Davos arranca sem estrelas e num ambiente cada vez mais frio

Donald Trump, Theresa May e Emmanuel Macron ficam em casa a tratar de crises políticas internas, num momento em que as previsões internacionais assumem um tom mais pessimista do que no ano passado.

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A cimeira decorre entre terça e sexta-feira LUSA/LAURENT GILLIERON

Há quase meio século que os principais líderes mundiais, magnatas de várias áreas, cientistas e académicos dão um salto a Davos (Suíça), todos os anos, para discutirem de que forma podem contribuir para o ambicioso objectivo do Fórum Económico Mundial: fazer um mundo melhor. Mas este ano, dos Estados Unidos a França, passando pelo Reino Unido, alguns desses líderes vão ficar em casa a resolver assuntos que consideram ser mais urgentes do que o futuro da globalização, o combate às alterações climáticas ou a inteligência artificial.

No ano passado, a cimeira de Davos ficou marcada pela presença do Presidente norte-americano, Donald Trump, cujos passos e palavras foram acompanhados como se se tratasse de uma estrela de rock. Por essa altura, apesar das tensões políticas, ainda não faltava quem olhasse para o presente e para o futuro com optimismo.

"Acho que o contexto actual é excepcionalmente favorável", disse o presidente executivo do Credit Suisse, Tidjane Thiam, no primeiro dia da cimeira em 2018. "Temos um crescimento síncrono, com os Estados Unidos, a China e a Europa a andarem bem."

Um ano depois, o vice-director do FMI, David Lipton, faz uma avaliação muito diferente: "Não há nenhuma garantia de que as actuais defesas financeiras serão suficientes para evitar que uma recessão se transforme numa nova grande crise sistémica", disse o responsável na semana passada.

Em 2018, Trump aproveitou a cimeira que mais representa a globalização para reafirmar que a sua América está em primeiro lugar.

"O mundo está a testemunhar o ressurgimento de uma América forte e próspera", disse o Presidente norte-americano no ano passado, num discurso que foi também uma espécie de apresentação de vendas: "Voltámos a ser competitivos e a América está aberta para fazer negócios."

Um ano depois, a América forte e próspera mergulhou mais fundo na crise política que tem paralisado o diálogo entre o Congresso e a Casa Branca, com 25% das agências e departamentos públicos parcialmente encerrados, e Trump decidiu ficar em Washington.

Mas a ausência norte-americana não se fica apenas pelo Presidente – na sexta-feira passada, a Casa Branca anunciou o cancelamento da viagem de toda a comitiva política, que era liderada pelo secretário do Tesouro, Steve Mnuchin.

"Brexit" e Coletes Amarelos

Se nos Estados Unidos foi a discussão interna sobre a possível construção de um muro na fronteira com o México que afastou o Presidente de Davos, no Reino Unido o obstáculo é ainda maior e chama-se "Brexit".

Depois de a proposta de acordo entre o Governo britânico e a União Europeia ter sofrido uma derrota histórica no Parlamento, na semana passada, Theresa May não encontrou tempo na agenda para passar pela neve de Davos. Ainda assim, o Reino Unido não foi tão radical como os Estados Unidos: se nada de ainda mais dramático se passar na saga do "Brexit", Londres enviará uma comitiva liderada pelo responsável da economia e finanças, Philip Hammond.

Outro dos principais líderes políticos que decidiram manter-se longe de Davos este ano foi o Presidente francês, Emmanuel Macron. Uma ausência explicada pela necessidade de ficar no país a tratar do debate nacional provocado pelo movimento dos Coletes Amarelos, cujos protestos chegaram no sábado ao 10.º fim-de-semana consecutivo.

De fora da lista de participantes estão também figuras como o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, o chefe de Governo indiano, Narendra Modi, e o Presidente da Argentina, Mauricio Macri.

No meio de tantos lugares vazios, as atenções viram-se para o recém-eleito Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que vai a Davos apresentar a sua "agenda liberalizante para a economia, tratando de privatizações e reforma da Previdência", segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Bolsonaro é o primeiro chefe de Estado a discursar em Davos, esta terça-feira, e leva na bagagem uma agenda extensa e uma comitiva de peso.

Ao contrário das habituais 48 horas que os líderes políticos dispensam ao fórum mundial, o Presidente brasileiro vai ficar na cidade suíça durante os quatro dias, de terça a sexta-feira, depois de ter chegado na segunda-feira a Zurique. Com ele viajaram três ministros, dois conselheiros e o seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal.

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