Eduardo Barroso: “Não tenho dúvidas nenhumas de que se Marcelo tiver saúde se vai recandidatar”

Em entrevista ao PÚBLICO, o médico Eduardo Barroso fala sobre a sua amizade com o Presidente da República e confessa que não esperava outro tipo de mandato que não fosse de afectos.

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Daniel Rocha

Conhecem-se há praticamente 70 anos. Eduardo Barroso fala numa entrevista ao PÚBLICO sobre a grande amizade que tem com o Presidente da República. Confessa ter "um orgulho brutal" em Marcelo Rebelo de Sousa e afirma que o país "ensandeceu" se não o eleger para um segundo mandato. O médico-cirurgião deixou o Serviço Nacional de Saúde em Novembro e foi homenageado há dias pelo trabalho que desenvolveu na área do transplante hepático.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é dos seus maiores e mais antigos amigos. Conhecem-se desde os 16 meses de idade, andaram juntos na escola, continuam a ter um convívio próximo. Discutem política os dois?
Discutir nunca, conversar sim. Acha que eu posso perder algumas histórias que ele me conta sobre a vida política e sobre os políticos? Não posso perder porque isso é que é a parte simpática, isso é a vida dele. Depois também lhe conto umas histórias das medicinas e das cirurgias. Tenho um orgulho nele brutal. Agora falar de política? Nem de saúde. Não estou a dizer que não me perguntou se conhecia a nova ministra. Claro que perguntou.

Deu boas referências?
Mal a conheço. Mandei uma mensagem porque estive a ver a entrevista dela na televisão. Dei-lhe os parabéns, foi muito assertiva e directa nas respostas. Não a conheço o suficiente. Sei que está ligada à saúde há muito tempo. Ele ouve a minha opinião, mas não é uma opinião política, é dizer o que sinto. Falamos da vida, das coisas e rimo-nos muito. Ele está muito bem com o que faz. Eu preocupo-me muito com ele.

O Presidente tem sido alvo de algumas críticas, sobretudo quando foi o anúncio de que Portugal era o país escolhido para receber as próximas jornadas da juventude. Faz uma apreciação do trabalho dele?
Não conheço ninguém com uma fé tão coerente, com uma cultura teológica tão importante como a dele e com uma fé tão forte como a dele.

Mas deve um Presidente da República ser tão demonstrativo da importância que a fé tem para si?
Claro. Se eu fosse Presidente da República não deixava de festejar os golos do Sporting com uns saltos. Era o que faltava. Não deixava de falar das minhas dúvidas em relação à vida. Acho que ele tem feito um mandato fenomenal.

Gostava de ver um segundo mandato do professor Marcelo?
Gostava? Tenho a certeza de que vou ver, se Deus lhe der vida e saúde. Se tiver saúde e se se sentir lúcido, Marcelo está para a Presidência como eu estou para a Fundação Champalimaud. Daqui sairei quando a administração me disser que acha que está na altura de eu sair. Mas acho que não vão precisar de me dizer isso, porque eu próprio vou dizer que chegou o meu limite de utilidade.

Acha que temos a noção quando chega o nosso limite de utilidade?
Acho que sim. Como cirurgião tenho obrigação de sentir isso. E ele como político também.

Dá-lhe conselhos médicos?
Eu? Médicos? Não. Essa é outra das coisas independentes. Eu tive que o operar a duas coisas, uma delas foi há pouco tempo. Fiz o diagnóstico por uma capa de uma revista cor-de-rosa, onde vi uma coisa obscena, uma hérnia, a sair do umbigo. Aquilo a que ele foi operado é terceiro mundista. A culpa não é dele. Alguém lhe devia ter dito que a indicação cirúrgica naquela situação é mandatária. Foi o que eu fiz quando soube e o médico dele também, quando viu. Sabe o que me disseram os meus amigos nas reuniões multidisciplinares? Um colaborador meu disse: ‘Senhor professor não tem vergonha que o seu amigo ande a passear uma coisa daquelas?’ Aquilo deixou-me mal, mas ele nunca me tinha dito. Ele tinha aquilo havia seis anos. A partir do momento em que soubemos, enquanto não o operámos não descansámos.

Acredita que o Presidente se vai recandidatar?
Não tenho dúvidas nenhumas de que se Marcelo tiver saúde se vai recandidatar. Isso para mim é óbvio. Já viu como está a sociedade portuguesa? A falta de crispação que existe, a maneira como ele vê as coisas, as causas sociais que ele lidera. Sempre achei que o Marcelo ia fazer este tipo de Presidência, afectiva. Depois, repare na coerência da sua vida. Não tem casa própria, sem grande apego aos valores materiais. Ainda outro dia foi lá a casa para irmos jantar fora. Apareceu ele a guiar, um carro banalíssimo. Sempre foi assim. É uma pessoa desapegada, aquilo é sincero. Se as eleições fossem hoje, não tinha a mínima dúvida de que seria o maior recorde possível, porque ele merece. Ainda falta algum tempo, as coisas podem evoluir. Foi o Almeida Santos que disse do meu tio [Mário Soares] quando foi da eleição com o Freitas do Amaral e eu também digo: o país ensandeceu, independentemente de quem for o candidato ou candidatos que concorrerem, se não reeleger o Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República.

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