O nosso foie gras

Começa aqui a campanha para acabar com a expressão mais irritante do mundo da gastronomia: fígado de aves.

Começa aqui a campanha para acabar com a expressão mais irritante do mundo da gastronomia: fígado de aves.

Há tanto que se pode esconder sob o termo genérico aves! Os meus dicionários de aves têm mais de 500 páginas. Que aves podem estar a dar-nos o fígado? Abutres? Gaivotas? Pombos do Largo de Camões?

O mal é estarmos habituados a ler “fígado de aves”. Se fôssemos a um restaurante inglês e víssemos na ementa “birds’ liver”, será que seríamos tentados? Claro que não.

Se ainda não estranha, faça o favor de aplicar o monstruoso conceito a outras iguarias. Gostaria de comer um croquette de animais terrestres? Ou que tal um rissol de peixes? Ou um hambúrguer de ruminantes? Ou iscas de mamíferos? Ou bife de vertebrados?

É o plural que incita à confusão. Dá a ideia que o dono do aviário não tem pachorra para estar a separar os fígados. Tanto podem ser frangos, perus, codornizes, patos ou os corvos que morreram envenenados pelo glifosato.

A ASAE deveria exigir (se calhar já exige) que fossem identificadas as aves cujos fígados passamos ao estreito.

Da balbúrdia do fígado de aves passa-se facilmente para o encobrimento da empada de caça: a gente sabe lá o que é que o gajo caçou. Ele há tanta coisa que se pode caçar. Uma raposa? Um saca-rabos? Um lince ibérico?

Seguindo a mesma lógica, porque não uma caldeirada de pesca? Para quê estar a esmiuçar se são tainhas de cacilheiro, achigãs ou percas do Nilo? O que interessa é que, seja o que for, tenha sido caçado ou pescado.

Não precisamos de saber mais nada.

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