Nesse dia tenho...

Será que alguma vez conseguiremos adoptar o invejável sistema americano de recusar e adiar convites?

Será que alguma vez conseguiremos adoptar o invejável sistema americano de recusar e adiar convites? Nos Estados Unidos, quando se recebe um convite para uma determinada altura, basta responder: “I’ve got plans.

Falam em generalidades e ninguém os pressiona a serem mais explícitos — que sorte! Aqui, se eu respondesse que tinha planos ou coisas combinadas para esse dia, o efeito seria armar-me em misterioso, para que me perguntassem que planos ou combinações eram essas.

Se eu sair de casa ou do trabalho para ir a qualquer lado, nunca é preciso pormenores. Os americanos dizem simplesmente: “I’ve got something to take care of.” Em Portugal, se eu disser “Tenho de ir tratar dum assunto”, não me deixam sair enquanto não tiver explicado exactamente o que vou fazer.

A contribuição genial é o rain check metafísico — o equivalente social de um bilhete gratuito quando vamos a um jogo que foi adiado por causa do mau tempo. O rain check torna a nega mais simpática, tipo “Espero que a minha recusa não o desencoraje de voltar a convidar-me noutra altura, porque eu gostaria muito de ir”.

O sim do convidador faz com que a conversa acabe positivamente — suaviza a rejeição. Claro que se espera que o rain check tenha o efeito contrário. É apenas uma formalidade, mas deixa sempre uma dúvida — é isso que é brilhante.

Aqui somos forçados a mentir, a inventar obrigações inadiáveis. A Maria João diz sempre “Não quero saber!”, mas as pessoas dizem-lhe na mesma, entrando em inarrável pormenor.

Não se pode ganhar — só disfarçar.

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