Em 2017 as exportações do Norte já davam sinais de abrandamento

Relatório Norte Estrutura mostra que o desempenho internacional da economia regional deteriorou-se, mantendo, contudo uma trajectória de crescimento

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O sector têxtil e vestuário representam mais de 18% das exportações regionais Marco Duarte

Os dados estatísticos dos últimos anos dão conta de que o sector exportador da Região Norte já estava, em 2017, a sofrer com o abrandamento da economia dos seus principais mercados. Segundo o Relatório Norte Estrututura, publicado pela Comissão de Coordenação da Região Norte, “em 2017, o crescimento do valor das exportações de bens do Norte foi inferior ao observado para o total das exportações de bens nacionais, ao contrário do que sucedera nos três anos anteriores”.

Segundo esta análise da CCDRN, “em 2017 ter-se-á assistido a uma ligeira deterioração dos termos de troca da Região do Norte no comércio internacional de bens (o que não sucedera nos cinco anos anteriores). O valor das exportações do Norte não cresceu mais do que o total do comércio mundial, sugerindo que em 2017 o factor determinante para o crescimento das exportações do Norte foi o efeito procura mundial e não um qualquer ganho de competitividade regional, contrariamente ao observado em anos recentes”.

Outro dado preocupante é que 2017 “foi também o quinto ano consecutivo no qual o comércio internacional do Norte ficou marcado por um crescimento nominal mais acentuado das importações do que das exportações”, escreve a CCDRN a partir da análise dos dados do INE, deixando, por isso, um alerta: “Este conjunto de circunstâncias deixa antever que a actividade exportadora do Norte possa vir a passar por dificuldades em 2018 (como aliás os resultados preliminares avançados nos relatórios trimestrais de conjuntura elaborados pela CCDRN já assinalam) e, porventura, mesmo em 2019, tendo em conta a envolvente externa, marcada pela deterioração da economia e do comércio mundial (devido a conflitos comerciais entre grandes potências, particularmente os EUA e a China) e pela eminência do Brexit, aprazado para 29 de Março de 2019.

A conjuntura internacional é relevante para uma economia aberta, como a regional. “Em contexto de fraco crescimento do comércio mundial será mais difícil alcançar os ganhos de competitividade de que a economia da Região Norte tanto necessita”, explica a comissão, num relatório em que se percebe que a importância relativa da Região do Norte face ao total das exportações e das importações portuguesas diminuiu ligeiramente em 2017, depois de ter alcançado máximos históricos em 2016.

As empresas com sede no Norte foram, em 2017, responsáveis por cerca de 40,2% do valor total das exportações portuguesas de bens e por cerca de 23,8% do valor total das importações. Mais de metade das exportações saídas desta região em 2017 foram explicadas pelos três principais grupos de produtos, nomeadamente: os têxteis e vestuário com 18,7% do total; os produtos da fileira automóvel com 17,4%; e as máquinas e aparelhos e material eléctrico, com 14,1%.

Segundo a CCDRN, surgem a seguir três outros grupos de produtos representando, cada um deles, entre 8,9% e 8,5% do total das exportações do Norte em 2017: os produtos da fileira florestal; o calçado e couro; e os metais comuns. Se a esta lista acrescentarmos ainda os plásticos (4,1% do total em 2017), fica identificada a natureza de um pouco mais de quatro quintos das exportações de bens por empresas da Região do Norte em 2017”, lê-se no relatório que pode ser consultado no site da CCRN.

Este documento dá-nos também uma hierarquia dos municípios mais exportadores da Região do Norte, na qual Vila Nova de Famalicão manteve o 1º lugar, com as empresas aí sediadas a assegurarem 9,0% do total das exportações de bens por empresas do Norte em 2017 (depois de 2016 terem assegurado 9,5% do total). Ao nível nacional, Vila Nova de Famalicão manteve o terceiro lugar enquanto município-sede de empresas mais exportadoras, numa lista que é liderada por Lisboa e na qual Palmela surge em segundo lugar, seguida por Vila Nova de Famalicão, e com Setúbal a ocupar, em 2017, a quarta posição, explica a CCDRN.

Nas posições imediatas, segundo o Norte Estrutura, encontramos cinco municípios da Região do Norte, surgindo depois Sintra a fechar a lista dos 10 municípios portugueses mais exportadores em 2017. A Maia e Vila Nova de Gaia continuaram a ser o segundo e terceiro municípios mais exportadores do Norte, com 7,2% e 6,9%, respectivamente, do total regional em 2017. Braga foi o município que mais reforçou o seu peso relativo na estrutura exportadora do Norte entre 2016 e 2017, passando de 5,4% para 6,8% do total e desse modo deixando de ser o sexto para passar a ser o quarto município mais exportador do Norte, ultrapassando Guimarães (relegado para o quinto lugar com 6,3% do total em 2017) e Santa Maria da Feira (na sexta posição, com 6,1% do total).

Sem surpresa, a Espanha continuou a ser o principal parceiro da Região do Norte no comércio internacional, mesmo que, nota este relatório, o seu peso relativo tenha diminuído ligeiramente entre 2016 e 2017, quer enquanto cliente, quer como fornecedor. “O comércio intracomunitário absorve regularmente a maior parte do comércio internacional da Região do Norte. Em 2017, os estados-membros da União Europeia foram o destino de 80,1% das exportações de bens da Região do Norte (proporção que compara com 81,2% em 2016). Em sentido contrário, 81,2% das importações foram, em 2017, provenientes da União Europeia (compara com 83,0% em 2016).

De assinalar que mais de metade das exportações de bens por empresas do Norte destinam-se a apenas três países: Espanha (representando 25,8% do total em 2017), França (16,2%) e Alemanha (11,4%). E basta que a economia destes países abrande, como já está a acontecer, para que os efeitos disso se façam notar nos resultados da região.

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