Morreu André Previn, maestro, compositor, pianista jazz, vencedor de quatro Óscares

Começou a trabalhar nos estúdios de Hollywood aos 16 anos e foi distinguido com o primeiro Óscar por Gigi, em 1958, antes de se tornar maestro de instituições como a Royal Philarmonic Orchestra. A morte chegou aos 89 anos.

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André Previn em 1973, durante o período em que, continuando a assinar bandas sonoras, era maestro da Orquestra Sinfónica de Londres Bert Verhoeff / Anefo

Foi líder de orquestra e celebrado divulgador musical, compositor, pianista jazz e autor premiado de bandas sonoras para cinema, pelas quais lhe foram atribuídos quatro Óscares. A sua carreira começou cedo, quando entrou aos 16 anos na MGM para trabalhar no departamento musical daqueles poderosos estúdios de Hollywood, e continuou a construir a sua obra até ao fim. A morte chegou esta quinta-feira, aos 89 anos, na sua casa em Manhattan, Nova Iorque, mas André Previn deixou preparados para estreia dois trabalhos: um concerto para orquestra para a Dresden Staatskappele e um monodrama, com libreto de Tom Stoppard, tendo Penélope, a mulher de Ulisses, como centro.

“Um dia sem música é um dia perdido”, declarou Previn em 2007, como agora lembra o Guardian em obituário. Assim parece ter vivido a sua vida o músico nascido Andreas Ludwig Priwin em Berlim, em 1929, filho de um advogado e professor de música que foi responsável pela sua primeira formação musical. Fugido com os pais da Alemanha nazi, em 1938, começou por encontrar refúgio em Paris, depois em Nova Iorque e, por fim, em Los Angeles, onde iniciou precocemente a sua longa carreira.

O seu protagonismo fez-se inicialmente no cinema, tendo sido distinguido com quatro Óscares pelo seu trabalho em Gigi, de Vincente Minnelli (1958), Porgy & Bess, de Otto Preminger (1959), Irma La Douce, de Billy Wilder (1963), e My Fair Lady, de George Cukor (1964). Este foi o período em que se manifestou também de forma mais intensa a sua paixão pelo jazz, que frutificou, em privado, nas transcrições que elaborou de improvisações ao piano de Art Tatum, tentando desvendar a magia do génio, ou num álbum como Duet, uma colaboração com Doris Day gravada em 1962.

O seu percurso enquanto maestro começa a ganhar forma com a direcção da Orquestra Sinfónica de Houston, que liderou por dois anos a partir de 1967, o mesmo ano em que, com a sua segunda mulher, a compositora Dory Previn, assina a banda sonora de Vale das Bonecas, realizado por Mark Robson. Ao longo da sua vida, viria a ocupar o mesmo cargo na Sinfónica de Londres (1968-1979) e na Royal Philarmonic Orchestra (1985-1988), na Sinfónica de Pittsburgh (1976-1984) e na Filarmónica de Los Angeles (1985-1989).

Inspirado por Leonard Bernstein, o maestro que cedo percebeu as potencialidades do meio televisivo como plataforma pedagógica de divulgação musical para as massas, foi protagonista no pequeno ecrã, notabilizando-se principalmente em Inglaterra, onde estreou em 1969 Meet André Previn. Mais tarde, daria corpo a uma personagem de humor ainda hoje recordada no Reino Unido, Mr. Andrew Preview.

Além das bandas sonoras do início de carreira e do trabalho enquanto maestro, deixa uma obra multifacetada onde se incluem música de câmara, óperas como a que compôs para a encenação, em 1998, de Um Eléctrico Chamado Desejo, com a soprano Renée Fleming no papel de Blanche DuBois, ou Anne-Sophie, o concerto para violino que compôs em 2001 para uma das reconhecidas violinistas mundiais, Anne-Sophie Mutter.

Mutter foi a quinta e última mulher de André Previn (estiveram casados entre 2002 e 2006). Antes, fora casado com Betty Bennett, cantora que integrara as big bands de Woody Herman ou Benny Goodman, com a supracitada Dory Previn, com a actriz Mia Farrow, com a qual adoptou Soon-Yi Previn, actual mulher de Woody Allen, e com Heather Sneddon.

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