Teatro Nacional São João vai ter “companhia quase residente” em 2020

No dia do 99.º aniversário do edifício projectado por Marques da Silva, o teatro nacional portuense apresentou “dez ideias” e as linhas gerais para o centenário.

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Teatro Nacional São João é monumento nacional desde 2010 Nelson Garrido
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Pedro Sobrado Nelson Garrido

Ainda falta um ano para o centenário, mas no dia em que o edifício do São João assinalou o 99.º aniversário da sua inauguração – acontecida a 7 de Março de 1920, com uma récita da Aida, de Verdi –, o teatro nacional portuense convocou a população da cidade para conhecer o edifício por dentro, e deu a conhecer “Dez ideias para (mais) dez anos de Teatro Nacional São João [TNSJ]”, documento que identifica algumas das iniciativas que vão marcar a efeméride, em 2020-21.

Entre estas iniciativas ressaltam a constituição da “companhia quase residente”, prometida por Pedro Sobrado, presidente da administração do TNSJ, no final do Verão passado; a reabilitação do edifício projectado pelo arquitecto José Marques da Silva (1869-1947); a reactivação da programação internacional, em paralelo com a implantação da circulação regional das suas produções; e ainda um ambicioso programa editorial, em que irão sobressair os Cadernos do Centenário.

“O São João é um teatro com muitas falhas de memória: não dispõe de um arquivo e de um espólio próprio relativo ao seu passado”, realça Pedro Sobrado, falando ao PÚBLICO antes da sessão evocativa dos 99 anos do edifício da Praça da Batalha, realizada ao final da tarde desta quinta-feira. “A história errática do teatro e a progressiva decadência a que esteve votado ao longo dos anos”, diz o administrador, levou à dispersão de uma série de materiais, documentos e objectos, que serão indispensáveis à reconstituição da sua história quase centenária.

É a esse trabalho que o TNSJ vai agora lançar mãos, anunciando a realização de uma exposição que irá “pôr em perspectiva os cem anos do edifício”, nota Sobrado, e também a publicação do catálogo respectivo – com um calendário ainda a definir, mas seguramente a partir de Março de 2020 –​, além ainda de quatro volumes de Cadernos do Centenário. Os três primeiros documentarão a memória artística, crítica e gráfica das duas últimas décadas, correspondentes à actividade do São João como teatro nacional, após o edifício ter sido adquirido pelo Estado (em 1992) e depois reabilitado pelo arquitecto João Carreira.

O quarto volume será assinado pelo geógrafo e professor Álvaro Domingues (também cronista do PÚBLICO), a quem Pedro Sobrado desafiou “a trabalhar de uma forma livre e indisciplinada” sobre os cem anos do teatro e a sua relação com a envolvente da Praça da Batalha.

Os Cadernos do Centenário virão acrescentar-se a uma outra colecção de livros de ensaio, biografia e memórias já anunciada, a Empilhadora, que será inaugurada no segundo semestre do corrente ano com a edição da monografia monumental Falhar Melhor – A Vida de Samuel Beckett, de autoria de James Knowlson.

No final do ano do centenário, em 2021, o TNSJ irá ainda promover um colóquio internacional sobre os teatros nacionais na Europa, que tem como título provisório Tradições e metamorfoses.

Elenco de oito actores

Mas a administração e a equipa que actualmente dirige o Teatro São João – que, desde Janeiro, tem como novo director artístico o actor e encenador Nuno Cardoso – vai querer também assinalar o centenário com a concretização de um projecto acalentado desde há anos, e que a crise económica obrigou a deixar de lado: a constituição de “uma companhia quase residente, que permita um raciocínio mais consequente sobre a produção própria e a política de reportório”. “O estudo interno está feito, e estão reunidas as condições legais e orçamentais para reconstituirmos um elenco de oito actores a trabalhar connosco ao longo de todo o ano de 2020, e o nosso desejo é que este elenco sobreviva à festa”, diz Pedro Sobrado, lembrando que esse plano está agora apenas dependente das autorizações governamentais.

O plano para o centenário inclui também o anúncio de três novas produções próprias para 2020, todas com encenação de Nuno Cardoso: A Morte de Danton, de Georg Büchner; Castro, de António Ferreira (com estreia marcada para o Teatro Aveirense, a abrir uma digressão nacional); e A Varanda, Jean Genet.

Uma nova obra de intervenção transversal no edifício da Praça da Batalha, e também nos dois outros que integram o TNSJ – o Teatro Carlos Alberto (TeCA) e o Mosteiro São Bento da Vitória –, para reparar o desgaste naturalmente provocado pelo uso continuado dos seus espaços, é outro item para o programa do centenário, e que está a ser preparado em ligação com os ministérios da Cultura e do Planeamento. Trata-se de resolver problemas estruturais de infiltração de águas e de climatização, mas também da necessária renovação dos sistemas técnicos de palco, eléctricos e de segurança.

Esta primeira lista de iniciativas para assinalar os cem anos do Teatro São João – que foi classificado como monumento nacional em 2010 – inclui ainda a reactivação do projecto internacional do TNSJ, que passará pela reactivação do vínculo com a União dos Teatros da Europa (UTE), e a abertura de um novo caminho de intercâmbio com os países de língua oficial portuguesa. “No final do corrente ano vamos estar a trabalhar em Cabo Verde, abrindo uma colaboração que queremos que transcenda a mera exportação de espectáculos”, diz Pedro Sobrado, prometendo também para 2020 uma programação internacional regular nos diferentes palcos do teatro nacional portuense.

Simultaneamente, o TNSJ que abrir uma frente de implantação nacional e regional, privilegiando naturalmente o Norte do país, de Braga e Bragança a Aveiro e Viseu, mas sem esquecer Lisboa ou o Algarve.

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