20 anos de Bloco. Onde estavam os 19 em 1999?

Não perguntámos onde estavam no 25 de Abril, mas pedimos que lembrassem o que faziam em 1999, ano em que o Bloco de Esquerda ganhou forma política. O que mudou no país, quais as causas que foram, e ainda são, bandeira de um projecto político que chegou à maioridade na esfera do poder. Como recorda um dos seus fundadores, Luís Fazenda: "Ainda não tínhamos nascido e já nos diziam 'não duram seis meses'. Já passaram vinte anos".

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Pedro Filipe Soares, 40 anos

Há 20 anos estava a estudar Matemática Aplicada na Faculdade de Ciências do Porto. Até aí, o meu percurso foi pautado pelo activismo no meio associativo, particularmente em associações juvenis ligadas à cultura e ao ambiente. Já tinha a memória de lutas importantes a que assisti de perto, como a dos mineiros do Pejão aquando do encerramento das minas, e a participação na campanha do primeiro referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Por isso, a política não me era estranha, conhecendo em particular a realidade partidária da UDP devido às relações familiares, mas nunca tinha dado o passo de me tornar militante de nenhum partido. Acompanhei com curiosidade as movimentações que, à esquerda, forjavam um novo projecto político.

Assisti à criação do BE com esperança, tendo participado na primeira reunião pública realizada em Aveiro. Contudo, só três anos mais tarde concretizei a adesão ao partido.

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Catarina Martins, 46 anos 

Estava a encenar O Veredicto, a partir do texto de Kafka, um projecto que levou teatro aos estabelecimentos prisionais. Tinha 26 anos, quase toda a vida vivida em democracia. Vi na escola pública em que andei a construção dessa democracia e um enorme projecto de inclusão e progresso social. Vivi nas lutas contra a PGA e contra as propinas a defesa empenhada desse projecto. Acompanhei o Bloco desde o seu início, com o entusiasmo de quem vê nascer uma nova esquerda num tempo novo. Os nossos percursos cruzar-se-iam com maior intensidade uma década mais tarde: em 2009 fui eleita deputada à Assembleia da República, anos mais tarde assumi a coordenação do Bloco. Olho para os últimos 20 anos com o orgulho de quem vê o contributo do Bloco em cada conquista que garantiu a dignidade das pessoas e a modernidade do país. Olho para os próximos com a responsabilidade de saber que está quase tudo por fazer.

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Mariana Mortágua, 33 anos

Andava na Cooperativa de Ensino do concelho de Alvito, estaria no sétimo ano, a maldizer o Francês mas a tentar compensar com a Matemática e Português. Cresci em Alvito, no Alentejo, onde volto sempre que possível. Poucos anos mais tarde juntei-me a uma ONG com sede em Coimbra, mas foi já no fim do curso, em Lisboa, que a economia e a política se cruzaram mais intensamente. Cheguei ao Bloco em 2009. Estávamos no início da crise e os anos que se seguiram marcaram a afirmação da austeridade como projecto económico e político. Sabendo isso, sei também que foi nesses anos que o país se confrontou com a realidade do sistema financeiro, com a violência da chantagem da banca e do directório europeu, e com as alternativas que se afirmavam. Foi um importante momento de politização, para mim e para muita gente, muitos jovens, que lutaram para combater a narrativa moralista que legitimava a austeridade, e pela afirmação de alternativas políticas e económicas. Estou certa de que o Bloco teve um papel determinante nesse processo de resistência, e que é e será uma parte importante das soluções que, colectivamente, temos de encontrar para responder pelas (e com) as pessoas que vivem e trabalham em Portugal.​

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José Manuel Pureza, 61 anos 

Não sei se há verdadeiramente uma linha que me tenha levado ao Bloco de Esquerda. Talvez haja. Muitos anos de o Bloco aparecer eu tinha militado primeiro no MES e depois na UEDS, vendo neles plataformas de refutação à esquerda quer da social-democracia quer do estalinismo. Depois, em 1986, envolvi-me muito na campanha presidencial de Maria de Lourdes Pintasilgo, vendo nela uma exigência de superação da democracia feita cerimonial por uma democracia feita contágio social. A minha ligação à Pro Urbe, em Coimbra, materializava tudo isso no plano local. Nas eleições europeias de 1994, tinha estado com a Política XXI, vendo nela uma desmistificação do europeísmo convicto que endeusava a Europa e ia metendo a democracia económica e social na gaveta. E em 1996 apoiei Sampaio contra Cavaco, vendo nele uma expressão de unidade contra o conservadorismo. Quando em 1999 o Paulo Varela Gomes me desafiou para eu sair da placidez da universidade e ser mandatário do Bloco em Coimbra, eu vi no Bloco o aprofundamento dessa procura de uma esquerda radicalmente democrática, dessacralizadora da política e da Europa e com uma vocação unitária. Foi por isso que fiquei. É por isso que cá estou.

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Joana Mortágua, 33 anos

Em 1999 eu estava demasiado ocupada a andar de bicicleta e a saltar barrancos para dar pelo nascimento do Bloco de Esquerda. No sétimo ano lutava com o Francês, convencida de que inventaram algumas disciplinas só para nos chatear, e só me alegravam as aulas de História do prof. Hugo. Na Cooperativa de Ensino do Concelho de Alvito, onde estudaram todos as crianças da terra até à construção da escola pública, o mais difícil era impedir-nos de escapar pelas “escadas dos professores”. Os privilégios sempre foram coisas difíceis de engolir. O atletismo, o cante alentejano e o activismo vieram pelas associações da terra ou pela escola. O Bloco só viria mais tarde, aos 18, pela mão de colegas da faculdade. A ligação entre democracia, partidos e vontade de mudar o mundo pareceu-me lógica. Nesse ano votei Bloco pela primeira vez e nunca mais me apeteceu fazer diferente. O Bloco tinha cinco anos. Crescemos juntos, e mesmo que hoje sinta que é como se tivesse estado cá desde o início, não há equívocos. Em 1999 eu estava no Alentejo a saltar barrancos.

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José Soeiro, 35 anos 

Há 20 anos, a escola António Sérgio era o centro do meu mundo. O almoço era sempre na casa da avó, que morava mesmo em frente, os primos todos à mesa. No fim da refeição, “O Cantos e os seus Intérpretes” na rádio, que o avô não dispensava. Na escola, tínhamos algumas causas que nos apaixonavam. Uma delas era muito simples: por que razão teria de haver umas escadas só para professores (as que ficavam junto à entrada), e outra para os alunos? Mais do que uma vez, organizámo-nos para quebrar a interdição. E quebrámos. Ao mesmo tempo, formava-se um movimento à escala nacional, pela educação sexual e crítico da revisão curricular da altura. Claro que nos metemos nisso. Por mais do que uma vez, fechámos a escola para irmos para os Aliados a pé, com o tabuleiro de cima da ponte por nossa conta. Dos Aliados, para onde convergiam as escolas das várias cidades, íamos para a DREN, no Bonfim. A nossa faixa tinha o mote que demos à Associação de Estudantes da escola: “Forma-te, não te conformes”. Tínhamos 14 e 15 anos e a vontade (que, no essencial, é a mesma) de pensar no fundamento das coisas. Convidámos o Zé Pacheco, da escola da Ponte, para fazer uma conversa lá na escola, na sala de convívio que restaurámos com as nossas próprias mãos. “Imaginem uma escola que não estivesse organizada em aulas, em turmas, em disciplinas e em anos.” Ali estava um adulto a dizer-nos que podíamos questionar tudo. Aproveitámos a deixa. No fim-de-semana, os encontros no “quadrado”, um enclave entre o prédio da Marta e o prédio do Vasco. Se ganhávamos lanço, lá íamos pelo “pinhal” até ao GaiaShopping, a grande novidade da nossa zona, que tinha aberto pouco antes.

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Jorge Costa, 44 anos 

Em 1999, eu terminara o curso havia dois anos e era um jornalista freelance em início de carreira, vivendo as maravilhas da primeira casa sem pais. Depois da tristeza da derrota no referendo sobre o aborto, 1999 foi para mim um ano de coisas nunca vistas. O nascimento do Bloco e a criação de novos laços militantes, o levantamento por Timor. E o trabalho no meu primeiro livro, Grandes Planos — um exercício de memória sobre um tema então pouco estudado, a resistência estudantil nas últimas duas décadas de ditadura; 50 entrevistas, a escrita a seis mãos, com Gabriela Lourenço e Paulo Pena, todos três vindos do movimento anti-propinas mas explorando a geração dos pais. Em Outubro, dois deputados na ponta esquerda do hemiciclo bastaram para começar a transformação do mapa político. O jornalismo ficou para depois. Passei a ser (sozinho e nos três anos seguintes) o gabinete de imprensa do Bloco de Esquerda.

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Pedro Soares, 62 anos

Há 20 anos participava activamente no surgimento do Bloco. Tinha 42 anos, docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, investigador do Centro de Estudos Geográficos. Era membro da direcção nacional da UDP.

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Jorge Falcato, 66 anos

Depois de ter tido uma actividade política partidária muito intensa no pós 25 de Abril, até meados dos anos 80, em 1999 a minha actividade cívica e política estava muito centrada no exercício da minha actividade profissional. Estava então na Câmara Municipal de Lisboa, onde optei por trabalhar na área da acessibilidade e mobilidade e nas questões mais gerais dos direitos das pessoas com deficiência. Fazia parte nessa altura do Secretariado Técnico do Conselho Municipal para a Inclusão das Pessoas com Deficiência e da Comissão Cidade-Aberta. A legislação de Acessibilidade tinha saído há dois anos e andei pelo país a fazer divulgação e formação em vários colóquios, seminários, workshops, etc., para que a lei fosse levada a sério. Faltou sempre financiamento para a cumprir. Nesse ano participei ainda no projecto europeu “The City and people with disabilities”, no início do Observatório Europeu Cidade e Vilas para Todos (Barcelona) e no Comité dos Assuntos Sociais da Rede Eurocities.

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João Vasconcelos, 63 anos

O ano de 1999 viu nascer no país uma nova força política, o Bloco de Esquerda, aquela “novidade essencial”, conforme disse na altura o ensaísta e escritor português Eduardo Prado Coelho, já falecido. Com efeito, aquelas sábias palavras revelaram-se premonitórias. O Bloco foi uma novidade e tornou-se essencial, incontornável até aos dias de hoje e assim permanece no presente e permanecerá no futuro, desde que continue fiel à matriz que o viu nascer. O Bloco de Esquerda propunha-se mudar o panorama político, introduzir uma nova forma de fazer política e reconfigurar o quadro político à esquerda. Defender os explorados, os trabalhadores, as minorias, os cidadãos e combater as injustiças e os poderosos. Lutas conduzidas com êxito até aos dias de hoje e novos êxitos se adivinham.

Desde a primeira hora aderi com entusiasmo à nova formação política, tanto mais que fazia parte dos órgãos regionais do Algarve e nacionais da UDP — um dos partidos que, juntamente com o PSR e a Política XXI, estiveram na génese da formação do Bloco de Esquerda. Desde os meus 19 anos que militava naquela força política, a qual foi responsável por dois despedimentos por parte de entidades privadas. No primeiro despedimento tinha pouco mais de 20 anos e trabalhava num escritório de contabilidade. O patrão, que era do CDS, aconselhou-me a mudar de partido e como não o fiz, obviamente, despediu-me. Mas cometeu um erro importante naquela altura — não me enviou carta de despedimento. Ganhei a causa em tribunal, recebi uma indemnização de 29 contos, com a qual comprei a minha primeira motorizada. O segundo despedimento, ou melhor dizendo, a não renovação do contrato de trabalho de controlador caixa de uma unidade hoteleira, já perto dos 30 anos, também foi devido à minha militância política e sindical e por ter feito greve.

Claro que não me arrependo nada do que fiz no passado em termos de militância política. Daí ter aderido e de me ter inscrito, com vivo entusiasmo, no novel Bloco de Esquerda. Em 1999 já tinha vários anos de ensino público, leccionando História na escola D. Martinho de Castelo Branco, em Portimão. E mais uma vez neste ano, voltei a ser eleito pelos meus colegas delegado sindical, ao serviço do Sindicato de Professores da Zona Sul, sindicato filiado na Fenprof. Nesta época, as lutas sindicais no seio dos professores também eram intensas e pujantes, e versavam matérias tão importantes como a defesa do estatuto da carreira docente, a gestão democrática das escolas, a organização curricular e até as lutas por aumentos salariais. Os docentes não estavam tão desgastados e sobrecarregados de trabalho como agora, pois estas duas últimas décadas foram funestas para a profissão, da responsabilidade dos governos que o país tem tido, governos do PS e do PSD/CDS.

Também no ano de 1999 exercia as funções de delegado do grupo de História na escola onde leccionava. E inerente a estas funções era membro do conselho pedagógico, onde os diversos assuntos eram discutidos amplamente e com vivacidade. Ao contrário dos dias de hoje, em que os conselhos pedagógicos se transformaram em meros órgãos acríticos e consultivos dos directores das escolas e agrupamentos de escolas, salvo raras excepções. Ainda naquele ano era mestrando em História Contemporânea, curso que terminei em 2001, precisamente no ano em que foram eleitos os primeiros dois deputados do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã e Luís Fazenda. Embora tivesse sido um ano fatídico à escala internacional com o ataque às Torres Gémeas. Finalmente, e ainda em 1999, participei em mais um Congresso do Algarve, organizado pelo Clube Racal de Silves. Um importante e interessante fórum regional onde se discutiam, regularmente de dois em dois anos, as actividades económicas, a cultura e o património, a história, a organização territorial e outros temas relevantes da região. Apresentei diversas comunicações, algumas sobre a Regionalização – precisamente um dos temas que hoje continuam na ordem do dia no âmbito da descentralização. E uma descentralização de competências só será efectiva e séria quando também contemplar o patamar da criação das Regiões Administrativas.

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Luís Monteiro, 26 anos

No ano de 1999, tinha eu seis anos de idade e frequentava o 1.º ano do ensino primário, na Escola E.B. 1 do Cedro, em Vila Nova de Gaia. Marcava o início do meu percurso escolar que, até ao último ano do meu mestrado, foi realizado sempre no ensino público. Dez anos após a criação do Bloco, em 2009, juntava-me a este partido-movimento e iniciava, em paralelo, o meu percurso associativo na Associação de Estudantes da Escola Artística Soares dos Reis, no Porto. Vinte anos após a criação do Bloco, sou um dos 19 deputados no Parlamento e assumi as pastas com quem sempre mantive contacto: Ensino Superior e Cultura.

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Moisés Ferreira, 34 anos

Há 20 anos estaria no 7.º ano na EB 2,3 de São João da Madeira. Fiz parte das primeiras turmas que ali começaram a frequentar o 3.º ciclo. Ainda não sabia, mas já não faltaria muito até começar a ir a iniciativas do Bloco de Esquerda. O primeiro comício terá sido um das presidenciais, em 2001. As razões para esta participação são as mesmas de hoje: olhar para a sociedade e perceber que existem inúmeras injustiças a serem combatidas. Saber que os trabalhadores devem ganhar mais porque é inadmissível trabalhar toda a vida e continuar na pobreza. Saber que não pode haver lugar a qualquer tipo de discriminação na sociedade. Saber que só à esquerda é que estas batalhas podem ser travadas.

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Isabel Pires, 29 anos

Em 1999 tinha nove anos apenas. Estava na Escola Básica 1.º Ciclo de Cadavão, em Vila Nova de Gaia. Até terminar os estudos, sempre frequentei a escola pública, tendo vindo para Lisboa no ano lectivo de 2009/10, onde tirei o curso de Ciência Política e Relações Internacionais. Um ano antes, em 2008, entrava no Bloco de Esquerda. Inconformada desde cedo, o percurso político começou mais a sério na faculdade e no movimento estudantil. Ainda durante os estudos, comecei a trabalhar, tendo passado por vários call center. Ao mesmo tempo, mantive sempre participação política, fosse no movimento laboral, fosse na cidade de Lisboa em nome do Bloco de Esquerda. Em 2015 fui uma das 19 eleitas do Bloco de Esquerda para a Assembleia da República, estando a acompanhar as áreas do Trabalho e Segurança Social e Assuntos Europeus.

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Carlos Matias, 68 anos 

Há 20 anos tinha 47 anos e era quadro da PT, em Santarém. A minha actividade profissional era muito absorvente. Mas outras preocupações me envolviam. Já ia, então, com mais de 30 anos de activismo político, antes e depois do 25 de Abril. A minha anterior e longa militância e as inúmeras dificuldades que enfrentava davam-me experiência. Davam-me também a clara percepção de que era necessário juntar forças e começar de novo. O anúncio de que viria aí uma “coisa” nova, um novo partido agregando sensibilidades e percursos diversos respondia a essa minha inquietação. À minha e à de muitos outros e outras, como se viu quando nasceu o Bloco de Esquerda.

Construir um partido-movimento de raiz popular, plural, combativo e influente não foi e não é tarefa fácil. Começamos de novo todos os dias. Agora com mais 20 anos.

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Sandra Cunha, 47 anos

Tinha 26 anos e regressado recentemente de Paris. Desigualdades e discriminações diversas impulsionaram um envolvimento mais activo em várias causas: os direitos das mulheres e das pessoas LGBTI, a protecção das crianças ou dos animais. Retomava, por essa altura, os estudos, tendo vindo a efectuar o meu percurso académico, em Sociologia, no ISCTE, enquanto trabalhadora-estudante. As inevitáveis comparações entre França e Portugal, relativas às dificuldades do quotidiano, da mobilidade e transportes, aos direitos laborais, ou ao acesso à saúde, habitação ou educação foram o mote para uma intervenção pública mais activa. Daí à militância no Bloco de Esquerda foi um passo óbvio e um caminho natural. Aderi ao Bloco a 17 de Janeiro de 2000, partido-movimento, feminista, anti-racista e anti-capitalista no qual me revia e com o qual partilhava e a mesma visão e projecto para o futuro.

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Ernesto Ferraz, 45 anos

Sem me recordar do que fiz no dia exacto em que o Bloco foi fundado, sei que à data frequentava a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional na FCSH. Participava nas lutas estudantis da época, em particular na luta contra as propinas. A minha consciência política, enquadrava-a na linha do PSR. Nas primeiras eleições como votante, fi-lo na UDP porque no círculo eleitoral onde estou recenseado, na Madeira, não constava o PSR no boletim de voto. Devido ao peso da UDP nesta região autónoma, e pelo facto do PSR e Política XXI lá srem inexistentes, houve uma fase de transição para o Bloco até ao ano 2004. Regressado à Madeira, inscrevi-me de livre vontade e muita convicção no Bloco, em finais de 2008, militando activamente desde Janeiro de 2009, ano a partir do qual tenho sido dirigente regional. Com vinte anos de existência, o Bloco escreveu várias páginas de avanço social na história política socialista de Portugal mas o caminho a percorrer continua em aberto e com muita margem de progressão.

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Heitor de Sousa, 66 anos

Há pouco mais de 20 anos, por esta altura do calendário, já se ultimavam os preparativos para a criação de um novo partido político que tinha como objetivo político central vir a ser um pólo alternativo aos partidos da esquerda tradicional, o PS e o PCP. Antes desse último passo, percorreu-se um caminho relativamente complexo, por parte de cada uma das organizações que pré-existiram ao Bloco de Esquerda: o PSR, a UDP e a Política XXI, a que se tinham juntado dezenas de ex-militantes e activistas de vários quadrantes da esquerda não-reformista. Cada partido discutiu e aprovou a fusão em nome de uma realidade política e organizativa nova, bastante diferente das experiências realizadas até então: um partido-movimento que apostava num formato organizativo diverso mas moldável às varias realidades partidárias que lhe pré-existiram. Pela minha parte, enquanto membro da direcção cessante do PSR, contribuí o melhor que soube para que, no derradeiro congresso do PSR, o caminho da fusão fosse aprovado por larga maioria.

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Maria Manuel Rola, 35 anos 

Eu estava no 9.º ano e morava em Cortegaça. Tenho duas memórias vincadas dessa altura: a velha vontade de pintar o cabelo de azul e a indecisão sobre os estudos que me apeteciam. O Penta do FC Porto, festejado nesse ano, levou a que a primeira vontade se concretizasse finalmente com uma história rocambolesca. E o interesse que as artes ganhavam em mim acabou por precipitar a opção pelo curso tecnológico de artes e indústrias gráficas. Já com o Bloco só me encontrei definitivamente a meio caminho: uma década depois da fundação, precisamente em 2009, inscrevi-me. Foi o furacão da austeridade, que começava nessa altura a varrer um projecto de país justo e solidário, que me trouxe para o combate partidário. A minha intuição estava certa e a tempestade intensificou-se desde então. Das últimas duas décadas fica a convicção de que o país mudou muito e o que se previa em 1999 ficou demasiado aquém do que esperávamos. Do percurso do Bloco, guardo a certeza de que o caminho foi longo e afirmativo mas que muito está também por percorrer.

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Fernando Barbosa, 47 anos

Era revisor da CP na linha da Póvoa e Guimarães. Não tinha qualquer orientação no espectro político. Dois acontecimento mudariam a minha vida em 1999: inicia-se a primeira frente de obra do metro do Porto, em Campanhã, e surge o Bloco de Esquerda. Pela primeira, iniciou-se o processo que culminou com a passagem de vários trabalhadores oriundos da CP para a Metro do Porto. A par de outros, iniciei processos de formação que permitiram a certificação como maquinista e posteriormente como Regulador no Posto Central de Comando da Metro do Porto. Ao nível político, o Bloco foi a força que me fez acreditar que era possível fazer diferente pelos trabalhadores, pelas pessoas, pela maioria que constrói o país. É no cruzamento destas lutas que se dá a minha adesão ao Bloco.

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