João César Monteiro: o cinema escrito

A livraria e editora lisboeta Letra Livre está a editar em cinco volumes a Obra Escrita do cineasta que morreu em 2003. E o produtor Paulo Branco está a organizar um ciclo de cinema dedicado à obra do realizador de Recordações da Casa Amarela que começa a 5 de Fevereiro no Porto e termina a 1 de Março.

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João César Monteiro DANIEL ROCHA/DANIEL ROCHA

No prefácio ao seu livro A Paixão segundo João de Deus (Exclamação, 2018), uma “biografia imaginária” da personagem criada por João César Monteiro, António Cabrita lembrava que o realizador “escrevia como poucos escritores”. A evidência era conhecida de quem quer que tivesse posto os olhos em Morituri Te Salutant (& Etc., 1974), volume no qual o editor Vítor Silva Tavares (1937-2015) coligiu pela primeira vez escritos do cineasta.

A &Etc. publicaria posteriormente mais dois volumes: Le Bassin de John Wayne seguido de As Bodas de Deus (1997) e Uma Semana noutra Cidade: Diário Parisiense (1999). Em 2005, no monumental catálogo que a Cinemateca Portuguesa lhe dedicou, foram também publicados textos do realizador. Finalmente, em 2014, com a publicação do primeiro volume de Obra Escrita (entretanto esgotado), a livraria e editora lisboeta Letra Livre deu início a um projecto editorial ainda em curso e que, não sendo uma edição crítica nem garantindo ser exaustiva, tornar-se-á, certamente, o maior repositório disponível dos textos de João César Monteiro. O segundo volume foi publicado em 2015 e o terceiro em 2017. O quarto volume deverá sair no corrente ano, ficando ainda por editar o quinto e último volume da série prevista.

“A ideia de editar a obra toda de João César Monteiro foi nossa, porque gostávamos do realizador e gostávamos também dos textos que conhecíamos dele, e dos guiões”, diz Eduardo Sousa, um dos responsáveis, com Carlos Bernardo, pela edição. Os volumes já editados foram ainda preparados por Vítor Silva Tavares, que, além de já ter editado os volumes da & Etc., fora “alguém muito próximo de César Monteiro”.

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Daniel Rocha

Depois da morte daquele editor, “tem sido a Margarida Gil [realizadora que foi casada com César Monteiro] que nos tem apoiado na preparação dos originais”, disse-nos Eduardo Sousa: “Acontece os guiões e toda a documentação dos filmes terem várias versões, o que envolve um trabalho de pesquisa e de análise que só quem esteve próximo dele pode fazer.” No conjunto dos cinco volumes, caberão todos os guiões cinematográficos escritos pelo realizador e muitos outros textos dispersos da mais variada índole: críticas, cartas, entrevistas, diatribes, etc. 

Viva João César Monteiro é o título do ciclo que o produtor Paulo Branco está a organizar com os filmes do realizador e cujo arranque está marcado para 5 de Fevereiro, no Rivoli - Teatro Municipal do Porto, com a exibição de Recordações da Casa Amarela (1989) e Vai e vem (2003). No dia 6, no teatro do Campo Alegre, serão mostradas curtas do realizador e haverá leitura de poemas dele por Isaque Ferreira.​

Até 1 de Março, o ciclo seguirá em itinerância por outras salas: Theatro Circo de Braga (dias 11 e 17), Cinema Monumental em Lisboa (entre os dias 17 e 20), Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra (dia 18), e Auditório Charlot, em Setúbal (a partir de 21 de Fevereiro).

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