Pedro Graça deixa direcção do Programa Nacional para a Alimentação Saudável

"O poder político continua muito concentrado numa lógica curativa e pouco preventiva da doença", lamenta Pedro Graça, cuja saída foi oficializada esta sexta-feira em Diário da República. Cargo será ocupado pela nutricionista Maria João Gregório.

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Pedro Graça pediu para deixar de dirigir o Programa para a Alimentação Saudável da DGS Nélson Garrido

O nutricionista Pedro Graça deixou a direcção do Programa Nacional para a Alimentação Saudável da Direcção-Geral de Saúde (DGS), criado em 2012. Para o seu lugar foi nomeada a nutricionista Maria João Gregório, a quem caberá doravante a promoção de práticas alimentares saudáveis na população portuguesa. 

De acordo com o despacho publicado esta sexta-feira em Diário da República, a substituição faz-se a pedido do próprio Pedro Graça que assumiu há pouco o cargo de director da Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), onde era docente desde 1997. "Do ponto de vista ético, não fazia sentido para mim ser director de duas coisas que se tocam", confirmou ao PÚBLICO.

Nos últimos anos, a equipa liderada por Pedro Graça bateu-se pela redução de sal e do açúcar em produtos como o fiambre, batatas fritas, iogurtes e cereais de pequeno-almoço, no âmbito da estratégia para a alimentação saudável dos portugueses, lançada em 2017 e que contou com o envolvimento de sete ministérios. Em 2016, tinha conseguido um acordo que permitiu reduzir o açúcar por pacote de oito para cinco a seis gramas, prevendo-se que, a partir de 1 de Janeiro de 2020, os pacotes que acompanham o café nas grandes superfícies não tenham mais do que quatro gramas

Num olhar retrospectivo, Pedro Graça elenca como grande vitória terem conseguido, ao longo de três governos e cinco ministros da Saúde de cores diferentes, criar uma política alimentar nacional a partir de informação credível. "O último grande inquérito alimentar nacional tinha sido feito em 1980 e estávamos a definir políticas de forma cega. Conseguimos, com o inquérito alimentar nacional que divulgámos em 2016, que quem queira desenhar uma política alimentar o possa fazer com base em evidência científica", enfatizou Pedro Graça. 

Quanto ao que fica por fazer, o nutricionista sublinha a necessidade de "sermos consonantes com o facto de sabermos hoje que a alimentação inadequada é o principal determinante dos anos de vida perdidos pelos portugueses". "A alimentação saudável é o principal determinante da carga de doença dos portugueses e falta que sejamos consonantes com isto em termos de intervenção, recursos e orçamento", explicita, para considerar que "o poder político continua muito concentrado numa lógica curativa e pouco preventiva da doença". Logo, "o grande desafio é o sistema de saúde perceber e assumir que a prevenção da doença faz-se fora do sistema de saúde". 

Quanto à qualidade da alimentação dos portugueses, nomeadamente da que é servida nas cantinas escolares, o nutricionista lembra que "a oferta da qualidade da oferta [alimentar] em muitas casas já é pior do que a qualidade da oferta em muitas escolas". De resto, o sistema alimentar escolar português "tem um conjunto de orientações que estão ao nível do melhor que há na Europa". O que é que falha? "Falha o facto de querermos meter este sistema a funcionar com pouco dinheiro e termos muito pouca tradição de fiscalizar", responde. 

Mas a saída de Pedro Graça não é a única mudança. Noutro dos programas prioritários da DGS, o da Promoção da Actividade Física, sai Pedro Teixeira e entra a psicóloga clínica Marlene Silva. E no Programa para a Área da tuberculose foi nomeada como directora a pediatra do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Maria Isabel Loureiro. 

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