Moradores queixam-se de mau serviço da Vimeca em Monte Abraão

Utentes queixam-se de sucessivos atrasos e falhas nas carreiras da Vimeca, sobretudo na zona de Monte Abraão, em Sintra, e temem que a situação se agrave com a entrada em vigor dos passes únicos. Empresa diz que se tratam de "situações pontuais".

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PEDRO CUNHA/ARQUIVO

Maria Paula Caeiro foi há umas semanas a uma consulta no Hospital da Luz, na Amadora. Saiu por volta das 20h30 e foi esperar um autocarro que a levasse de volta a Monte Abraão, onde mora. Esperou mais de uma hora e meia pela carreira 131, assegurada pela Vimeca, até que se cansou e optou por apanhar outro autocarro. 

Desde o Verão, esta educadora de infância reformada diz que as carreiras da Vimeca/Lisboa Transportes — empresa de transportes públicos que opera nos concelho de Oeiras, Amadora, Cascais e Sintra e os liga a Lisboa —, que servem Monte Abraão, não cumprem os horários ou nem chegam a aparecer. A escassez de autocarros e de motoristas será o motivo. A empresa diz que se tratarão de “situações pontuais”.

“A Vimeca não tem autocarros para aquilo que se propôs fazer. Eu vejo algumas pessoas que chegam ao fim do dia com os filhos e ficam 1h30 à espera que passe um autocarro às seis da tarde para ir para casa. Acho que isto se está a tornar insuportável”, critica Maria Paula Caeiro que é utilizadora regular dos autocarros da empresa. 

Além da carreira 131, a educadora reformada diz que a situação “mais complicada” acontece com a carreira 105 — que liga a Reboleira (estação de metro) a Monte Abraão — e serve, por exemplo, o centro de saúde de Monte Abraão. Fora as horas de ponta, o autocarro costuma passar de 40 em 40 minutos, mas este horário raramente é cumprido, nota Maria Paula Caeiro. “A mim impressiona-me muito os velhotes que querem ir ao centro de saúde e é uma desgraça”, nota. Há dias em que, conta, os motoristas já avisam logo de manhã se, de tarde, haverá ou não carreira. 

Como passam poucos, os autocarros andam muito cheios, diz Maria Paula Caeiro que teme um agravamento das condições com a entrada em vigor do passe único na Área Metropolitana de Lisboa (AML) já em Abril — que custará 40 euros e permitirá circular nos 18 municípios da AML — e com o aumento expectável da procura que isso trará. 

Confrontada pelo PÚBLICO com este relato, a Vimeca diz que “caso tenha ocorrido” alguma falha se tratou de “uma situação pontual”.

"Nós pagamos o passe e não temos transporte"

Desde o início do ano, foram escritas no Portal da Queixa 53 reclamações, algumas relatando situações idênticas à experiência de Maria Paula Caeiro: “Venho por este meio demonstrar o meu desagrado em relação ao (não) serviço prestado em duas carreiras que servem a rua onde moro. Moro em Belas e os autocarros que passam na rua onde moro são o 130 e 131 da empresa Vimeca. Este ano tem sido uma vergonha o que está acontecer, a minha mãe tem 70 anos e precisa de viajar nestes autocarros e quando suprimem algumas carreiras em determinados horários (que acontece dia sim, dia sim) ficamos prejudicados de duas formas, pagámos o passe e temos que arranjar uma solução para subir a uma rua íngreme (...)”, escreveu um utente a 25 de Fevereiro. 

O presidente da União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão, Pedro Brás, admite estar a par desta situação que tem sido recorrente — “praticamente todos os dias” — e diz que tem “insistido” com a Vimeca para que esta situação seja regularizada. Sobretudo na zona de Monte Abraão que como abrange uma área mais elevada, e tem uma população mais envelhecida, necessita que os autocarros assegurem as deslocações para estação de comboios ou para o centro de saúde. 

O autarca explica ainda que a empresa tem tido dificuldade em captar motoristas, uma vez que com o aumento do turismo estes foram sendo atraídos para operadores de transporte turístico. 

No interior dos autocarros da Vimeca há inclusive anúncios com apelos à inscrição na formação para motoristas. Pedro Brás diz que a empresa oferece a carta de condução e formação a quem estiver interessado em tornar-se motorista de transporte público. O autarca diz que, através do Gabinete de Inserção Profissional que tem na freguesia, tem tentado encaminhar pessoas para esta formação. 

“O que mais me custa é que todos nós pagamos o passe e não temos transporte”, lamenta a moradora de Monte Abraão. Para Maria Paula Caeiro, a empresa está a descurar agora o serviço porque não sabe se ganhará os novos concursos para a integração na Carris Metropolitana. Além dos passes únicos, a AML está a preparar mudanças nos autocarros que circularão na Grande Lisboa

Durante este ano será aberto um concurso público internacional, por vários lotes de redes municipais e intermunicipais, ao qual os operadores privados, incluindo aqueles que já operam neste momento, poderão concorrer. As empresas que ganharem os concursos operarão todas sob a mesma marca - Carris Metropolitana - que deverá entrar em pleno funcionamento em Janeiro de 2020. Nessa altura, todos os autocarros estarão pintados com a tradicional cor amarela da Carris. 

Questionada sobre se este alegado desinvestimento no serviço se prende com as alterações previstas e com a incerteza face ao futuro, a Vimeca apenas refere que “continua a investir na qualidade da sua frota, bem como no serviço que pretende prestar aos seus utilizadores”.

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