Portugal está “estagnado” na investigação clínica com medicamentos experimentais

Hélder Mota-Filipe espera que centros portugueses possam ser envolvidos no desenvolvimento de ensaios com psilocibina, com potencial de utilização em patologias psiquiátricas como a depressão.

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Hélder Mota-Filipe DR

Para Hélder Mota-Filipe, professor associado da Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal está “estagnado” na investigação clínica com medicamentos experimentais, apesar de ter “condições necessárias para se tornar um dos países mais competitivos na Europa”. O ex-presidente do Infarmed espera que centros portugueses possam ser envolvidos no desenvolvimento de ensaios com psilocibina, com potencial de utilização em patologias psiquiátricas como a depressão.

Na sequência do que está a acontecer com a cannabis, qual o caminho que os compostos conhecidos como “psicadélicos” têm de percorrer para que o seu uso para fins medicinais venha um dia a ser possível em Portugal?
Tal como acontece com a cannabis, ou qualquer outro produto que pretenda ser utilizado como medicamento, deve seguir um conjunto de passos que vão desde a investigação laboratorial até aos ensaios em seres humanos (investigação clínica). Estes passos são obrigatórios de acordo com a legislação nacional e europeia. Pretendem caracterizar a qualidade, segurança e eficácia dos produtos e, se a relação benefício/risco for considerada adequada, o produto é aprovado como medicamento e pode ser utilizado nas indicações terapêuticas e condições aprovadas.

Alguns compostos conhecidos como “psicadélicos” apresentam actividade farmacológica e terão de seguir exactamente as etapas referidas para poderem ser classificados como medicamentos.

Que barreiras existem actualmente à investigação clínica em Portugal com novos compostos como estes? O que seria necessário para que esta realidade pudesse evoluir?Portugal compara-se mal com outros países europeus da mesma dimensão, como a Bélgica ou a Holanda, no que respeita à investigação clínica com medicamentos experimentais, os designados ensaios clínicos. O número de ensaios clínicos aprovados para decorrerem no nosso país estagnou nos últimos anos, demonstrando a falta de competitividade relativamente a outros países europeus. No entanto, Portugal apresenta as condições necessárias para se tornar um dos países mais competitivos na Europa: centros de ensaios de elevada qualidade e investigadores clínicos competentes. Neste momento, sou de opinião de que a remoção das barreiras existentes depende apenas de alterações organizacionais que resultem num verdadeiro trabalho em rede e, principalmente, de vontade política efectiva.


Tem conhecimento de investigação em Portugal com estes novos compostos, como o LSD ou a psilocibina?
Desde há décadas que têm vido a ser descritos efeitos farmacológicos com potencial terapêutico de produtos derivados dos chamados cogumelos alucinogénios. A psilocibina é um desses fármacos com potencial de utilização em patologias psiquiátricas como a depressão. Para confirmar este potencial, é necessário que sejam desenvolvidos ensaios clínicos adequados. Espero que centros portugueses possam ser envolvidos no desenvolvimento desses ensaios clínicos.

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