"Os faróis do mundo estão virados" para a AMF Shoes

Empresa de Guimarães é a primeira a industrializar tecnologia que encurta o método de produção de calçado. "Os faróis do mundo viraram-se para nós", diz fundador.

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Em Guimarães, há uma empresa que está há 18 meses num projecto tecnológico que promete "revolucionar a forma como se produz calçado". Quem o diz é Domingos Almeida, um dos dois sócios da AMF Shoes, especializada em calçado de segurança e que é um dos casos paradigmáticos de inovação produtiva. "Os faróis do mundo estão virados para nós", insiste o fundador da empresa, Albano Fernandes. E não é exagero: eles são apontados pelos pares como um dos exemplos mais notáveis da transformação que o calçado nacional tem vindo a concretizar nos últimos anos

Fazer um sapato implica cinco processos: corte, costura, montagem, colagem ou injecção e, no final, o acabamento. Mas na AMF Shoes, este caminho está a ser encurtado, graças ao 3D Bonding, uma tecnologia desenvolvida na Universidade de Alicante (Espanha), para três processos (o corte, a injecção e o acabamento). "Quer dizer que se poupa o corte e a montagem, que são provavelmente os processos que exigem mais mão-de-obra", salienta Domingos Almeida. 

As vantagens desta tecnologia são tão evidentes para quem é do meio que, quando Albano Fernandes se cruzou, numa feira, com a empresa que a desenvolveu, agarrou-a com as duas mãos, garantindo o exclusivo mundial para o calçado de segurança.

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Albano Fernandes (esq.) e Domingos Almeida são os dois sócios da AMF Shoes Nelson Garrido

"Actualmente, importamos quase 100% das gáspeas. Mas com esta tecnologia, a produção vai passar a ser toda interna. E acreditamos que vamos ser tão competitivos como o mercado asiático. Isto porque uma tecnologia destas, de topo, há-de ser tão cara aqui como na China. Como a diferença de preços nos componentes não há-de ser muito notória, resta a mão-de-obra. Mas como esta é uma parte tão pequena neste método, a diferença de custo entre fazer aqui ou na Ásia será mínima", explica Domingos Almeida.

Conclusão: a AMF Shoes está a caminho de descobrir uma forma de fazer um sapato "com uma base tecnológica muito grande", segundo um método que garante margens muito maiores, visto que a produção é menos onerosa em recursos e o produto final continua a ser de topo. 

Esta é, em suma, a razão por que o mundo está de olhos postos nesta empresa. "Somos a primeira empresa do mundo a industrializar esta tecnologia", destaca Albano Fernandes, explicando que na AMF Shoes se consegue "unir todas as peças que compõem um sapato com um único shot de injecção, sem costura nem necessidade de montagem". Mas o que faz a diferença é que com o 3D Bonding "os custos com mão-de-obra são pouco importantes". "Vamos produzir onde queremos vender, porque o custo será semelhante em qualquer geografia", conclui Albano Fernandes, apontando que, neste modelo industrial, se poderá poupar ainda nos custos logísticos.

Além da unidade de Guimarães, a empresa tem outra em Vila do Conde, de produção de solas, o que permite "verticalizar toda a produção". O futuro pode passar por outra localização, para erguer o projecto Fab Lab, uma espécie de "parque Autoeuropa" do calçado, onde a AMF Shoes e fornecedores possam estar lado a lado e dessa forma gerar mais sinergias ainda. Sair de Guimarães é uma decisão que não está tomada, mas Albano Fernandes refere que este concelho tem lacunas na oferta de terrenos industriais.

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A empresa está a reinventar o modelo industrial depois de ter mudado a imagem do calçado de segurança, mostrando que este não tem de ser pesado, sem alma e chato Nelson Garrido

A empresa nasceu em 1999 ("um péssimo ano para criar uma empresa de calçado, segundo Albano Fernandes") e na altura fazia "calçado a feitio" para outras marcas (private label na gíria da indústria), com as gáspeas a virem da Índia. A viragem no modelo de negócio surgiu quando o fundador convidou Domingos Almeida, um amigo de infância, a entrar na sociedade. Focaram-se no calçado de segurança e dos 25 trabalhadores que tinham em 2005 passaram para os 150 trabalhadores actuais, com uma facturação anual de 14,5 milhões de euros e contribuir directamente para mais 150 postos de trabalho nas empresas que trabalham com a AMF Shoes.

Pelo caminho, reinventaram toda uma categoria de produto, mostrando que o calçado de segurança não tem de ser previsível, pesado e sem alma. Nos modelos de biqueira reforçada, trocaram o aço por "kevlar" e materiais compósitos que permitiram tornar o calçado mais leve, confortável e resistente às variações de temperatura. E introduziram novos conceitos de design, de cor e de construção, mudando o visual do produto para algo muito semelhante a calçado desportivo, estabelecendo parcerias exclusivas com produtores como a Michelin (para solas) ou a Birkenstock, um produtor alemão conhecido pelo conforto das palmilhas de cortiça ou borracha que se ajustam à anatomia dos pés.

"A revolução é agora" lê-se num dos materiais promocionais que a AMF Shoes pôs a circular. O que, ali, tanto é verdade no modelo industrial como também no design. Prova disso é ter vencido há duas semanas um dos maiores prémios de design do mundo, o iF Award, atribuído na Alemanha desde 1953. Entre 6400 concorrentes de 50 países, e de todos os sectores industriais, um júri com 63 especialistas elegeu um dos produtos desta empresa de Guimarães, que irá receber o galardão em Março.

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