Não poder roubar

Em vez de apanhar ladrões é preciso arranjar leis que tornem roubar muito difícil.

As condições para a corrupção continuam em grande. Somos consolados pelo facto de cinco ou seis corruptos serem apanhados e irem para a cadeia cinco ou seis anos depois de serem apanhados.

As pessoas que roubaram outras – as poucas que foram apanhadas – continuam ricas, dentro ou fora da prisão. Tanto é assim que achamos normal – a culpa é de justiça que é lenta.

Mas a justiça não é uma questão de lentidão. Uma coisa ou é injusta ou não é. Não são os juízes que julgam esta justiça. É cada um de nós. É obviamente injusto que os corruptos e ladrões aproveitem a lei para evitar ou atrasar o castigo que merecem.

Para lutar realmente contra a corrupção é preciso bloquear o acesso ao dinheiro – nisto, como em tudo, a ocasião faz o ladrão. O dinheiro fácil, para todos os efeitos práticos, é irresistível.

Poderiam proibir-se os contactos entre banqueiros e políticos e entre empresários e políticos. Isso já ajudaria. Sem essa proibição os políticos e os capitalistas arranjarão sempre maneira de trocar o poder por dinheiro e o dinheiro por poder. É irresistível. Nós, se lá estivéssemos, faríamos o mesmo. Roubar é humano. Por isso é que há um mandamento só para isso.

Os ladrões convencem-se que merecem o que roubaram. Convencem-se que é um pagamento justo pelo que fizeram. É essa a arte dos políticos – justificar.

Os ladrões convencem-se também que o roubo deles não têm vítimas – aquilo é só dinheiro, são só números, ninguém nota.

Em vez de apanhar ladrões é preciso arranjar leis que tornem roubar muito difícil.

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