Urgência pediátrica do Garcia de Orta pode fechar à noite por falta de médicos

A denúncia foi feita pelo bastonário Miguel Guimarães, que diz não existirem “as condições adequadas de segurança clínica” ao nível da urgência de pediatria e que os médicos estão a “assumir uma responsabilidade enorme ao estarem sozinhos no serviço”. No espaço de um ano, saíram nove especialistas para o sector privado.

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Hospital Garcia de Orta JOAO CORTESÃO/ARQUIVO

A urgência pediátrica do hospital Garcia de Orta, em Almada, corre o risco de fechar durante o período nocturno por falta de médicos, estando actualmente a funcionar “em cima da linha vermelha”, denuncia o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. O bastonário pede uma “intervenção urgente” por parte do Ministério da Saúde. 

Também o presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta, Daniel Ferro, reconhece em entrevista à RTP que há falta de pediatras, mas que chegarão nos próximos dias dois especialistas e esperam, em Março, ter mais três médicos. “Mas isto, naturalmente, não resolve o problema”, afirma Daniel Ferro, adiantando que no espaço de um ano saíram nove médicos do serviço de pediatria para o sector privado.

“Há falta de pediatras no país, não tem sido possível formar nos últimos anos aquilo de que o Serviço Nacional de Saúde precisa e isso reflecte-se neste e outros hospitais”, começa por contextualizar Daniel Ferro. “É preciso criar condições”, assevera. 

Ferro acredita que no espaço de um ano deveria ser possível substituir os nove médicos que saíram, mas para já está apenas aberto um concurso para a chegada de mais cinco especialistas (dois agora e três em Março).

Em declarações à agência Lusa, o bastonário dos Médicos indicou que o número de pediatras nos quadros do Garcia de Orta é “insuficiente e compromete a qualidade e segurança” dos serviços prestados às crianças que vão à urgência. Se a falta de meios persistir, o serviço "não conseguirá assegurar urgências e pode ter de encerrar à noite", disse Miguel Guimarães à RTP. 

O bastonário, o presidente da secção regional do Sul e outros elementos da Ordem visitaram em Janeiro o Garcia de Orta e reuniram-se com profissionais e também com a administração. A visita ocorreu depois de a Ordem ter recebido denúncias que apontavam para as dificuldades sentidas na área da pediatria quanto à falta de médicos.

Menos de dois médicos e uma “responsabilidade enorme”

Para o bastonário, Miguel Guimarães, “não existem as condições adequadas de segurança clínica” ao nível da urgência de pediatria e os médicos estão a “assumir uma responsabilidade enorme ao estarem sozinhos no serviço”. 

O bastonário indica que a equipa de pediatria na urgência devia ter pelo menos dois médicos e que nem isso está a ser assegurado. “É uma situação complexa e grave e pode levar a que o Garcia de Orta não consiga assegurar urgência 24 horas e sete dias por semana. Pode ter de encerrar à noite”, indicou.

“Muitas vezes o chefe de equipa é o único pediatra na urgência, o que se torna ainda mais incompreensível dado que os mesmos médicos que asseguram esta urgência, quando estão escalados, dão apoio à unidade de internamento de curta duração e à urgência interna dos doentes da enfermaria de pediatria. Ao fim-de-semana, a mesma equipa dá também apoio ao berçário”, denuncia Miguel Guimarães.

Miguel Guimarães considera que durante a noite a situação é mais complicada, porque durante o dia o serviço de urgência pode contar com ajuda do serviço de pediatria do hospital, caso seja necessária uma intervenção adicional.

“Será mais sensato constituir as equipas tipo com os médicos que existem e haver períodos em que não há urgência pediátrica, sendo as crianças referenciadas para outros hospitais com pediatria”, argumentou.

O bastonário lembra que “quem assume sempre a responsabilidade pelo serviço é o médico” e lamenta que ao longo dos anos “as coisas vão emagrecendo” em termos de recursos e que as pessoas vão aceitando trabalhar em condição que não são adequadas.

“A probabilidade de existir alguma complicação ou erro é maior”, adverte, acrescentando que o Ministério da Saúde não tem resolvido as “deficiências graves” de recursos humanos nos hospitais.

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