Laboratório para a participação cívica nasce num bairro de Aveiro

Lab Cívico Santiago procura, entre a população, ideias para melhorar o bairro e o bem-estar dos dos moradores. Noventa pessoas foram à sessão inaugural.

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Participantes no Lab Cívico reuniram-se pela primeira vez esta terça-feira à noite vez Adriano Miranda

A ideia já deu frutos nalgumas cidades europeias mas só agora começa a ser replicada em Portugal. Aveiro é a primeira cidade a lançar um laboratório cívico, inspirado no exemplo do Experimenta Distrito promovido, nos últimos dois anos, pelo MediaLab-Prado em vários bairros de Madrid. Em que consiste? Num projecto que envolve as comunidades locais na construção de soluções experimentais para alguns problemas do seu quotidiano. Este que é o primeiro laboratório cívico português incidirá no bairro de Santiago, no centro da cidade de Aveiro, e todos os cidadãos são desafiados a apresentar propostas para melhorar as condições para quem lá vive. Até 31 de Março, aceitam-se ideias e sugestões. As melhores irão, depois, ser concretizadas.

A iniciativa está a ser dinamizada por um grupo de aveirenses ligados às mais variadas áreas profissionais e que já contam com experiência em outros projectos de inovação cívica desenvolvidos na cidade. Em articulação com as Florinhas do Vouga, instituição de solidariedade social que dedica grande parte da sua atenção àquele bairro social, decidiram lançar-se neste projecto experimental. E a avaliar pela quantidade de pessoas que marcaram presença na sessão de lançamento do laboratório, na terça-feira, não lhes deverão faltar interessados em apresentar ideias para o bairro.

“Mais de noventa pessoas entenderam participar numa reunião pública para pensar como se podia melhorar a vida no bairro de Santiago através de uma experiência participativa”, avalia José Carlos Mota, do Lab Cívico Santiago (assim se designa o projecto). O também também director do mestrado em Planeamento Regional e Urbano da Universidade de Aveiro não deixa de destacar que o que estava em causa não era encontrar resposta para um “problema urgente ou mediático que agitasse as consciências”, mas sim o propósito destes cidadãos em saberem como podiam “ser úteis à sua comunidade e oferecer o seu conhecimento e esforço em prol do bairro”. Com a certeza de que “fazer a cidade nova, fazer a cidade bonita diz respeito a todos”, destacou, por seu turno, o padre João Gonçalves, das Florinhas do Vouga, na reunião.

Mais do que ajudar a resolver os problemas de um bairro, este laboratório cívico – assim como todos os outros – constitui uma forma de democracia participativa. Mais um passo de uma “caminhada” que Aveiro já vem fazendo há algum tempo, argumentou Luís Souto, presidente da assembleia municipal de Aveiro, aludindo à tradição aveirense enquanto “terra de liberdade e de participação”. “A democracia parte das bases e é com participação cívica que se constrói uma democracia com mais qualidade”, acrescentou aquele responsável político.

Aceitam-se ideias até ao final do mês

Esta primeira sessão pública constituiu uma “convocatória” aos cidadãos, dando-lhes a conhecer como e quando poderão apresentar as suas ideias. O prazo para formalização das propostas, online ou presencialmente (no Espaço Meninarte das Florinhas do Vouga) decorre agora até ao final do mês. As ideias podem passar por instalar um “novo tipo de baloiço para o parque”, “um jogo de tabuleiro” ou criar “uma rota para conhecer o bairro”. “Pode ser um projecto que pretenda melhorar o espaço público, ou as condições materiais dos residentes, ou simplesmente, que pretenda melhorar a forma como a cidade se relaciona com o bairro em geral ou com alguma situação concreta”, destacam os promotores do Lab Cívico Santiago.

Adriano Miranda
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A participação é aberta a todas as pessoas (em nome individual ou em grupo), não sendo necessário que vivam no Bairro de Santiago – ainda que a ideia tenha de ser desenvolvida no bairro. A selecção das melhores propostas caberá a uma equipa de avaliação (constituída por elementos do laboratório, da instituição de solidariedade, da junta de freguesia da Glória/Vera Cruz e da associação de pais da escola de Santiago). Serão escolhidas um máximo de dez – a anunciar a 3 de Abril – para serem materializadas. Nesse sentido, a organização programou já a realização, em Abril e Maio, de várias acções colaborativas (oficinas) para desenvolver os protótipos das ideias seleccionadas pelo júri.

Ideias devem ser Fundamentadas

Segundo foi definido pela equipa do Lab Cívico Santiago, as ideias a apresentar devem ter, no máximo, 1200 caracteres e devem especificar “em que consiste o projecto”, qual “a motivação” (como é que pode contribuir para o aumento do bem-estar colectivo do bairro), e “materiais necessários (o que é necessário para executar o projecto)”, entre outras informações.

Na avaliação das melhores propostas serão tidos em conta critérios de avaliação como “a adequação ao objectivo e à temática do laboratório”, “relação com a realidade, os saberes, as memórias e a diversidade do Bairro de Santiago” e a “sustentabilidade do projecto (optimização de recursos, reciclagem de materiais e desperdício zero)”.

Escolhidas as melhores, há o compromisso, da parte da equipa promotora, de procurar “soluções para que estejam disponíveis, na medida do possível, os meios necessários para a realização dos projectos seleccionados”, bem como dar “apoio conceptual, técnico e metodológico de mentoria e mediação”, entre outros princípios base.

Adriano Miranda
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Apesar desta primeira experiência estar apenas na fase de arranque, a equipa promotora já foi questionada – em jeito de desafio -, logo na sessão de lançamento, sobre a possibilidade de a levar para outros locais da cidade. A hipótese está em cima da mesa, referiu uma das promotoras, e pode ser uma realidade “já com mais experiência”.

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