Rússia vai desenvolver novos mísseis depois do fim do tratado com os EUA

Dias depois de ter sido rasgado o acordo que limitava a produção de mísseis entre os EUA e a Rússia, a corrida ao armamento parece ter começado.

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Reuters/SPUTNIK

A Rússia quer desenvolver dois sistemas de mísseis de longo alcance nos próximos dois anos, como resposta ao fim da vigência do tratado que regulava o armamento entre Moscovo e Washington desde a Guerra Fria.

A intenção do Governo russo é iniciar a investigação para criar um sistema de lançamento de mísseis terrestres baseado numa versão já existente de um dispositivo marítimo, conhecido como Kalibr. Ao mesmo tempo, revelou esta terça-feira o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, há o objectivo de se desenvolverem mísseis de longo alcance hipersónicos, com capacidade para atingirem uma velocidade cinco vezes superior à do som.

“Para além disso, é importante aumentar o alcance dos sistemas de mísseis terrestres que estão a ser actualmente desenvolvidos”, disse Shoigu, que quer os novos dispositivos prontos até 2021.

O Kremlin admite que os planos se tratam de uma resposta “simétrica” à dos EUA, que também estão a desenvolver investigação para criar um novo sistema de mísseis. “Desde 2 de Fevereiro que os Estados Unidos suspenderam as suas obrigações ao abrigo do tratado INF [sigla inglesa pela qual é conhecido o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio]”, afirmou Shoigu, citado pela agência RIA Novosti.

No fim-de-semana, a Rússia anunciou a sua saída do tratado que impede o fabrico e o teste de mísseis de alcance intermédio (entre 500 e 5500 km), com capacidade de transportarem ogivas nucleares, seguindo o exemplo dos EUA. O tratado INF vigorava desde 1987, quando Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov se comprometeram a destruir o seu arsenal e a não fabricar novos mísseis – a investigação de armamento não foi abrangida pelo tratado.

Ruptura

O tratado foi rasgado oficialmente pelos dois países no fim-de-semana, mas o mal-estar entre Washington e Moscovo por causa do tema já vem de trás. Já em 2014, a Administração de Barack Obama acusava a Rússia de ter testado um míssil cujo alcance violava o tratado e que era capaz de atingir cidades europeias em poucos minutos com uma ogiva nuclear. A Rússia negou sempre que o míssil SSC-8 (designado por Moscovo como Novator 9M729) violava o tratado e no mês passado acabou por fazer uma exibição pública do sistema perante observadores estrangeiros.

Porém, as negociações para salvar o acordo tinham já descarrilado. Na última reunião em Genebra entre responsáveis dos dois países, a 16 de Janeiro, o divórcio foi dado como adquirido por ambas as comitivas, com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a acusar os EUA de apresentarem um “ultimato”.

A Rússia considera que a Administração Trump estava desde o início das negociações empenhada em abandonar o tratado para poder desenvolver mísseis sem condições, sobretudo face à crescente militarização da China.

Na terça-feira, em reacção ao anúncio da Rússia, o embaixador dos EUA para o desarmamento, Robert Wood, afirmou que Washington está disponível para reconsiderar a saída do tratado caso “a Rússia volte ao seu cumprimento total e verificável”.

Com o anúncio do Governo russo, a perspectiva de uma nova corrida ao armamento entre grandes potências parece tornar-se mais real. Em risco pode estar também a vigência de um outro tratado, o New START, assinado em 2010, que limita a produção de armas nucleares e graças ao qual os arsenais nucleares dos dois países estão nos níveis mais baixos desde os anos 1960. O tratado expira em 2021 e há a forte possibilidade de não ser renovado, especialmente se Trump for reeleito.

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