Sete mulheres acusam Ryan Adams de assédio e comportamento abusivo

Entre as acusadoras encontram-se a ex-mulher, Mandy Moore, ou uma jovem baixista então com 15 anos. Em comum, serem músicas ou aspirantes que Adams atraía com o seu estatuto na indústria com promessas de carreira e que se queixam de retaliações quando o rejeitavam.

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Adams na sua actuação no Nos Alive em 2017 Miguel Manso

Ryan Adams, o reputado cantautor americano, nome destacado da alt-country, célebre tanto pelo talento exposto em álbuns como Gold como pela aura de “enfant-terrible que continua a acompanhá-lo aos 44 anos, foi acusado por várias mulheres de assédio sexual e comportamento abusivo e manipulador.

A história é contada pelo New York Times e entre as acusadoras encontram-se antigas companheiras, como sua ex-mulher, Mandy Moore, e a sua ex-noiva, Megan Butterworth, ou uma jovem baixista, menor quando do assédio online relatado. Todas tinham carreira musical ou aspirações a fazê-lo e Ryan Adams, que através do seu advogado negou todas as acusações, inocência reiterada depois nas suas redes sociais, acompanhada de um pedido de desculpas “a quem possa ter magoado, ainda que sem intenção”, terá usado o seu estatuto e poder na indústria musical para as atrair até si com promessas de gravações e digressões. “A música era, para ele, uma forma de controlo”, afirma na reportagem a actriz e cantora Mandy Moore. Um padrão que se repete nas experiências relatadas ao New York Times

Phoebe Bridgers, cantautora que se estreou em álbum em 2017, com Stranger in the Alps, e que se reuniu recentemente a Conor Oberst nos Better Oblivion Community Center, conheceu Ryan Adams em 2014, quando respondeu a um convite para uma sessão nocturna nos seus Pax-Am Studios. Daí resultou outro convite, este para a gravação de um single e, no processo, um romance a que Phoebe poria ponto final perante o comportamento controlador de Adams. “Começou a inundá-la de mensagens, insistindo que provasse onde estava, ou que abandonasse ambientes sociais para ter sexo telefónico, e ameaçando suicidar-se se não recebesse uma resposta imediata”, lê-se no New York Times.

Com o fim da relação, foi retirado o convite para que Phoebe actuasse nas primeiras partes dos concertos de Adams e a prometida edição discográfica foi sendo adiada – três canções conheceram edição em 2015, com o selo Pax-Am. Dois anos depois, Phoebe Bridgers aceitou um renovado convite de Adams para abrir os seus concertos – afirma tê-lo feito, após longas discussões com o seu manager, tendo em conta o comportamento de Adams no passado, pelo impacto positivo que tal podia ter na sua carreira. “Depois, no primeiro dia [da digressão], ele pediu-me que lhe levasse qualquer coisa ao seu quarto de hotel. Subo e encontro-o completamente nu”, conta a cantora. Através do seu advogado, Ryan Adams nega ao New York Times que tal tenha alguma vez acontecido. Nega igualmente o comportamento predatório alegadamente mantido com uma música adolescente que o artigo, para sua protecção, identifica unicamente como Ava.

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Ryan Adams surgiu na cena musical nos anos 1990, com os Whiskeytown, e conta com 16 álbuns a solo na discografia Mario Anzuoni/Reuters

Entre 2013 e 2014, Ryan Adams manteve contacto online com a adolescente. Baixista dotada que tocava com músicos profissionais desde os 12 anos de idade, recebeu as primeiras abordagens de Ryan Adams com entusiasmo. Os milhares de mensagens trocadas entre ambos num período de nove meses e a que o New York Times teve acesso mostram, escreve o jornal, como incentivos e promessas de trabalho conjunto rapidamente foram acompanhadas de mensagens de teor sexual – e de uma chamada vídeo, a única entre ambos, em que Ryan Adams se apresento nu perante Ava, então com 15 anos. Adams questionava-a repetidamente sobre a sua idade e, por vezes, Ava dizia ser mais velha que era na realidade. Adams, que nunca se encontrou pessoalmente com Ava, pedia-lhe que mantivesse a correspondência online em segredo. “Se as pessoas soubessem, diriam que eu sou como o R Kelley [sic]”, escreveu Adams, segundo citado pelo New York Times.

Através do seu advogado, Ryan Adams respondeu às alegações confirmando que mantém “contactos online com muitos fãs e aspirantes a músicos”, mas que não recorda nenhum "que não fosse relacionado com música”. Acrescentou ainda: “se essa mulher era, de facto, uma menor, o sr. Adams desconhecia esse facto”. Ava diz que experiência teve nela efeitos devastadores. Nunca mais deu nenhum concerto desde então e, actualmente com 20 anos, abandonou a ideia de fazer carreira na música.

Após a publicação do artigo, Ryan Adams, que visitou Portugal em 2017, actuando no Nos Alive, e que em Janeiro anunciou a edição de três álbuns em 2019 (o primeiro, Big Colors, está previsto para Abril) escreveu no Twitter: “Não sou um homem perfeito e cometi muitos erros. As minhas desculpas sinceras e incondicionais a todos aqueles que alguma vez tenha magoado, ainda que sem intenção. Mas a imagem que o artigo projecta é imprecisa de uma forma perturbadora. Alguns dos detalhes estão deturpados; outros foram empolados; outros são completamente falsos. Nunca teria uma interacção inapropriada com alguém que achasse ser menor. Ponto final.”.

Mandy Moore, actualmente célebre enquanto actriz na série This is Us (que passa em Portugal na Fox Life), editou o sexto álbum da sua carreira, Amanda Leigh, no ano do seu casamento com Adams, em 2009 (o divórcio foi oficializado em 2016). Foi gravado previamente ao casamento e foi também o último que editou. Moore conta ao New York Times que Ryan Adams a desencorajou de trabalhar com quaisquer outros produtores ou agentes, tomando ele mesmo as rédeas da sua carreira. Porém, as canções que o então casal compunha em conjunto acabavam sempre por ser oferecidas a outras cantoras, enquanto os talentos de Moore eram desvalorizados. “Ele dizia-me constantemente, ‘não és uma música a sério, não sabes tocar nenhum instrumento’”.

Megan Butterworth, noiva de Ryan Adams até à separação de ambos o ano passado, acusa o ex-companheiro de ter para com ela o mesmo padrão de comportamento, isolando-a e tentando controlar a sua vida social e profissional, recorrendo a coacção psicológica e a ameaças físicas que, porém, nunca chegaram a ser concretizadas.

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