Entre Lisboa e Loures, um cancro urbanístico para resolver à boleia da Jornada Mundial da Juventude

Proximidade ao aeroporto e a três estações de comboio foram argumentos da candidatura lisboeta, mas a localização escolhida para a Jornada Mundial da Juventude tem vários desafios para ultrapassar

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Rui Gaudêncio

Há quase 20 anos que o futuro da zona mais oriental de Lisboa está escrito, mas a letra da lei até hoje ainda não se sentiu no terreno. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2022, pode ser o incentivo que faltava para resolver problemas urbanísticos com décadas, que envolvem um aterro sanitário, solos contaminados, contentores e um rio mal-amado em ambas as margens.

Depois do evento, toda a zona deverá ser reconvertida num enorme espaço verde. “Será um dos grandes legados da JMJ 2022”, sublinha fonte oficial da câmara de Lisboa. O Plano de Pormenor 6 da Expo, aprovado em 1999, quando os terrenos ainda ficavam no concelho de Loures – foram entretanto integrados no de Lisboa –, previa a continuação do Parque Tejo até à beira do Trancão e contemplava também uma pista de atletismo, uma piscina olímpica e edifícios, com um e dois pisos, destinados a equipamentos culturais. Parte destas ambições não poderá ser já realizada, pois num pedaço do terreno existe agora um colégio, o Pedro Arrupe.

Nesse plano estava já desenhada a ponte sobre o Trancão que agora finalmente se fará, unindo os dois concelhos, bem como a extensão do teleférico da Expo. No lado de Loures, os terrenos da Galp estão reservados no Plano Director Municipal para equipamento, mas ainda se está longe de saber exactamente o que vai surgir.

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Antes disso, porém, questões mais prementes se levantam. Na candidatura apresentada ao Vaticano, Lisboa defendeu esta localização com vários argumentos, desde logo a proximidade ao Aeroporto Humberto Delgado, ao futuro aeroporto no Montijo, à linha ferroviária do Norte e as boas acessibilidades rodoviárias. Na câmara de Loures vê-se como essencial que as estações de Sacavém e Bobadela tenham obras, pois são as mais próximas do recinto – a estação do Oriente fica a quatro quilómetros. Para isso será preciso envolver, pelo menos, a Infra-Estruturas de Portugal. “Ainda está tudo numa fase muito preliminar”, diz uma fonte da autarquia de Loures.

Baseado em anteriores JMJ, o recinto lisboeta foi idealizado como uma gota de água que cai e provoca ondas. O palco está ao centro, num sítio em que o terreno é mais elevado, e os fiéis concentram-se à volta dele em círculos. Do palco até ao extremo do recinto vai uma distância de 1,1km.

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A zona principal, onde ficará o palco, vai ser no concelho de Lisboa, onde por baixo existe o aterro sanitário de Beirolas, selado antes da Expo. “O aterro, conforme previsto no seu projecto, está ainda em processo de estabilização, o que não impede a sua adaptação para utilização enquanto espaço público de recreio e lazer, à semelhança de aterros semelhantes noutros locais”, assegura a câmara de Lisboa. E, prevendo-se cerca de um milhão de pessoas na Jornada, o terreno aguenta com tanta gente? “O projecto original de selagem do aterro foi elaborado prevendo o usufruto deste equipamento pelo público como elemento integrado no Parque do Tejo e do Trancão”, responde a autarquia.

Para lá do Trancão, já em Loures, o recinto para assistir às celebrações prolonga-se ao longo do Tejo e, do outro lado do IC2, ficará o campismo para 7000 pessoas e um parque de estacionamento para 3750 carros. Esses terrenos, que pertencem à Galp, precisam de ser descontaminados – mas já ou só depois da JMJ, quando de facto for para construir algo? A câmara de Loures ainda não consegue responder, afirmando uma fonte que o trabalho de preparação da Jornada só agora vai começar a sério.

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O recinto idealizado para a JMJ 2022 prevê a colocação de um palco circular em cima do aterro de Beirolas Câmara Muncipal de Lisboa
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