Paquistão quer dialogar com a Índia sobre Caxemira, mas avisa contra “acções aventureiras”

Ataque da semana passada, que matou 42 soldados indianos, fez subir a tensão no território disputado pelos dois países há mais de 70 anos.

Foto
Imran Khan, primeiro-ministro do Paquistão Reuters/CAREN FIROUZ

O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, disse nesta terça-feira que o país responderá a “quaisquer acções aventureiras da Índia” que ponham em causa a soberania do Paquistão, ao mesmo tempo que se mostrou disponível para o diálogo. A tensão entre os dois países vizinhos, ambos com poder nuclear, subiu na última semana após um ataque de separatistas de Caxemira que matou 42 soldados indianos.

O ataque suicida da semana passada foi reivindicado pelos militantes do Jaish-e-Mohammad, um grupo separatista islamista que luta pelo fim do domínio indiano sobre uma parte do território de Caxemira.

Os dois países reivindicam a soberania sobre toda a região de Caxemira, mas o território foi dividido em duas partes em 1947, depois de a Índia ter abandonado o império britânico.

A parte mais a norte é administrada pelo Paquistão e a parte mais a sul, também de maioria muçulmana, é controlada pela Índia. É nesta zona mais a sul, no estado indiano de Jamu e Caxemira, que actuam os grupos separatistas islamistas.

A Índia acusa o Paquistão de usar esses grupos separatistas para fomentar a instabilidade na região, mas o Paquistão nega as acusações e diz que é a principal vítima do terrorismo.

Resposta indiana

Na segunda-feira, o Exército indiano lançou uma ofensiva numa aldeia de Jamu e Caxemira, onde estariam escondidos alguns dos responsáveis pelo ataque da semana passada contra uma caravana militar indiana. Na troca de tiros morreram pelo menos nove pessoas — quatro militares e um polícia indianos, três militantes e um civil.

Nesta terça-feira, o responsável pelo Exército indiano em Caxemira, o tenente-general KJS Dhillon, voltou a acusar os serviços secretos paquistaneses de “controlarem” os grupos separatistas.

“O ataque [da semana pasada] foi controlado pelos serviços secretos paquistaneses e por comandantes do Jaish-e-Mohammad”, afirmou o responsável, sem fornecer provas.

“Retaliação garantida”

Devido à subida da tensão, o primeiro-ministro do Paquistão dirigiu-se nesta terça-feira ao país através da televisão. Na comunicação, Imran Khan apelou ao Governo indiano para que apresente provas do envolvimento do Paquistão no ataque da semana passada.

“A Índia tem de parar de culpar o Paquistão sem provas. Quaisquer acções aventureiras da parte da Índia para ameaçar a soberania do Paquistão terá uma retaliação garantida”, disse Khan.

No entanto, o chefe do Governo paquistanês disse também que está disposto a trabalhar em conjunto com o Governo indiano nas investigações, e afirmou que só o diálogo pode levar a uma solução pacífica a Caxemira.

“A Índia tem de fazer uma introspecção sobre as causas da violência em Caxemira”, disse Imran Khan, numa referência aos protestos da população muçulmana no território controlado pela Índia — além da existência de grupos separatistas armados, entre a população civil há também protestos e acusações de abuso de poder e violência policial por parte das autoridades indianas.

A situação em Caxemira é um assunto muito sensível para as populações dos dois países.

Na declaração desta terça-feira, o primeiro-ministro paquistanês justificou-se com a visita oficial ao Paquistão do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, para não ter falado mais cedo sobre os acontecimentos na região.

Na Índia crescem os apelos para que o Governo responda com dureza ao ataque da semana passada, numa altura em que o país se prepara para umas eleições legislativas que se prevêem muito disputadas — e onde o nacionalismo indiano é uma das questões mais importantes.

Sugerir correcção
Comentar