Biológica, fresca e gourmet: já conhece a BioFeira?

É uma loja três-em-um que abriu numa das principais artérias de Santa Maria da Feira. Mercearia, cafetaria e garrafeira, tudo no mesmo espaço. Os frescos e os produtos a granel são as estrelas da casa.

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Adriano Miranda
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Encontramo-la por acaso, num inusual passeio a pé por uma das principais artérias de Santa Maria da Feira. O lettering elegante chamou-nos a atenção, assim como as três palavras que se alinham a seguir ao nome, que dizem logo ao que vêm: BioFeira – Biológico, Fresco e Gourmet. Entramos para matar a curiosidade.

Falta pouco para as 15h de uma quinta-feira e um grupo de mulheres ocupa uma das mesas da cafetaria. À direita de quem entra está a mercearia. Aqui vende-se de tudo: compotas, bolachas, conservas, cacau, cafés, azeites, licores, massas. Há também cosméticos (muitos dos quais com a indicação de que não foram testados em animais) mas o que mais chama a atenção é a quantidade de produtos que se vendem a granel, entre sementes, cereais, frutos secos, chás e condimentos. Há feijão, aveia, quinoa, linhaça, salsa, amêndoas, pistácios… “Temos uma grande variedade a granel e os clientes estão a aderir muito bem”, explica César Tavares, o proprietário, em conjunto com a mulher, Susana Santos, da BioFeira.

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Também há frutas, legumes, hortaliças. Na tarde em que por lá passamos, alguns dos expositores dos frescos já estão meio despidos, mas ainda encontramos alho francês, bananas, batata-doce, gengibre. E ainda um expositor de Sementes Vivas que, há-de explicar César, um dia destes podem muito bem ir parar a um prato sob a forma de um germinado. Mas já lá vamos.

Por agora aceitamos o café biológico que Susana nos oferece e sentamo-nos a ouvir a história da BioFeira. É César quem a conta. Durante vários anos, ele e a mulher seguiram a via empresarial num ramo “completamente distinto” do actual. Venderam entretanto a empresa e compraram um terreno de um hectare e meio ao lado da casa onde vivem, em Souto, Santa Maria da Feira. “Nós já tínhamos uma horta orgânica e esse terreno veio aumentar a nossa capacidade produtiva. Mas começámos a fazer contas aos preços a que os produtos saem do produtor e assim surgiu a ideia de criarmos um ponto de venda.” Fizeram novamente contas à vida e perceberam que “uma mercearia ou uma frutaria biológica” poderia não ser rentável e foram acrescentando valências à loja. Chegaram, então, ao conceito de uma “mercearia - biológica, com frescos e produtos gourmet – com garrafeira e cafetaria”. Um três-em-um que, sublinha César, é inédito na cidade.

A cafetaria é “a chave do negócio”, reconhece o proprietário. “Traz tráfego e ajuda a promover os produtos – e até a reaproveitá-los. Por exemplo, se alguns produtos estão próximos do fim do seu prazo de validade, usamo-los para os pratos que confeccionamos”, explica César, ressaltando que tudo o que servem é feito ali, todos os dias. Entre sopas, saladas, quiches, empadas, tostas e bolos. Diariamente há um menu de almoço, por 5€, que inclui uma sopa, um prato ligeiro (tosta, quiche, salada) e uma bebida do dia, que pode ser um sumo ou uma tisana. No dia em que passamos pela BioFeira a ementa é esta: creme de couve-flor, quiche de vegetais e bolo sem glúten e sem lactose. Mas no capítulo das "lambarices" o grande best-seller da casa é, para já, o pão-de-ló de castanha, vendido a 2,50€ (individual) e a 16€ (tamanho familiar). Para lanches ou pequenos-almoços, a granola com iogurte grego e ameixas biológicas é só uma das propostas. 

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O pão-de-ló de castanha é uma das estrelas da casa

Quanto à garrafeira, César e Susana procuraram incluir rótulos que cubram "todas as regiões do país", mas com a preocupação de oferecer vinhos “de qualidade de produtores que estão mais fora do grande circuito da distribuição". Este foi, aliás, um princípio que norteou a escolha de quase todos os fornecedores da loja. "Há aqui coisas que não se encontram nos hipermercados e até na cidade", nota César, sublinhando ainda que, sempre que possível, a oferta da BioFeira reflecte a produção da região de Entre Douro e Vouga. "Temos aqui sal de Aveiro, conservas da Figueira da Foz… Sempre que pudermos, vamos valorizar a nossa região."

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Susana Santos, proprietária da BioFeira Adriano Miranda

Em breve, a BioFeira terá ainda disponível um espaço onde vai promover workshops diversos – e onde haverá um moinho de mó de pedra que vai permitir aos clientes comprarem os seus cereais e moerem-nos ali, levando para casa farinha feita na hora. “O sabor dos bolos e pães fica completamente diferente”, garante César. Será também aí que estará instalado o germinador, que pretende aproveitar as sementes que estão à venda e com prazo de validade curto. “Poderemos germiná-las e depois servir os rebentos em saladas, para dar só um exemplo.” A curto prazo, a BioFeira pretende também confeccionar o seu próprio pão: para já, vende-o de várias proveniências, biológico e artesanal. E a variedade é imensa: de beterraba, de abóbora, de quinoa, de sementes, com ou sem glúten. 

Só nos falta falar da decoração da BioFeira, que de certa forma conta parte da história dos proprietários. “Infelizmente, os meus pais já morreram e há muitas coisas que aqui estão que vieram de casa deles, e que pertenceram aos meus avós. Esta loja tem pedaços da minha vida”, diz César. Uma leiteira, uma panela, uma máquina de sulfatar e outra de escrever, um malho de cereais, um rádio, uma balança e um belo louceiro fazem parte da sua herança familiar. Já as cadeiras desirmanadas que se ajeitam à volta das mesas modernas de madeira clara vieram de casa dos pais de Susana. “E a bicicleta tipo pasteleira que está no centro da sala pertencia a um cunhado”, diz ainda César, o respigador.

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