Por uma Venezuela livre

O que está mal é simples: é o regime, que é claramente sanguinário, criminoso e estúpido! É uma ditadura que usurpou o poder democrático.

Impedir uma delegação de deputados europeus de entrar em território venezuelano pelas autoridades de Caracas, inviabilizando o convite da Assembleia Nacional para que representantes do Parlamento Europeu visitassem a Venezuela e se encontrassem com o Presidente interino, Juan Guaidó, foi mais um acto provocatório e reprovável de um regime desesperado, que teima em não reconhecer publicamente uma situação trágica e insustentável no plano político, económico e social.

Na sequência, Manfred Weber, presidente do grupo parlamentar do Partido Popular Europeu, sugeriu a retirada de credenciais e do cancelamento da participação no grupo de contacto por Bruxelas, que tem como objectivo fomentar o diálogo político e discutir a crise na Venezuela, o que foi recusado por Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para a Política Externa.

A vida dos venezuelanos, como era previsível, tem vindo a agravar-se dramaticamente. “Oito em cada 100 venezuelanos come o que encontra no lixo”, informava-nos Pedro Sá Guerra, na reportagem “A minha Venezuela”, emitida pela Antena 1, em Junho de 2018.

Como cidadã comprometida com a dignidade da pessoa humana, não posso ficar indiferente à situação que se vive neste país, onde 90% da população é pobre e 61% vive em pobreza extrema.

A fome é uma realidade quotidiana e constitui um murro no estômago para todo o mundo livre: milhões de crianças venezuelanas só fazem uma refeição diária. Comprar um quilo de carne é um luxo num país rico em recursos energéticos e minerais.

Cada dia é, assim, uma luta pela sobrevivência para a maioria dos 32 milhões de venezuelanos. Para que servem as maiores reservas petrolíferas do mundo, se os venezuelanos não conseguem comprar uma bateria de automóvel? Para quê encherem um depósito com os combustíveis mais baratos do Planeta, se não conseguem comprar um pedaço de carne ou uma fatia de pão?

O que está mal é simples: é o regime, que é claramente sanguinário, criminoso e estúpido! É uma ditadura que usurpou o poder democrático. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) transformou a Venezuela no país mais violento da América Latina em que se computam 23.047 homicídios só em 2018. Há milhares de presos políticos nas cadeias e outras centenas encontram-se em parte incerta. O Exército cala a imprensa e controla a gestão do Estado, sobretudo as empresas petrolíferas. O aparelho judiciário obedece às ordens do regime. 

A BBC News retrata um país onde os cadáveres “explodem nos necrotérios”. A “revolución económica”, que pretendia sacudir “el mundo entero”, proclamada por Nicolás Maduro no Verão de 2018, conduziu a uma catástrofe: “no hay comida”.

É, assim, admirável a coragem de Juan Guaidó, que é hoje a voz legítima de um povo que na esmagadora maioria clama por democracia, direitos e liberdades. A comunidade internacional não pode demitir-se deste combate, sendo que, na Europa democrática, a maioria dos países da União reconhece Guaidó como o líder para fazer a transição até que o povo, em liberdade e em consciência, possa erguer um futuro.

Também Portugal deve olhar com preocupação para o drama da Venezuela, não apenas porque 300 mil portugueses e luso-descendentes residem no país, mas porque há uma causa que ultrapassa todas as fronteiras e é um imperativo civilizacional lutar pela dignidade do povo venezuelano e da sua “patria querida”.

O mandato democrático e os poderes da Assembleia Nacional da Venezuela, eleita em Dezembro de 2015, devem ser restaurados. A guerra civil é evitável se os militares a abandonarem as amarras do narcoregime e ouvirem o grito justo do povo, que aceitará uma amnistia concedida a todos aqueles que estiveram do lado certo da História e evitaram um banho de sangue.

Estou certa de que a dignidade triunfará sobre o medo e a liberdade destruirá as amarras do chavismo-madurismo condenado, mas ainda em estado de negação. Pugnaremos, assim, para que a Venezuela possa ser um país livre num amanhecer próximo, abrindo uma era de fraternidade, de esperança e de prosperidade para o seu povo.

É que a mentira não pode subsistir e a força da moral acabará por vencer a moral da força!

Isabel Meirelles

Vice-Presidente do PSD

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