Ex-comandante distrital assume que accionou do hospital meios de combate ao fogo de Pedrógão

Responsável da Protecção Civil, que estava no hospital a apoiar o filho, mobilizou meios através do telemóvel e não sentiu necessidade de pedir substituição.

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Adriano Miranda

O antigo comandante distrital de Leiria, Sérgio Gomes, admitiu esta quinta-feira durante a instrução do caso de Pedrógão no Tribunal de Leiria que accionou os primeiros meios de combate ao incêndio, que deflagrou a 17 de Junho de 2017, do Hospital de Torres Vedras, onde estava a apoiar o filho que tinha sido operado na véspera. E através do seu telemóvel. Defendeu que não sentiu necessidade de ser substituído, apesar de não ter sequer chegado a ir naquele dia ao comando distrital, porque às 15h já tinha o seu segundo comandante, Mário Cerol, no terreno.

O Ministério Público acusa Sérgio Gomes de não ter mobilizando logo na resposta ao alerta do fogo um segundo helicóptero e de não ter pré-posicionado meios no distrito, apesar da meteorologia ter previsto para aquele dia um índice de risco de incêndio muito elevado para concelhos como Pedrógão Grande. Mas estes dados foram refutados pelo então comandante distrital que garantiu que esses meios não estavam disponíveis.

O mesmo tentaram demonstrar os outros dois responsáveis operacionais pelo combate – Mário Cerol e Augusto Arnaut - este último comandante dos Bombeiros de Pedrógão, que esteve perto de cinco horas à frente das operações de combate, no início do fogo, duas das quais apoiado pelo segundo comandante distrital.

Este foi o relato feito por vários advogados de defesa que estiveram presentes no arranque das diligências de instrução, tendo todos sublinhado a objectividade das perguntas do juiz que conduz esta fase que pretende determinar se os arguidos vão ou não a julgamento. Destacaram igualmente ter ficado demonstrado que o juiz estudou profundamente o processo, sendo muito incisivo nos esclarecimentos que pede.

Só isso permitiu que fossem interrogados durante a primeira sessão, que durou o dia todo, sete dos 12 acusados pelo Ministério Público. Estava prevista a audição de dez, porque dois já tinham pedido para serem ouvidos noutro dia.

Esta sexta-feira será interrogado o responsável pelo Centro de Assistência e Manutenção da Ascendi Pinhal Interior, que tem a subconcessão de estradas do Pinhal Interior, e que, segundo a acusação, não cumpriu a responsabilidade de limpar as bermas da Estrada Nacional 236-1, onde morreram 34 pessoas.

Esta quinta-feira foi ouvido o responsável pela Direcção de Operação e Manutenção da Ascendi Pinhal Interior que admitiu ter alertado a administração e o gabinete jurídico para a existência de legislação que obrigava a limpar a vegetação numa faixa de 10 metros para cada lado das estradas.

No entanto, no entendimento dos seus superiores o que vigorava era a distância prevista nos contratos de subconcessão, que variava entre os três e os cinco metros. O juiz quis saber se a limpeza era feita em função de os planos municipais de defesa da floresta contra incêndios, que planifica as acções e determina zonas prioritárias, estarem ou não em vigor. Mas o director de operações da Ascendi garantiu que essa questão nunca foi colocada, só tendo ouvido falar nesse assunto já no decurso da investigação para apurar responsabilidades criminais na tragédia de Pedrógão Grande, em que morreram mais de 60 pessoas. Este é um dos argumentos apresentados por várias defesas.

Os três autarcas acusados e o presidente da câmara de Pedrógão – que acabou arguido na sequência de um pedido dos familiares de algumas vítimas – ainda não foram ouvidos, mas devem ser chamados a depor. Para 19 de Fevereiro está marcada a audição de um deles, podendo os restantes ser ouvidos no mesmo dia.

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