Mulher queixou-se de agressor antes de ser morta, mas justiça ainda investigava o caso

Ana Maria Silva é a décima vítima fatal adulta de violência doméstica desde que o ano começou.

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Manifestacao "Parem de nos matar", dia 14 de Fevereiro, no Porto Ines Fernandes (arquivo)

A mulher de 53 anos morta este domingo à noite a tiro na Golegã já tinha feito queixa do seu agressor à GNR pelo menos uma vez, no ano passado. Mas a Justiça não actuou a tempo de salvar esta vítima.

Confirmando a existência de uma queixa, a Procuradoria-Geral da República explica que o agora homicida chegou a ser constituído arguido. Mas a investigação “ainda não estava concluída, tendo o Ministério Público ordenado a realização de diligências complementares às já realizadas pela GNR”. O PÚBLICO está a tentar saber se foi decretada alguma medida de coacção ao suspeito, um empregado fabril de 62 anos.

Ana Maria Silva tinha uma oficina de cerâmica na Chamusca e tinha tido um relacionamento intermitente com este homem, que não se conformava com o fim do relacionamento e continuava a persegui-la, ameaçando-a. No ano passado terá mesmo chegado a vias de facto, agredindo-a.

Este domingo ficou à espera da mulher à porta de um estabelecimento de diversão nocturna, a danceteria São Martinho, junto à Estrada Nacional 118. Ao vê-la sair acompanhada por outro homem, atingiu-a pelas costas com pelo menos dois disparos de caçadeira. Também disparou sobre o seu acompanhante, que apenas sofreu ferimentos ligeiros.

Depois fugiu, refugiando-se na casa de uma irmã, tendo sido aí que a GNR o foi encontrar. Deverá ser indiciado por pelo menos dois homicídios, um dos quais na forma tentada.

Desde que o ano começou já foram mortas dez mulheres e uma criança em contexto de violência doméstica. Na sequência dos homicídios do Seixal o Governo anunciou este mês que os Departamentos de Investigação e Acção Penal do Ministério Público vão passar a contar com gabinetes de apoio às vítimas. O objectivo é “aperfeiçoar os mecanismos de protecção da vítima nas 72 horas subsequentes à apresentação de queixa nos órgãos de polícia criminal”, estando ainda previsto o “reforço da articulação e cooperação entre forças de segurança, magistrados e Organizações Não-Governamentais que trabalham a prevenção e o combate à violência doméstica”. Com Ana Cristina Pereira

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