Greve: todas as cirurgias oncológicas deviam ser abrangidas pelos serviços mínimos, diz coordenador nacional

Já o representante dos administradores hospitalares afirma que a greve dos enfermeiros "profundamente injusta para com os doentes".

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nuno ferreira santos

O coordenador do Programa Nacional para Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, defendeu nesta quinta-feira que as cirurgias oncológicas devem ser todas abrangidas pelos serviços mínimos da greve dos enfermeiros, advertindo que o seu adiamento pode comprometer o tratamento do doente.

"Tenho muita dificuldade em perceber que se faça greve a cirurgias oncológicas, porque se a quimioterapia faz parte dos serviços mínimos e não se atrasam a quimioterapia e a radioterapia, acho que a cirurgia, até pela importância que tem na oncologia como primeira arma e arma mais eficaz na maioria dos casos, devia ser abrangida também pelos serviços mínimos", disse Nuno Miranda em entrevista à agência Lusa.

A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de sete hospitais públicos arrancou nesta quinta-feira, estendendo-se até ao final de Fevereiro, tendo sido convocada pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).

A greve prevê abranger sete centros hospitalares: São João e Centro Hospitalar do Porto, Centro de Entre Douro e Vouga, Gaia/Espinho, Tondela/Viseu, Braga e Garcia de Orta.

O médico oncologista sublinhou que é preciso pensar quais são as "maneiras mais adequadas" e "sem comprometer o direito dos trabalhadores" para minimizar o impacto da greve dos enfermeiros às cirurgias programadas, cujos serviço mínimos apenas abrangem as operações oncológicas mais prioritárias.

"Independentemente da muita razão que assiste aos enfermeiros nas suas reivindicações, não estou minimamente a pôr isso em causa, a cirurgia oncológica tem que ser repensada porque senão podemos estar a comprometer o tratamento logo desde o início porque vai atrasar tratamentos que podiam ser mais eficazes", defendeu Nuno Miranda.

Por isso, sustentou, é preciso pensar-se "quais são as maneiras mais adequadas, e sem comprometer os direitos dos trabalhadores, que têm de ser respeitados", para que a greve tenha "um menor impacto em situações de crise como são as de doença oncológica".

Uma fonte do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) explicou à Lusa que estão abrangidos pelos serviços mínimos as cirurgias oncológicas com prioridade três e quatro.

Em relação à primeira greve cirúrgica, que durou mais de um mês, Nuno Miranda disse que houve cirurgias oncológicas adiadas, sublinhando que actualmente está em curso "um programa para recuperação dos atrasos sem compromisso das cirurgias já agendadas".

"Não é apenas empurrar tudo para a frente para encaixar esses doentes, é um programa verdadeiramente de recuperação e que neste momento está a ter sucesso e se espera ultrapassar o aumento de necessidades", sublinhou.

Segundo dados avançados pela ministra da Saúde, Marta Temido, a greve levou ao adiamento de mais de 7500 operações, das quais 45% já foram, entretanto, realizadas.

"Profundamente injusta para com os doentes

No final da semana passada o Sindepor lançou um novo pré-aviso para alargar a greve a mais três centros hospitalares entre 8 e 28 de Fevereiro: Centro Hospitalar de Coimbra, Centro Hospitalar Lisboa Norte e Centro Hospitalar de Setúbal.

Segundo os presidentes da ASPE e do Sindepor, os principais pontos que separam Governo e sindicatos são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.

Os administradores hospitalares classificam esta greve como "profundamente injusta para com os doentes" e voltam a apelar ao Ministério da Saúde que divulgue diariamente o número de doentes graves com cirurgias adiadas.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, manifestou "enorme preocupação" com a segunda greve dos enfermeiros às cirurgias programadas, que hoje arrancou e se estende até ao último dia de Fevereiro.

Alexandre Lourenço afirma que ma primeira greve "ficou claro que houve efeitos sobre a saúde individual dos doentes" e estima que algumas pessoas que viram a sua cirurgia adiada aquando da primeira greve possam voltar a ser afectados nesta segunda paralisação, até porque há hospitais onde a greve se repete.

"A grande questão é que a greve tem efeito sobre doentes que não têm alternativas. Não têm seguro ou subsistema e não podem recorrer a privados. É uma greve profundamente injusta para com os doentes", afirmou o representante dos administradores hospitalares.

Apesar de haver serviços mínimos decretados, o administrador hospitalar considera que são insuficientes, tal como já tinha admitido, por exemplo, a Ordem dos Médicos.

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