Ministro insiste no fim do diesel: era “avisado fazer este aviso”

Matos Fernandes responde às críticas, repetindo a mensagem sobre os carros a gasóleo. E desta vez apoiou-se numa lista de fontes internacionais.

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Gustav Dejert/Getty Images

Após dois dias sujeito a críticas, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, meteu-se num carro eléctrico, foi de Lisboa à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e desde lá respondeu a quem o criticou, repetindo a mensagem que fez reagir as associações do sector automóvel – a de que daqui a quatro anos um carro com motor diesel terá perdido o valor de troca

Aquilo que eu quis dizer não foi contrariado por ninguém. O que eu disse foi que, muito provavelmente, daqui a quatro ou cinco anos, quem tiver um carro diesel vai ter um valor mais baixo na sua troca. Ninguém contrariou esta afirmação”", sustentou o governante, segundo declarações difundidas pela TSF.

Dizendo que lhe pareceu “avisado fazer este aviso”, Matos Fernandes insistiu na defesa da declaração que tinha feito numa entrevista dada ao Jornal de Negócios, apresentando outras opiniões que, no entender do ministro, vão ao encontro do que ele próprio defende nesta matéria.

“Temos todos os estudos que estão no PNEC [Plano Nacional Energia-Clima 2030] e no Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Temos o facto de um ano antes de o ministro dizer isto em Portugal a venda de carros diesel se ter reduzido em 10%. Tenho as palavras do presidente do Automóvel Clube da Holanda que, no ano passado, disse que era obrigação dele avisar os associados de que o valor de retoma de carros diesel iria baixar. Tenho as palavras da senhora comissária [europeia] da Indústria [Elzbieta Bienkowska] que, há menos de um ano, disse que o diesel é uma tecnologia a descontinuar. Tenho as palavras da Volvo, que diz que 2019 será o último ano em que fabricará carros diesel. Tenho as palavras da Volkswagen, que a partir de 2026 não fará mais veículos com motor de combustão. Tenho as palavras do presidente da Renault, em que os clientes lhe perguntam o que é que daqui a três anos vão fazer com o carro diesel”, enumerou Matos Fernandes.

Em Portugal, também haverá quem concorde com ele, mas as reacções do sector automóvel foram de condenação geral. Desde que a polémica frase foi publicada, na segunda-feira, praticamente todas as associações vieram a público lamentar a afirmação, acusando o ministro de “leviandade”, “ligeireza”, “impreparação”, “alarmismo” e até “disparate”.

As direcções do Automóvel Club de Portugal, que representa 252 mil associados, da Associação Automóvel de Portugal, que representa os produtores, da Associação dos Concessionários da Renault (que reúne meia centena de postos de venda da marca líder de mercado em Portugal), da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis e da Associação das Empresas de Renting, Factoring e Leasing refutaram a afirmação de Matos Fernandes, contestando o facto de o ministro ter posto um prazo (“quatro a cinco anos”). E acusaram-no de, desta forma, ter condicionado o mercado ao criar dúvidas no consumidor.

Para todos eles, este processo será mais gradual do que a ideia subjacente às palavras de Matos Fernandes. Até porque a indústria ainda está a produzir motores diesel mais limpos e ambientalmente mais eficientes, como alega o presidente do ACP, instituição cujo call center não teve mãos a medir para atender consumidores com veículos a diesel com dúvidas, segundo disse Carlos Barbosa ao PÚBLICO. 

O ministro esteve esta quarta-feira à tarde em Coimbra para apresentar o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, tendo-se deslocado em carro eléctrico. “É possível fazer esta viagem, os carros eléctricos têm cada vez mais autonomia”, comentou, a propósito dessa opção. Matos Fernandes insistiu na ideia que a mobilidade eléctrica está em evolução, lembrando viagens que fez em carro eléctrico desde a capital até Vila Real, sem problema. ”

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