Banksy sobressalta uma cidade no País de Gales (e suspeita-se que esteve em Tóquio)

Um graffito numa garagem de Port Talbot chamou dezenas de milhar à cidade. Foi vendida por uma quantia que terá atingido centenas de milhares de libras. Em Tóquio, o município procura confirmar a autoria de uma pintura na estação de Hinode.

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Terão passado 20 mil pessoas pela garagem de Ian Lewis desde que a obra foi ali criada, a poucos dias do último Natal Reuters/Rebecca Naden

Ian Lewis não é um negociante de arte, trabalha o aço para ganhar a vida, mas foi num marchand que se transformou desde que, neste último período natalício, identificaram um graffito na sua modesta garagem de tijolo como sendo de Banksy. Desde a descoberta, terão passado pela garagem em Port Talbot, no País de Gales, cerca de 20 mil pessoas, obrigando Lewis a tomar medidas para proteger a obra e a dores de cabeça a que não estava habituado. Talvez por isso, agora que termina a sua curta carreira de negociante de arte com a venda da obra a um coleccionador inglês, John Bandler, por um valor não revelado mas que atingirá centenas de milhares de libras, Lewis exclame: “Estou contente por tê-la vendido — para ser honesto, estava farto. Tem sido uma tensão.”

O graffito divide-se por duas das paredes da garagem. Numa delas, vê-se uma criança de braços abertos a abrir a boca para saborear o que parecem ser flocos de neve. A outra parede revela que não são flocos de neve que caem sobre ela, mas cinzas. Intitulada Season’s Greetings (Boas Festas), surgiu na garagem a poucos dias do Natal e suscitou uma verdadeira corrida entre curiosos e admiradores do mais célebre criador de arte urbana da actualidade, cuja identidade se mantém até hoje desconhecida. A autoria foi confirmada pelo artista através da publicação de um vídeo na sua conta de Instagram.

Ian Lewis foi rapidamente obrigado a tomar medidas, perante os milhares que foram surgindo às portas da sua garagem – uma companhia de ópera local e o actor galês Michael Sheen, que frequentou a universidade de Port Talbot, financiaram a segurança no local e a plastificação do graffiti. As propostas para aquisição de Season’s Greetings não tardaram a surgir, mas Lewis não escolheu a maior oferta. John Bandler manterá a obra em Port Talbot pelo menos no próximo par de anos — diz o Guardian que ficará em exposição num centro comercial da cidade — e isso, para o operário, foi decisivo. “A cidade apaixonou-se por ela, toda a gente a adora e seria uma pena que a levassem daqui”, declarou ao jornal inglês o homem que, com o dinheiro da venda, planeia pagar algumas férias e construir uma nova garagem no lugar da que lhe deu inesperada fama.

Entretanto, do outro lado do mundo, também se fala de Banksy. A imagem de um rato a segurar um chapéu-de-chuva, célebre na iconografia do artista, chamou a atenção das autoridades municipais de Tóquio. O pequeno graffito ocupa o canto inferior esquerdo de uma porta instalada para prevenir inundações na estação ferroviária de Hinode. “Há uma pintura de um rato fofinho em Tóquio que pode ser um trabalho de Banksy! Uma prenda para Tóquio?”, perguntava esta quinta-feira a governadora da cidade, Yuriko Koike, na sua conta de Twitter.

A porta foi removida e transportada para um armazém, de forma a proteger uma intervenção que, tendo em conta imagens publicadas nas redes sociais, já terá alguns anos, mas que só em Dezembro chamou a atenção das autoridades, que tentam agora confirmar a sua autoria.

Banksy a criar um sobressalto na vida de um operário no País de Gales, Banksy a obrigar autoridades municipais a remover portas de estações ferroviárias em Tóquio. Deve ser a isto que se chama um artista global.

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