TAP cancela voo para a Venezuela por questões de segurança

Voo agendado para esta terça-feira foi cancelado depois de uma tripulação espanhola ter sido atacada em Caracas no domingo. TAP pondera ainda se opera o outro voo semanal, no sábado.

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Nuno Ferreira Santos

A TAP cancelou o voo que tinha agendado para esta terça-feira para Caracas, por considerar que “não estão reunidas as condições operacionais no aeroporto” da capital da Venezuela. A companhia aérea disse ainda ao PÚBLICO que irá “analisar muito de perto a evolução da situação para atempadamente decidir” sobre a realização do outro voo semanal, no sábado.

O anúncio da TAP surge depois de, no domingo, uma tripulação da companhia espanhola Air Europa ter sido atacada a tiro num hotel de Caracas. Presumíveis assaltantes, que se deslocavam de moto, tentaram obrigar a parar o furgão no qual a tripulação fez a viagem entre o aeroporto e o hotel, onde se encontrava a equipa que a deveria render. Os elementos da Air Europa estiveram mesmo sequestrados no hotel, antes de voltarem todos ao aeroporto e partir para Espanha. Uma situação que a TAP diz estar a acompanhar “atentamente”.

Os voos da TAP para Caracas estão a ser operados pela Euroatlantic. Ou seja, as tripulações não são da TAP. Essas tripulações pernoitam na capital da Venezuela depois dos voos Lisboa-Caracas.

Questionada pelo PÚBLICO se já emitiu ou vai emitir algum aviso especial para os seus clientes que se deslocam para a Venezuela, o gabinete de comunicação da TAP afirma que, para já, “está a facilitar a troca de datas para viajar até ao dia 31 de Março sem pagamento da taxa de alteração”.

Site distraído ignora violência

Apesar desta medida, o site da TAP ignora quase por completo a violência e o caos na Venezuela e continua a vender as suas viagens para o país e principalmente para a capital Caracas, anunciando um “destino perfeito para os turistas citadinos que preferem o ritmo urbano e também para os aventureiros que optam pelo lado selvagem”. Informações que ainda ontem constavam no site oficial da companhia aérea e que contrariam por completo as recomendações feitas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros param quem se desloca à Venezuela, alertando para a “elevada taxa de criminalidade e delinquência” que se regista no país.

A Venezuela está mergulhada numa profunda crise política, económica e humanitária, num ambiente que muitos vêem como de pré-guerra civil. Juan Gaidó declarou o Presidente Nicolás Maduro “usurpador” e proclamou-se “Presidente interino”, tendo sido reconhecido como tal pela União Europeia, pelos Estados Unidos e vários países da região. Há meses que há falta de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais na Venezuela. O Governo Regional da Madeira estima que sete mil cidadãos emigrantes portugueses ou luso-descendentes tenham trocado a Venezuela pelo arquipélago nos últimos meses.

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Mas não há vestígio disso no site da TAP, na descrição de Caracas. “É uma cidade enorme, que tem tanto de caótico e turbulento como de tranquilo e estimulante”, começa por dizer a transportadora aérea nacional no local do site em que promove as suas viagens para aquele país.

“Próxima de boas praias, a capital da Venezuela tem muita da cultura venezuelana nas ruas, nos trajes, nos hábitos. Sabana Grande é a artéria principal e os bairros de Las Mercedes e Altamira estão próximos da restauração e vida nocturna.” Acontece que alguns destes locais, nomeadamente a Sabana Grande, são palcos principais da violência e caos que há meses se vive na cidade e que se têm vindo a acentuar cada vez mais nos últimos tempos.

Esta artéria é apresentada pela companhia como “a boulevard de Caracas” onde se encontram alguns edifícios importantes, que “representam valores culturais, patrimoniais e históricos”. “Em Sabana Grande os turistas passeiam ao final de tarde entre os vendedores ambulantes e as esplanadas.”

O site refere ainda o “frenesim venezuelano de Caracas”, salientando “uma cidade que respira diversidade. Na arte, nas paisagens, na gastronomia, nos animais e pessoas”.

Mais à frente refere pela primeira vez violência, mas desvalorizando a situação: “Caracas tem uma reputação que tende a afastar quem planeia conhecer um destino da América Latina. O ambiente violento que lhe está associado ofusca as maravilhas que aqui se podem testemunhar. Contudo, se é um viajante aventureiro, parta à descoberta do ritmo frenético caraquenho!”

Aconselha ainda que, “tendo em conta a questão da segurança, é importante que, quando em Caracas, tenha sempre informação sobre a atracção que vai visitar e de que forma vai lá chegar”. “Não haverá qualquer problema se estiver bem preparado para embarcar nesta aventura!”

A TAP destaca também “a face boémia” da cidade. “Para um dia reservado às compras e à diversão pode escolher entre Las Mercedes e Altamira! Ambos os locais são perfeitos para descontrair e aliviar o peso da carteira. Durante o dia, em Las Mercedes, encontra o maior complexo de centros comerciais com lojas de moda e galerias de arte. À noite pode escolher de entre um vasto leque de discotecas e clubes nocturnos o que mais lhe agradar para se divertir e se perder no ritmo venezuelano”, descreve.

As indicações no site da TAP contrariam as recomendações que são feitas no Portal das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). “As condições de segurança por toda a Venezuela permanecem precárias, com elevada taxa de criminalidade e delinquência, em particular nas grandes cidades, principalmente em Caracas, incluindo o Aeroporto Internacional de Maiquetía”, é escrito no portal.

Diz ainda que em Caracas e várias cidades da Venezuela “continuam a ocorrer protestos frequentes, que são susceptíveis de resultar em confrontos entre participantes e forças policiais”. Lembra também que Caracas “é a cidade com maior índice de insegurança, com considerável incidência de crimes violentos”.

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