Profanados 80 túmulos de cemitério judeu na Alsácia em dia de marcha contra anti-semitismo

Foi dia de marchas contra o anti-semitismo em França. Macron visitou Memorial da Shoah, mas é contra lei que criminalize o anti-semitismo.

Os túmulos profanados no cemitério judeu de  Quatzenheim, perto de Estrasburgo
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Os túmulos profanados no cemitério judeu de Quatzenheim, perto de Estrasburgo Vincent Kessler /Reuters
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Marcha contra o anti-semitismo em Paris Reuters

Cerca de 80 túmulos do cemitério judeu de Quatzenheim, na Alsácia, foram profanados nesta terça-feira. O crime foi descoberto horas antes do início de marchas de protesto pelo aumento do anti-semitismo em França. 

O ministro do Interior Christophe Castaner disse em declarações à rádio RTL que o Presidente Emmanuel Macron visitará o cemitério ainda nesta terça-feira, antes de visitar o Memorial da Shoah, museu do Holocausto, em Paris.

Macron não participa nas marchas, mas estava previsto que dois antigos chefes de Estado marchassem em Paris, François Hollande e Nicolas Sarkozy, assim como o primeiro-ministro Édouard Philippe.

As sepulturas foram marcadas com suásticas azuis e amarelas e numa foi feita a inscrição “Elsässisches Schwarzen Wölfe” (Os lobos negros da Alsácia). Trata-se de um grupo da Alsácia activo na década de 1970 que lutou pela autonomia da região.

O prefeito do Baixo Reno (um cargo semelhante ao dos antigos governadores civis), Jean-Luc Marx, condenou o “odioso acto” e expressou o seu “total apoio à comunidade judaica, que foi novamente alvo” de uma manifestação de ódio.

“O anti-semitismo prejudica os valores da República compartilhados por todos os franceses. Nenhuma violência, nenhuma manifestação de ódio ou intolerância devem comprometer a convivência”, disse Marx.

A profanação em Quatzenheim aconteceu dias depois de o Governo ter anunciado que o surto de ataques de anti-semitismo em França está a aumentar. Foram dados números: no ano passado registaram-se 541 incidentes, 47% mais do que em 2017 (311).

Uma realidade que motivou a organização das marchas, cuja pertinência foi reforçada após as agressões sofridas no fim-de-semana pelo escritor e filósofo Alain Finkielkraut durante uma manifestação dos Coletes Amarelos. Ao sair de um táxi e deparar com vários manifestantes, o filósofo foi insultado e apelidado de “porco sionista”, tendo a agressão sido registada num vídeo.

“O anti-semitismo é a negação da República, tal como atacar eleitos ou instituições é também negá-la. Seremos implacáveis contra quem cometer este tipo de crimes”, dissera o Presidente francês, que nesta terça-feira fará um novo discurso sobre o tema no Memorial da Shoah.

Macron tem sido confrontado com a possibilidade de o anti-semitismo ser criminalizado em França — o Presidente é contra. A possibilidade de a formação política fundada por Macron, A República em Marcha, propor um projecto de lei nesse sentido vai ser avaliado nesta terça-feira pelo partido — trata-se de uma proposta da deputada Sylvain Maillard.

“Penso que penalizar o anti-semitismo não é uma boa solução”, disse Macron nesta terça-feira. “Isso não nos faz estar juntos, ser uma República. Construir a República é educar, formar”, defendeu.

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