Lagarde elogia progressos mas diz que Portugal tem de intensificar esforços para futuro

Directora-geral do FMI recomendou que Portugal avance com reformas estruturais e continue a reforçar o sistema bancário. E alertou para os riscos de um Brexit desordenado.

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Christine Lagarde foi a convidada do Presidente da República para a reunião do Conselho de Estado Reuters/ISSEI KATO

A directora-geral do FMI elogiou os "enormes progressos" de Portugal, mas frisou que é preciso intensificar esforços para estar preparado para o futuro, antecipando que a perda de confiança no mercado após um "Brexit" desordenado pode prejudicar o crescimento.

"Portugal deve intensificar os seus esforços para estar preparado para o futuro", afirmou esta sexta-feira Christine Lagarde ao discursar no Conselho de Estado, que decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa, onde a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi a convidada especial.

A responsável máxima do FMI elogiou os "enormes progressos" de Portugal, destacando o "progresso impressionante no corte do défice orçamental e na redução dos custos de financiamento", e agradeceu o pagamento da dívida ao FMI cinco anos antes do prazo.

"No FMI, temos plena consciência da determinação que permitiu a Portugal sair da sua crise económica", referiu. "Constatámos nas equipas portuguesas de ambos os Governos a mesma determinação em encontrar soluções eficazes", acrescentou.

Christine Lagarde disse também que "Portugal e os portugueses merecem um crédito enorme pelos seus esforços, dos quais devem estar orgulhosos". A responsável citou Luís de Camões e frisou que o país deve continuar a tradição de "preparar-se antecipadamente para tempos difíceis e ser flexível o suficiente para aproveitar as oportunidades que surgirem".

A directora-geral da instituição com sede em Washington frisou que "Portugal terá de continuar a inspirar-se na sua ilustre tradição, porque é provável que as águas da economia mundial se venham a tornar mais traiçoeiras", e recordou Vasco da Gama que "não tinha medo da escuridão".

"Os riscos no resto do mundo são cada vez maiores e é provável que representem a principal fonte de instabilidade para a economia portuguesa", disse Christine Lagarde, admitindo que "poderá ser difícil implementar agora reformas", mas que elas ajudarão depois "durante uma tempestade".

A directora-geral do FMI recomendou que Portugal continue a reforçar o sistema bancário e destacou que o reforço adicional do saldo orçamental de Portugal ajudará a acelerar o ritmo da redução da dívida e a diferenciar positivamente Portugal de outros países "altamente endividados".

Christine Lagarde indicou também que "reformas estruturais para aumentar a poupança, o investimento e a produtividade são essenciais para melhorar o nível de vida, ajudando a desalavancar a economia e a reduzir as vulnerabilidades".

E frisou ainda que Portugal tem de estar preparado para as rápidas mudanças tecnológicas que vão transformar a "forma como vivemos e trabalhamos", o que passa pela criação de instituições reguladoras que protejam os consumidores "sem asfixiar a concorrência", o desenvolvimento de um sistema de ensino orientado para as necessidades dos trabalhadores do futuro, e "a criação de redes de protecção sólidas para que aqueles que percam o emprego por causa da tecnologia não sejam deixados para trás".

Sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, a directora-geral do FMI afirmou que "todos os resultados prováveis do Brexit envolverão custos" para aquela economia" e frisou que serão tanto maiores quanto maiores forem as dificuldades que surgirem na nova relação com a Europa.

"Um Brexit desordenado também afectará Portugal", antecipou Christine Lagarde, acrescentando que "poderão ser prejudicadas importantes relações comerciais e de turismo" e que uma perda da confiança no mercado financeiro "pode conduzir a taxas de juro soberanas e bancárias mais elevadas que prejudicariam o crescimento".

Christine Lagarde sublinhou ainda a necessidade de cooperação mundial para "enfrentar os desafios económicos futuros", na sequência do aumento das tensões comerciais, do crescente endividamento à escala global, do abrandamento económico na China e na zona euro e de um Brexit desordenado.

E acrescentou que os líderes mundiais devem aproveitar o ambiente actual para avançar com políticas e reformas e criar reservas orçamentais e financeiras para um "crescimento sustentável, robusto e inclusivo".

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