Hospitalização domiciliária no SNS – Um novo caminho

A hospitalização domiciliária é um caminho que temos que seguir e que os doentes vão exigir. Um caminho de sustentabilidade e qualidade para o nosso Serviço Nacional de Saúde.

O Sr. João vive em Abrantes e a D. Odete em Belver. Em dezembro, ambos precisaram de recorrer ao Hospital de Abrantes – Centro Hospitalar do Médio Tejo. A D. Matilde de Arouca e o Sr. António de Santa Maria da Feira, utentes do Centro Hospitalar de Entre o Douro e o Vouga, também tiveram que recorrer ao hospital.

Após o diagnóstico, e com a concordância dos doentes, a equipa médica concluiu que ficariam internados em casa e que uma equipa de profissionais se deslocaria todos os dias aos seus domicílios, com benefícios claros na recuperação, uma vez que mantinham a companhia da família e ficavam menos expostos a infeções hospitalares. Nesta história, só os nomes dos doentes são fictícios. Tudo o resto é verdadeiro e já possível em vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde, na sequência do Despacho n.º 9323-A/2018, publicado no dia 3 de outubro de 2018, num período em que desempenhava funções como secretária de Estado da Saúde.

O Despacho, que determinou a estratégia de implementação de Unidades de Hospitalização Domiciliária no Serviço Nacional de Saúde (SNS), permitiu que mais de 20 hospitais de todo o país estejam já a concretizar desde essa altura os seus planos estratégicos para abrirem estas unidades.

O Hospital Garcia de Orta, em Almada, foi o primeiro e serviu de inspiração a esta estratégia. O Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) seguiu os passos de outras unidades, como o Centro Hospitalar de Entre o Douro e o Vouga. A iniciativa foi oficialmente lançada em dezembro de 2018 e no próximo mês vai avançar no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa

As Unidades de Hospitalização Domiciliária não são apenas mais um projeto ou uma forma de disponibilizar cuidados de saúde. Elas estão no cerne de uma reforma estrutural que vai ao encontro das necessidades dos doentes de hoje e que prepara o SNS para os desafios de amanhã. Este modelo de resposta está já implementado em regiões de vários países e a literatura existente, com avaliações muito sólidas, tem comprovado ser uma aposta estratégica para a modernização da organização dos serviços de saúde, que Portugal está a acompanhar. Uma resposta em proximidade, segura, de qualidade e humanizada.

Esta resposta exige uma reorganização diferente dos tradicionais serviços que hoje temos dentro do hospital, começando pela forma como devemos envolver os doentes, as suas famílias e os profissionais de saúde. O centro do modelo é o doente e é ele que gere o seu processo de doença e tratamento envolvendo a sua família, sempre que isso seja possível, no ambiente e conforto da sua casa, onde pode vestir o seu pijama, manter algumas das suas rotinas e estar mais próximo dos objetos que lhe são queridos

Aos profissionais de saúde competem as funções de cuidar o doente na sua casa, num ambiente familiar de proximidade, sem o stress que o ambiente hospitalar acaba por acarretar, podendo assim partilhar ensinamentos e responsabilidades e fazendo com que a recuperação seja seguramente mais rápida e eficaz – até porque a hospitalização no domicílio reduz logo à partida um dos maiores riscos da permanência numa instituição de saúde: a aquisição de uma infeção hospitalar que pode comprometer a restante recuperação.

O desenvolvimento tecnológico que se tem feito na área da saúde nos últimos anos tem tornado possível fazer em casa o que há pouco tempo só era possível fazer num hospital, como vários tipos de análises. Existem também cada vez mais aparelhos que permitem ligar o doente ao hospital através da Internet, o que possibilita o acompanhamento e o controlo remoto das situações clínicas.

Estudos recentes demonstram que 46% dos cuidados hospitalares podem ser feitos em casa dos doentes, principalmente nos doentes com doença crónica. A assistência em casa está a aumentar 10% ao ano a nível mundial. A hospitalização domiciliária é um caminho que temos que seguir e que os doentes vão exigir. Um caminho de sustentabilidade e qualidade para o nosso Serviço Nacional de Saúde.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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