futebol uma festa e, como é natural nas festas, exista o consumo de álcool. Ultimamente — e referindo-se a várias centenas de eventos — o futebol tem sido transformado num espaço com muita violência, muita agressividade. O consumo de bebidas alcoólicas não vem agilizar o trabalho da polícia”, garante Paulo Rodrigues ao PÚBLICO.

O presidente da ASPP revela, ainda, que muitos adeptos conseguem entrar no estádio alcoolizados e que, caso houvesse a oportunidade de continuar o consumo de bebidas alcoólicas dentro do recinto desportivo, a tendência para comportamentos violentos poderia aumentar: “Muitas pessoas entram no estádio já alcoolizadas. Para esses adeptos, não consumirem bebidas durante as duas horas de jogo ajuda a reduzir a tensão [emocional]. Não me parece que continuar a beber álcool venha reduzir as situações de desordem pública.”

Em resposta ao pedido de esclarecimento do PÚBLICO, a Polícia de Segurança Pública (PSP) informou que, “para já, não tem qualquer comentário a efectuar sobre a proposta em apreço”. 

Primeiro provedor do adepto da Liga defende proposta

Apesar de a ASPP estar contra a aprovação da proposta, há vozes que defendem a ideia do Sporting de fazer regressar a venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios portugueses, prática proibida por lei desde 1980. Uma dessas vozes concordantes é a de Jorge Silvério, que, entre 2009 e 2012, foi o primeiro provedor do adepto da Liga. O psicólogo mostra concordância com a proposta, desde que esta se limite a bebidas com baixo teor alcoólico.

“Em primeiro lugar, já há sectores nos estádios onde é permitido consumir bebidas alcoólicas. E, muitas vezes, não sendo permitido o consumo dentro do estádio, este ocorre nas imediações do mesmo, o que leva os adeptos a demorarem mais tempo a dirigirem-se para o interior do recinto, causando longas filas”, defende.

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Entidade sindical teme maior número de incidentes de violência no interior dos estádios NFACTOS/LUIS EFIGENIO

No que diz respeito às questões de segurança o psicólogo defende que por serem bebidas de baixo teor alcoólico e, existindo o acompanhamento próximo das autoridades, os riscos podem ser diminuídos: “Com os assistentes de recinto desportivo e o trabalho feito pelas restantes autoridades, acho que os riscos poderiam ser reduzidos. Pesando as vantagens e desvantagens, acho que existem mais pontos positivos do que negativos.”

“Separação entre o adepto rico e o adepto pobre”

Martha Gens, vice-presidente da direcção da Associação Portuguesa da Defesa do Adepto (APDA), cita os mesmos argumentos utilizados por Jorge Silvério, focando-se na possibilidade de as bebidas alcoólicas já poderem ser consumidas nas zonas VIP dos estádios: “O desporto visa exactamente abolir as barreiras entre as várias classes sociais. Existem sectores em que se pode beber álcool e acaba por ser desigual, quase como uma separação entre o adepto rico e o adepto pobre.”

A vice-presidente da associação — composta por adeptos de vários clubes — defende ainda que se o consumo de álcool passar de fora para dentro dos estádios poderá existir uma maior capacidade de controlo sobre os produtos vendidos. “Risco acrescido para a segurança? Claro que não. Pior é agora. Há uma falta de controlo e é permitido o exagero nas imediações. Dentro dos estádios, esse controlo seria muito maior”, defende Martha Gens.

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Na Inglaterra, é permitido o consumod e bebidas com baixo teor alcoólico nos estádios ANDREW COULDRIDGE / REUTERS

A proposta do Sporting foi apresentada na segunda-feira, com o objectivo de aumentar as receitas e baixar os riscos de segurança. De acordo com Miguel Cal, administrador da SAD do Sporting, o assunto está a ser discutido em grupos de trabalho na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e uma proposta de “alteração à lei actual, para que num futuro próximo seja permitida a venda de bebidas fermentadas de baixo teor alcoólico nos recintos desportivos em Portugal”, está “em apreciação pelo Parlamento”.

A proposta do Governo, que será discutida na Assembleia da República, "não toca”, porém, na questão da venda de bebidas alcoólicas, disse o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo.

No principal escalão do futebol português, 14 das 18 equipas são patrocinados por uma marca de cerveja, enquanto um outro, o Tondela, é apoiado por uma marca de vinho. Em Janeiro, a Super Bock foi anunciada como a cerveja oficial das competições profissionais de futebol. O Sporting quer seguir o exemplo adoptado por países como a Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda ou Bélgica, onde a venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos recintos desportivos é permitida.

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