Facebook perde autorização da Apple para distribuir aplicações dentro da empresa

A criadora do iPhone alega que o Facebook violou regras de privacidade. Decisão não afecta os utilizadores.

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A decisão não afecta o acesso dos utilizadores a aplicações do Facebook KAREN BLEIER/Reuters

A Apple retirou ao Facebook a autorização para distribuir aplicações de iPhone pelos seus funcionários, numa sanção pelo facto de a rede social ter violado regras de privacidade.

Isto quer dizer que o Facebook não pode usar um serviço empresarial da Apple chamado Developer Enterprise Program, que permite distribuir internamente numa empresa versões de teste das aplicações (por exemplo, futuras actualizações do Instagram), bem como aplicações internas para os trabalhadores (como agendas online para reuniões).

A decisão não afecta o acesso dos utilizadores de iOS (o sistema que equipa os iPhones e os iPads) a versões actuais de aplicações do Facebook, como o Instagram, WhatsApp e Messenger. Mas pode atrasar algumas actualizações da rede social.

A Facebook Research App, que é uma aplicação em que a rede social pedia o acesso à actividade dos utilizadores no telemóvel a troco de dinheiro, está no centro do problema. Esta semana, o Facebook admitiu ter recrutado utilizadores para instalar aquela aplicação, através de programas para testar aplicações, como parte de um estudo sobre redes sociais que começou em 2016. 

Apesar de o Facebook admitir a existência daquela aplicação, a rede social frisa que nunca foi um segredo. “Não era ‘espiar’, visto que as pessoas que participavam passavam por um processo em que davam a sua autorização”, disse ao PÚBLICO.

A aplicação funcionava de forma semelhante à Onavo, uma aplicação que o Facebook comprou a uma empresa de consultoria israelita em 2013. A aplicação conta, controla e diminui a utilização de dados móveis. Foi banida da loja de aplicações da Apple em Agosto de 2018 por preocupações de privacidade (continua disponível para Android).

Para evitar o mesmo problema com a Facebook Research App (por vezes, designada Project Atlas para evitar a associação com a rede social), o Facebook distribuía a aplicação através de serviços que servem para testar aplicações que ainda não estão no mercado.

Desde que a informação se tornou pública, o Facebook já descontinuou os testes em aparelhos com iOS. Mas a Apple viu a estratégia como uma violação da sua política de privacidade.

O PÚBLICO tentou contactar a Apple para mais informações, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo.

O director executivo da Apple é um dos grandes críticos de Mark Zuckerberg. Em Abril, depois do romper do escândalo com a Cambridge Analytica (em que dados pessoais de utilizadores do Facebook foram indevidamente utilizados para informar campanhas políticas), Tim Cook disse que nunca estaria na mesma situação que o Facebook.

Aos olhos do líder da Apple, a rede social foi a maior culpada. “Podíamos fazer toneladas de dinheiro se 'monetizássemos' os nossos clientes, se os clientes fossem os nossos produtos", disse Tim Cook sobre a estratégia da Apple. "Não vamos traficar a vida pessoal das pessoas.” 

A decisão recente da empresa de revocar o acesso do Facebook à sua aplicação de testes reforça a posição da fabricante de iPhones quanto à privacidade. Em declarações à imprensa, a equipa do Facebook diz que "está a trabalhar com a Apple para resolver o problema".

Por ora, não se sabe o tipo de informação específica que a rede social procurava com a aplicação. Em resposta a questões do PÚBLICO, a rede social disse que não havia mais informações disponíveis sobre o tema.

Editado 16h30: Acrescentada a resposta do Facebook. 

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