“Também temos direito a uma vida boa”, diz a China aos EUA

China resiste a apelos de aceleração das reformas e de abertura da sua economia no arranque das últimas rondas negociais com os EUA antes do fim da trégua comercial entre os dois países.

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EUA e China estão à procura de acordo comercial antes do final deste mês Reuters/Damir Sagolj

A pouco mais de uma semana do fim da trégua e no inicio de mais uma ronda negocial entre os dois países, os representantes da China pediram aos EUA que respeitem o direito do país a desenvolver-se e melhorar a vida dos seus cidadãos.

Num tom que revela as dificuldades que as duas maiores potências económicas mundiais estão a ter em entender-se, o conselheiro de Estado chinês Wang Li, presente em Washington para liderar a delegação chinesa em mais uma ronda de negociações, defendeu perante os seus homólogos norte-americanos que “tal como os EUA, também  a China tem direito a desenvolver-se e também a população chinesa tem direito a uma vida boa”. A citação é feita pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Os Estados Unidos ameaçam voltar a subir as taxas alfandegárias aplicadas a várias importações provenientes da China caso os dois países não consigam chegar a um acordo até ao próximo dia 1 de Março, acusando o gigante asiático de práticas comerciais injustas e de criação de obstáculos ao investimento estrangeiro, incluindo a aplicação de preços abaixo do mercado em alguns sectores, a violação da propriedade intelectual, a obrigatoriedade de transferências tecnológicas e a manipulação da divisa.

Nas últimas semanas têm sido dados pela China sinais de cedências em algumas frentes, com a tentativa de agradar à Casa Branca. Do lado norte-americano, Donald Trump tem mostrado ocasionalmente optimismo em relação ao desfecho das negociações, admitindo a possibilidade de um acordo ou de pelo menos de um prolongamento da trégua. No entanto, em várias questões, a concretização de um entendimento entre as duas partes continua difícil.

“Os EUA devem reconhecer que o desenvolvimento da China é do interesse do resto do mundo, incluindo dos EUA. Só assim se podem resolver certos problemas, incluindo problemas económicos e comerciais”, afirmou ainda Wang Li.

A argumentação agora apresentada pela China parece ser uma resposta à tentativa dos EUA de levar a China a acelerar o processo de reforma estrutural e abertura ao exterior da sua economia. Em causa nas negociações não estão apenas níveis de taxas alfandegárias das duas partes, mas principalmente a forma como as autoridades chinesas têm vindo, ao longo das últimas décadas, a aplicar políticas que apostam na capacidade de as suas empresas conquistarem os mercados internacionais, ao mesmo tempo que preservam o domínio do mercado interno.

Na China, existe uma grande resistência a acelerar um processo de reforma económica que Pequim deseja que seja gradual. “As negociações não devem tentar forçar a Pequim a mudar a sua governação económica ou mesmo o seu caminho para o desenvolvimento”, afirmava esta quarta-feira o editorial do jornal publicado pelo Partido Comunista chinês.

Entretanto, a incerteza em relação ao desfecho das negociações entre a China e os EUA parece estar a ter o seu impacto na economia mundial. Esta terça-feira, a Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciou uma descida do índice que mede o desempenho do comércio internacional. O World Trade Outlook Indicator registou nos primeiros três meses do ano uma descida para os 96,3 pontos, o valor mais baixo desde Março de 2010, apontando para uma expansão do comércio baixo da tendência. A OMC diz que o abrandamento da economia mais forte que o esperado e a incerteza em relação aos conflitos comerciais são os motivos por trás da descida deste indicador.

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